Eu não mereço ser estuprada
Atualizado dia 06/04/2014 22:42:03 em Corpo e Mentepor Andrea Pavlo
Não gostaria nem ter que falar sobre isso. Acho que seria desnecessário, mas ainda não é. Há alguns meses, vi a campanha de duas moças que protestavam contra as “cantadas de rua” masculinas ou aquele “direito” que eles acham que têm de te chamar de gostosa (ou coisas bem piores) nas ruas. Geralmente fazem isso com mulheres bem jovens, independente do corpo, mas que possivelmente não saibam se defender e estão sozinhas. Dificilmente, um homem mexe com uma mulher acompanhada, mesmo que seja de outra mulher. Interessante, não é?
Eu percebo muito os motociclistas fazendo isso. Sim porque, se a mulher encrencar, é fácil sair correndo no meio dos carros. Mas o mais “interessante” é que eles realmente acham que tem o direito de fazer isso. Que é legal chamar uma mulher de qualquer coisa, só porque ela esta, pasmem, andando na rua.
Daí para que mais de 60% dos entrevistados achem que uma mulher pode (ou até mesmo quer) ser estuprada por andar assim ou assado, é um passo. O problema é simples: um machismo arraigado que não passa com nada! É incrível! O pior: as mulheres são mais machistas do que muitos homens e criam os homens do futuro com essa cabeça.
Mulher, para um homem, tem que ser pelo menos: linda, gostosa, peitos grandes, inteligente, independente, boa de cama, e mais um sem número de atributos. Isso para “merecer” estar a seu lado numa cama de motel ou num barzinho com os amigos (para quem eles realmente acham que devem satisfações). Para a mulher um homem tem que ser: um homem.
É só ver o incrível caso do “Maníaco do Parque”. O psicopata, devidamente condenado por matar várias mulheres com requintes de crueldade no Parque do Estado, em São Paulo, virou evangélico. Como se realmente a religião tivesse alguma coisa a ver com uma doença psiquiátrica sem cura como a psicopatia. Depois de ser convertido, arrumou uma esposa. Sim, um homem que matou (e que mataria de novo, se estivesse solto, porque ele não tem controle sobre a suas ações) mulheres, foi procurado por uma dúzia de mulheres que queriam se casar com ele. Ou se casar com um homem. Qualquer um que fosse. Até imagino elas pensando “ah, ele matou um monte de mulheres, então não deve ter muita concorrência, vou lá xavecar e ver se ela cai na minha”. Olha isso. Parece que se uma mulher não é boa o suficiente para ter um homem, ela não é nada.
E é essa cabeça que cria os homens. Que crescem se achando os seres mais importantes do planeta. Que acham que podem tudo. Que acham que as mulheres os pertencem e que ele pode “escolher” a vontade. O pegador. “Homem que tem experimentar mesmo”. “Coitado, vai casar”. “Se enforcou”, etc, etc, etc.
Então, não é uma coisa que gera os resultados desta pesquisa. São várias coisas. É a maneira peculiar e cruel do brasileiro pensar como um todo. É uma cultura que denigre a mulher e a qual as próprias mulheres se submetes. Uma cultura que gera milhões em cirurgias plásticas desnecessárias, horas de ginástica, e faz do Brasil o país que mais vende cosméticos no mundo. Uma cultura que tem “dançarinas do Faustão” no horário nobre do domingo e big sister peladas. Uma cultura em que chamar uma mulher de gostosa na rua é elogio! Fique feliz! O cara te achou gostosa. E vai lá pedir satisfações para ver do que eles te chamam..vai ser bem pior!
Nada contra a vaidade feminina ou masculina. Eu adoro moda e cosméticos e vou continuar a cuidar de mim com todo o carinho do mundo. E não vamos generalizar porque ainda 38% das pessoas entrevistas não acham que a roupa limita uma mulher a um rótulo de vagabunda e “estuprável”. Então vamos nos apegar aos outros 38% para começar a pensar em mudar a cabeça da maioria.
Enquanto não mudar a cultura, enquanto a generalização for explícita, enquanto todo mundo ficar dando desculpas por ser isso ou aquilo, isso vai continuar. A mulher não precisa se desculpar por ser mulher, por andar com a roupa que quer, porque tem esse ou aquele peso, não precisa mais disso. Ela pode ser quem ela é, o que ela é, e pode querer melhorar a sua imagem se ela quiser e como ela entender que é melhorar. O resto é só machismo. Um machismo que, chega né, tem que acabar!!!
Texto revisado
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Psicoterapeuta, taróloga e numeróloga, comecei minhas explorações sobre espiritualidade e autoconhecimento aos 11 anos. Estudei psicologia, publicidade, artes, coaching e várias outras áreas que passam pelo desenvolvimento humano, usando várias técnicas para ajudar as mulheres a se amarem e alcançarem uma vida de deusa. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Corpo e Mente clicando aqui. |