Festividades de final de ano - alegria x luto
Autor Marcelo Hindi
Assunto Corpo e MenteAtualizado em 19/12/2011 16:27:18
As perdas e os ganhos do reconhecimento do direito de sentir
E estamos em dezembro! Período de festividades; de ruas e casas enfeitadas, vitrines coloridas e criativas, confraternizações, reencontros, presentes. Um período de grande satisfação para muitos. Não ignoremos, contudo, que para tantos outros as festividades e o momento, podem significar desamparo, desânimo, lembranças tristes de perdas, de luto. Este período é dotado de vários significados, aos quais atribuímos de forma diversa, importância e associações a sentimentos. É válido, legítimo que um indivíduo sinta alegria, contentamento e entusiasmo, do mesmo modo que é legítimo que outro se sinta triste, desmotivado e introspectivo. Com destaque àqueles que sofreram perdas de entes queridos.
Nossa cultura tem a negação da morte muito arraigada, e por conta disso, é costumeiro rejeitar a temporalidade da vida física. Nascemos, morremos. Mas com isso não queremos comunicar que não há razão para o sofrimento. É legítimo, repetimos, o sofrimento e a tristeza resultantes do luto.
E justamente por causa da negação da morte, e da tentativa de afastar qualquer pensamento de tristeza e perda -em um período de alegria e festas- é que as boas intenções acabam resultando em solidão para aqueles que, tristes e recolhidos em si, se sentem inadequados em meio às festividades e aos vários estímulos para participarem da alegria e da satisfação assim como os demais.
O luto não se resolve por meio da negação. Além do que não é uma doença. É uma expressão dos sentimentos, pensamentos e disposições, que estão voltados à dor da perda. A aceitação é a melhor aliada para atenuar o sentimento de solidão e tristeza em qualquer tempo, principalmente quando surge uma espécie de obrigação de quem sofre, de negar sua dor para se adequar ou até para não atrapalhar a alegria dos festivos.
Esta é uma época estimulante à generosidade, e em parte a mesma convoca a disposição de convivermos com naturalidade com as pessoas enlutadas, afinal, nós as estimamos, e se assim é, podemos amá-las, respeitá-las e conviver com elas sem atribuirmos a elas a obrigação de sorrir e sem assumirmos o dever de resolver seus sofrimentos.
Não sejamos os agentes produtores do isolamento daqueles que estão tristes pelas perdas. Aceitemos sua companhia, amemos e compartilhemos dos nossos sentimentos, da mesma forma que vamos considerar e aceitar com generosidade os sentimentos destes nossos convivas.
Com espontaneidade, vivamos as festividades, admitindo com carinho nossas disposições de apreciarmos a companhia dos que sofrem pela perda, assim como admitindo com tranquilidade que não temos que resolver a dor que elas sentem. E, acima de tudo, queridos amigos que sofrem pela saudade, pela perda, vocês não tem a obrigação de sorrir. Sintam-se totalmente à vontade para participar de qualquer evento e festividade, sabendo que são bem vindos, queridos, e é justo que sintam com autenticidade o que é natural que sintamos nas diversas ocasiões, eventos e momentos da vida.
Viver é o fluir de nossas disposições, ao longo do tempo e em inter-relações com os demais, sendo quem somos, sentindo o que sentimos, amando, respeitando, aceitando. As festividades são o grande convite a conciliação, mas, em destaque, à conciliação do sujeito consigo mesmo. A todos os amigos e amigas um grande e afetuoso abraço.
Marcelo Hindi - Psicoterapeuta Holístico
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