Ouvir e escutar, ver e enxergar
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Autor Camilo de Lelis Mendonça Mota
Assunto Corpo e MenteAtualizado em 14/11/2013 15:00:55
Os hábitos dispersivos e dissociativos que a sociedade alimenta em sua oferta de prazeres imediatos parecem colaborar para a diminuição da concentração mental e do desligamento do sujeito de sua humanidade essencial. A era da sobrevalorização da imagem também traz como um de seus elementos marcantes o contentamento com a superficialidade das coisas. No contexto da cultura de massa, as músicas mais consumidas hoje são as que apelam mais para o ritmo do que para a semântica. Não é difícil compreender por que a música eletrônica e o funk, por exemplo, são os mais consumidos social e economicamente.
O mercado publicitário apresenta a cada dia novas perspectivas de linguagem, que induzem o público a se identificar com a imaginação de um mundo idealizado, em conformidade com uma suposta vivência do politicamente correto. Bancos vendem a imagem de que são instituições que investem em cultura e que se preocupam com o bem estar da humanidade, reduzindo assim, imageticamente, o dano causado pela exploração simples e dura do capital. Produtos alimentícios que pouco auxiliam na boa saúde vendem a imagem de uma suposta alegria conquistada a partir de seu consumo. Em meio a isso, prolifera a identificação da pessoa com o objeto de consumo: seja um tênis usado pelo melhor jogador de futebol do mundo, seja uma engenhoca eletrônica que muda de roupagem a cada seis meses. E assim o sujeito vai construindo seu mundo a partir de práticas em que o supérfluo, o superficial e o descartável ganham uma dimensão de valor além da medida para uma vida saudável.
Uma tal construção da realidade está baseada no uso parcial da potencialidade humana, desde as funções físicas e fisiológicas, até as expressões emocionais, mentais e espirituais. Com isso, cada vez mais as pessoas ouvem muito e escutam pouco, veem detalhes perfeccionistas em suas televisões de full HD e não enxergam as entrelinhas dos discursos, falam de assuntos diversificados e pulverizados em redes sociais mas não alcançam a dimensão da reflexão e da escolha das boas palavras. Dentro dessa perspectiva, é bastante comum encontrarmos em nossos relacionamentos, seja no trabalho ou mesmo em família, o desenvolvimento de sujeitos narcisistas, pouco dimensionados em sua capacidade compassiva.
A busca deste novo sujeito, mais voltado para o escutar, para o enxergar, para o falar com consciência, é um dos desafios de nosso tempo. Como recentemente frisou o psicólogo Julio Peres em palestra realizada durante o IV Congresso Nacional de Terapia Regressiva, no Rio de Janeiro, estamos vivendo um momento em que está ocorrendo uma valorização maior do “seguir” ao invés do “buscar”. Todos querem seguir alguém na rede social, e querem ser seguidos. Mas quem, verdadeiramente, está em busca de significados, em busca de afetos construtivos?
Na proposta de construção de uma realidade em que a paz prevaleça, o indivíduo carece de encontrar a concentração mental que o situe em seu momento real, em seu tempo presente, para que tenha a capacidade de ouvir o que o outro tem a dizer com mais atenção (o ato de escutar), e ver o seu próprio mundo como uma unidade (enxergar) em que as várias estruturas percebidas (eu, você, ele, nós, a natureza) estão interligadas através de uma força que luta para que a harmonia prevaleça.
Na próxima vez que você entrar numa loja de departamentos, preste atenção nas inúmeras ofertas, na quantidade enorme de objetos em exposição e, ao mesmo tempo, olhe para si mesmo. Veja o quanto de você está ou não envolvido com esse “mundo de ofertas”. Este é um pequeno passo para uma mudança qualitativa em sua vida. É uma boa oportunidade de se perceber como um ser integral, presente, e não dissociado e alienado a partir de estruturas de fantasia que são criadas a todo minuto como supostas verdades.
Ao ouvir uma música no rádio, sinta seu significado, sinta as palavras. O quanto elas, as palavras, estão em ressonância com sua própria vida e com aquilo que você deseja de bom para si e para os outros.
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Terapeuta Holístico, CRT 42617, Psicanalista, Mestre de Reiki, Karuna Reiki, Terapeuta Floral. Atendimento terapêutico em Araruama-RJ, São Pedro da Aldeia-RJ e Saquarema-RJ com hora marcada Tel. (22) 99770-7322. Visite também o site www.camilomota.com.br E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Corpo e Mente clicando aqui. |