Ser gorda ou não ser: uma questão do preconceito (Parte II)
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Autor Andrea Pavlo
Assunto Corpo e MenteAtualizado em 07/11/2013 00:00:38
Este dia chegou e foi embora, inúmeras vezes. E em nenhum deles, quando estava magra, essas coisas aconteceram. Em nenhum deles o rapaz resolveu que me amava ou as pessoas me respeitaram mais. Mas eu continuei insistindo na história da dieta, esperando que um dia isso acontecesse. Não aconteceu. E eu continuei insistindo.
E hoje, vendo a personagem se defender de uma pessoa que a estava humilhando (e depois de uma longa conversa com uma pessoa muito especial na minha vida) eu pensei que era isso, só isso que estava me faltando. Não, eu não tenho os seios juntos e não tem nenhuma bolinha dolorida neles. Eu não estou errada. Eu não sou preguiçosa (faço academia e aulas de dança), não tenho colesterol alto e nem como quilos e mais quilos de gordura todos os dias. Eu não estou errada.
Eu consigo subir uma escada e não morrer e tenho boas pernas, fortes, sadias e bem bonitas. Tenho simpatia, amor, orgulho, autoestima. Minhas taxas são todas normais. Eu não tenho pressão alta e nem estou perto de ser diabética. Não como só porcarias o tempo todo e meu sofá não tem a minha bunda marcada nele. Eu não tenho os dedos sujos de gordura e faço coisas bem legais na grande maioria do meu tempo. Eu tenho um monte de sonhos e um monte de amigos. Uma família grande que me ama todinha, do jeito que eu sou. Quero viajar pra um monte de lugares, falar novas línguas, escrever e publicar mais livros. Eu quero ver meus sobrinhos crescendo, viver o meu amor, a minha família. Quero usar roupas lindas e servir de exemplo para pessoas que tenham qualquer tipo de diferença.
Não, o erro não está e nunca esteve em mim. O erro sempre esteve do outro lado, do lado de fora de mim, do lado do preconceito. Não podemos ter preconceito contra negros ou gays, dá cadeia. Mas ninguém fala nada sobre os gordos, afinal de contas é só você ter “vergonha na cara e força de vontade para mudar” (SIC). Ou não. Ninguém, como disse a personagem, pergunta por que você está assim. Ao contrário. Já ouvi inúmeras pessoas me dizendo que tenho o rosto lindo, porque não faço uma dieta? Eu olho para ela como se tivesse descoberto a roda “Nossa, é mesmo, como é que eu não pensei nisso antes?”. E a pessoa me olha achando que conseguiu, finalmente, me consertar.
Eu não estou quebrada. Eu não sou errada. O erro está na boca de todo o mundo. Na mente. Nas ilusões nas quais essas pessoas acreditam. Eu sou eu. E parte da minha característica é essa. E se você não quer passar comigo, como terapeuta, porque sou gorda.... Ou se você não quer me namorar porque eu sou gorda... Ou se você não quer ser meu amigo porque eu sou gorda aí, querido, o problema definitivamente não é meu. É uma pena para você, que vai perder a pessoa maravilhosa que eu sou. Que eu continuo sendo, mesmo depois de tanta, tanta porrada da vida e das pessoas. E depois de ouvir os gritos da Perséfone na novela, meu bem, estou na coragem. Vem mexer comigo, vem? Ah, já aviso que só respondo se me convier. Porque eu tenho certeza de que a maioria das coisas que eventualmente chegarão até mim não serão doenças minhas. Mas das pessoas de onde elas saíram. Hoje me dou o direito de ser só eu mesmo. Com tudo o que eu tenho de bom. E de ruim (que, com certeza, não é a gordura). Hoje eu sou A GORDA!
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Psicoterapeuta, taróloga e numeróloga, comecei minhas explorações sobre espiritualidade e autoconhecimento aos 11 anos. Estudei psicologia, publicidade, artes, coaching e várias outras áreas que passam pelo desenvolvimento humano, usando várias técnicas para ajudar as mulheres a se amarem e alcançarem uma vida de deusa. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Corpo e Mente clicando aqui. |