VOZES SILENCIADAS
Autor Verônica Dutenkefer
Assunto Corpo e MenteAtualizado em 4/17/2013 8:16:26 PM
Hoje escutei o secretário municipal de educação dizer, num vídeo que nos foi mostrado numa jornada pedagógica, que vão ajudar os professores, criando mais cursos de formação.
Eu agradeço muito, e sei o quanto aprender é maravilhoso! Portanto cursos, palestras, livros, são sempre bem vindo, pois como eu disse num texto que escrevi recentemente, não dá para sermos professores, sem sermos apaixonados em aprender.
Mas gostaria de lembrar ao secretário da educação (seja municipal ou estadual, seja ao prefeito, governador, ministro e presidenta) que só criar cursos de formação não nos ajuda. Se fosse esse o caso, a educação já teria melhorado.
Existem problemas sociais e econômicos que afetam, profundamente a educação (e outras áreas da sociedade), existe a promulgação de leis que impedem o bom funcionamento das escolas, existe uma completa falta de valorização dos profissionais ligados à educação (assim como em outras áreas também) que tem gerado a falta de trabalhadores que deixam um verdadeiro buraco nas escolas.
Existe a descaracterização da escola, pois ela passou a ter uma função assistencialista.
Existe a falta gigantesca de verbas para levar os avanços tecnológicos para dentro das escolas.
Enquanto em algumas escolas particulares há lousas digitais, poucos alunos por sala, onde cada aluno tem sua apostila editada em número suficiente, as escolas públicas mal tem lousas de giz e apagador, mimeógrafo, pois não temos dinheiro para o toner do xerox, nem a tinta de impressora e a quantidade de alunos por sala ainda é grande. E quando chegam os livros didáticos e cadernos de apoio, quase sempre vêm em número insuficiente à quantidade de alunos que a escola tem.
A inclusão foi feita sem preparar as escolas e profissionais para receber esses alunos, que necessitam de atendimentos especiais
Os professores estão adoecendo pela sobrecarga de trabalho e stress causados pela violência física, verbal e psicológica e ninguém se mobiliza para reformular leis que ajudariam a evitar essas violências.
O salário é tratado com um descaso gigantesco.
A comunidade se apresenta, na maioria das vezes, omissa e hostil, como se os profissionais da educação fossem seus inimigos, e não seus parceiros.
A escola virou um depósito de crianças e adolescentes, que possuem muitos direitos e quase nenhum dever.
As avaliações viraram instrumentos estatísticos manipuláveis e mais um canal para a corrupção.
Os profissionais da área da educação estão se extinguindo e os poucos sobreviventes à esse caos, estão adoecendo.
A educação, está agonizando e criando gerações incapazes de viver com dignidade, perpetuando a ignorância, a exclusão social e a corrupção neste país.
Muito se fala em se educar para a cidadania e ética, e me pergunto como fazer isso diante de tantos exemplos contrários na sociedade, principalmente dos que estão no poder.
Como motivar meus alunos? Como motivar meus colegas? Como motivar a mim mesma?
Urgentemente necessitamos que nossas vozes sejam verdadeiramente ouvidas!
Então, senhor secretário municipal de educação, que tal o senhor, e o prefeito recém eleito, na próxima jornada pedagógica, criarem um espaço verdadeiro onde nossas vozes possam ser ouvidas?
Idéias criativas e sugestões para a melhoria da educação não nos faltam, sabedoria e experiência também não. Quem sabe assim, vocês teriam a possibilidade de participar de um curso de formação conosco e aprender, talvez, alguma coisa!
Termino esse texto (que não deixa de ser mais um desabafo) lançando uma pergunta que não quer calar e me preocupa muito: O que será necessário acontecer para se fazer uma reforma educacional neste país?
Verônica Dutenkefer
17/04/2013
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