A Bíblia é ilegal
Atualizado dia 6/5/2013 3:13:01 PM em Espiritualidadepor Fernando Cavalher
O líder de um dos mais fortes e influentes países deste momento histórico abre seu discurso dizendo: "Não somos mais uma nação cristã". O peso dessa frase é gigante em si mesmo.
Embora nos lembremos de Martin Lutero rompendo com a Igreja Católica no século XV e Henrique VIII no século seguinte, essas ações não produziam uma mudança efetiva. O Anglicanismo e o Protestantismo em nada modificaram os pontos fundamentais: permaneceram a certeza de que o crente é melhor do que o não-crente, o ódio ao diferente.
"Não somos mais uma nação cristã".
Obama não o disse para criar uma nova religião, tomando para si mais poder, nem propôs uma nova interpretação da Bíblia. Ao contrário! Segue seu discurso ridicularizando educadamente a bíblia. As passagens que ele cita propõem um desafio invencível. Eu pergunto, agora, ao leitor: você conviveria com a escravidão? Você apedrejaria seu filho por qualquer razão que fosse? Quando Obama afirma que as pessoas não têm lido a Bíblia, dá um xeque-mate nos crentes: a prática bíblica é ilegal atualmente.
O tesouro da fala de Obama é a oposição essencial entre a democracia e a religião. A democracia aparece como um sistema no qual o debate está aberto, a negociação é o caminho e buscam-se valores universais. Sobretudo, acrescento eu: na democracia os valores mudam com o tempo. Por outro lado, a religião sustenta-se sobre dogmas, na maior parte das vezes indemonstráveis e incompatíveis com a realidade que percebemos em nós e no mundo. O dogma é dado como perfeito, além do erro, já que concebido por um deus. Por isso, o dogma é uma crença fundamental e imutável. Não há negociação. Não há mudança.
Não importa o que é dito. Importa o que é praticado. O que temos visto é que a democracia produz valores universais enquanto a religião produz sectarismo.
Estados Unidos e Brasil vivem um momento em comum em sua conjuntura política: a ascensão de evangélicos fundamentalistas ao poder: lá eles têm o TeaParty, aqui temos Marco Feliciano. Essas pessoas usam a religião como ferramenta de ataque. Eles querem que a Idade Média continue. Quando os evangélicos chegaram ao poder, apenas defendiam os próprios interesses. Atualmente, estão atacando outras pessoas. Será que a sociedade não percebe o risco que está correndo com essa escalada do fanatismo dentro da estrutura de poder?
Agraciado por dons espirituais, eu sou uma dessas pessoas que veem coisas que ninguém mais vê, que ouve coisas que ninguém mais ouve. Mesmo assim, eu concordo com Obama: o Estado deve fazer sua política com base naquilo que todos veem e que todos ouvem. Quando eu tenho uma visão espiritual ou quando Deus fala comigo eu me sinto honrado. Não imponho isso a ninguém, não prego e, sobretudo, não considero minhas experiências melhores do que outras. A bem da verdade, sequer consigo compreender minha experiências sem as outras pessoas.
Prefiro que a sociedade se organize com base na vontade da maioria e vivo minhas experiências interiores como um presente raro, para mim mesmo, porque gosto delas, porque as reconheço. É mais fácil eu ser feliz se a maioria estiver feliz. É mais bonita a vida se as outras pessoas me trouxerem pontos de vista diferentes dos meus. Sendo um espiritualista, eu amo a sociedade laica.
A fala de Obama tem um caráter libertador. Presta serviço à democracia ao expor a tentativa cínica dos religiosos de nos submeter. Mas nós não nos curvaremos mais.
Texto revisado
Veja discurso de Barack Obama: link
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