A FACE FEMININA DA ESPIRITUALIDADE
Autor Mani Álvarez
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 27/03/2013 22:31:47
A outra face de Maria é a que mostra uma verdade que emerge de descobertas arqueológicas, estudos e pesquisas, e que revelam Maria Madalena como sendo a discípula mais amada de Jesus, sua companheira mais próxima e querida, e até mesmo sua companheira.
Um achado inesperado em 1945, num local remoto do Egito, trouxe à tona informações que teriam sido escondidas no final do século IV por monges anônimos, temerosos de serem banidos pela perseguição que aconteceu em 367, sob as ordens de Atanásio, arcebispo cristão da Alexandria. Os ensinamentos que esta seita gnóstica professava foram considerados heréticos e para preservá-los, os monges esconderam os treze livros de sua biblioteca num grande jarro de barro, enterrando-o nas areias do deserto.
Uma das revelações mais surpreendentes da biblioteca de Nag Hammadi foi a alta consideração dada a Maria Madalena nas primitivas comunidades de cristãos. Num dos evangelhos encontrados, de autoria de Maria Madalena, ela afirma que mesmo após sua morte, Jesus continuou aparecendo e falando com ela. Seu testemunho é o mesmo de tantos místicos que se relacionam com o Divino através de visões, sonhos, expansão da consciência e outros encontros espirituais. Isso mostra que sua fé não é conseqüência de credos ensinados, mas é uma fé viva que se alimenta do contato direto com Cristo.
Quando os textos de Nag Hammadi foram descobertos, um dos livros se destacou dentre os outros. Era um texto copta chamado “A Sophia de Jesus Cristo”, e datava dos séculos I e II de nossa era. Ele tratava de um ensinamento extremamente complexo transmitido durante onze anos aos discípulos de Jesus Cristo após sua ressurreição. Esse livro foi publicado somente no século XX com o nome de Pistis Sophia e, através de uma narrativa alegórica, vai delineando a queda e a redenção de uma personalidade feminina semidivina, representada simbolicamente por Maria Madalena.
Sophia é o arquétipo da queda de nossa alma no plano material, onde se perde nas ilusões dos desejos, das paixões, dos desvarios emocionais e mentais. Esta queda se traduz por um grande desequilíbrio na Criação, e sua salvação está na restauração completa do feminino e do masculino, ambos necessários para renovar o equilíbrio perdido.
Este pequeno trecho mostra que a união sagrada não é apenas um relacionamento espiritual e místico, mas abrange todos os planos da existência. Sophia é caracterizada como a “esposa do Senhor”, um conceito semelhante ao de Shekinah, a manifestação feminina da presença de Deus. Na Biblia hebraica, Sophia decaída ganhou má reputação, suas filhas foram depreciadas e violentadas, e até hoje as mulheres são estigmatizadas em todo o mundo. Madalena simboliza a redenção de Sophia, e por isso foi calada e suprimida dos documentos oficiais pelas forças solares e masculinas da hierarquia do poder religioso.
No entanto, a reconciliação com o princípio feminino pode promover a paz, o amor e a unidade com a Mente Divina por meio da vibração energética da linguagem espiritual da Luz, ensinada no livro da Pistis Sophia. “... pois a sua luz atravessa muitos véus e regiões”.
Tudo isso nos remete a um caminho consciencial para a iluminação espiritual do qual Maria Madalena era a porta-voz feminina. Hoje, como no passado, os clérigos cristãos ainda se mostram relutantes em aceitar sonhos, visões e mensagens canalizadas por pessoas visionárias. A revelação deixou de ser um contato com o Divino, e tornou-se um livro lacrado onde está escrito a palavra de Deus. Assim funciona o lado esquerdo do cérebro, racional e objetivamente.
Restaurar a outra face de Maria é reconhecer que a sabedoria flui da união e da integração das duas formas de conhecimento – a lógica e a intuição. A percepção feminina da espiritualidade é o exercício natural e livre do lado direito do nosso cérebro, de onde fluem torrentes de sensibilidade e amorosidade.
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