A iniciação - Capítulo 7
Atualizado dia 29/10/2010 12:30:54 em Espiritualidadepor Satyananda
Fiquei sentado esperando, havia um perfume de lírios, era um espaço silencioso, fresco e agradável; estava sentado sobre um cobertor de bebê, de uma lã grossa, dobrado em quatro, cobertor esse que já tinha me acompanhado por mais de um ano de aulas, todas as semanas. Vestia a minha roupa branca de meditação, uma calça de agasalho e uma camiseta de algodão brancas, tudo isso largo, confortável. Fiquei alguns minutos sentado, olhei para o painel e não consegui conter as lágrimas, fechei os olhos e abaixei a cabeça. Foi quando eu escutei o barulho da porta abrindo, meu mestre entrou com uma túnica branca, como se fosse uma saia, assim como os monges usam e cobrindo o corpo tinha um outro manto, esse manto deixava o lado direito do corpo descoberto e aquilo para mim já era familiar porque nos livros do Ramana Maharishi, ele falava que a nossa vida não habitava o cérebro, nem o coração físico que fica do lado esquerdo do corpo, mas a nossa essência. A vida que dá vida a esse corpo habitava um coração espiritual e, se nós prestássemos mais atenção, perceberíamos que ele pulsa o tempo inteiro, mas pulsa do lado direito. Seria necessário ficar em silêncio absoluto, mergulhar na sua própria consciência e em um determinado momento nós iríamos sentir o espírito e o seu coração do lado direito. O Ramana ainda brincava que esse era o único local seguro no universo, ele chamava esse lugar de “caverna coração”, em sânscrito, purushan, significa essência plena, consciente, verdade notável, centenas de adjetivos para um sentimento que exprime somente paz incomensurável e tranqüilidade imensa.
Não havia emoção nenhuma no ar, somente silêncio, não havia nem o barulho da respiração. O mestre sentou na frente com um olhar absolutamente compassivo, pediu para fechar os olhos, mas antes disso olhou profundamente e falou assim: “filho, hoje é o dia da sua iniciação. Iniciação significa morte, significa que o Márcio vai morrer e a sua consciência vai passar para o lado de lá, o lado de lá é a vida de verdade, a vida como ela é, a vida sem mente, sem mentiras.
E eu tenho uma coisa para lhe falar antes do exercício: o homem pode controlar o corpo, como Yogi, pode controlar a mente, a respiração, e produzir em cada estado da respiração uma leitura diferente da realidade. Pode-se adquirir poderes, que na Índia são chamados de Sidhis, com essas práticas, basta focar, como se faz com uma lente no sol, onde milhões de raios de sol passam por essa lente e juntos, em um pequeno espaço, aquele foco produz um raio condensado e produz fogo dependendo de onde ele tocar.
A nossa mente pode fazer o mesmo exercício, o mesmo processo. Ela pode devolver para a gente o que nós focarmos, por algum tempo, pouco tempo. Mas eu posso lhe falar, de fato, em nome de todos os nossos mestres, em nome de Deus, que a vontade de Deus é soberana e que mesmo que você conquiste fortuna material e poderes espirituais, se não houver amor, que é a nossa real natureza, a vida na Terra é inútil, somente no amor a vida na Terra tem sentido, Deus nos percebe e a nossa consciência desperta para o paraíso onde sempre habitou, somente nesse estado a gente pode receber a graça da iniciação, um renascimento, um mergulho no silêncio”.
E o mestre continuou lembrando ao nosso espírito que quando nós oramos nós falamos: “Deus estou falando”, mas quando a gente medita, nos colocamos em silêncio para ouvir... e no silêncio da meditação Deus fala. E assim completou... me pedindo a única coisa que Deus não tem de nenhum homem, a minha vontade. Pediu que eu entregasse a minha vontade a Deus para que, a partir desse dia, a fala e os gestos desse corpo manifestassem somente as ações da vontade suprema. Nesse momento, eu entendi o significado de “seja feita a sua vontade”, do Pai nosso.
A partir disso, depois da iniciação, começa o entendimento do que é viver como um servo de Deus.
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