À procura de um guru - Capítulo 5
Atualizado dia 10/15/2010 12:39:25 PM em Espiritualidadepor Satyananda
Aquilo tudo, para um jovem de 20 anos, era um encontro com a sanidade, o que dava sentido à vida e esclarecia que a paz e o viver consciente eram possíveis e que nós podíamos, sim, não concordar com o sistema, com suas normas do viver e divertir-se a partir dos sentidos, levando-os até o seu limite; envelhecer, ter algum prazer, muita dor e morrer.
A procura de um guru naquele momento era fundamental... porque o Marcio estava quase enlouquecendo, não era mais suportável ficar vivendo somente de livros.
Então, numa certa ocasião, enquanto ele estava lavando as escadas e cuidando do jardim, sua mãe chega com um livro da editora Planeta, chamado Maha Yoga, ou seja, a Grande União...
Aquele livro tinha as mesmas imagens dos mestres que o Márcio havia achado nos muitos livros, buscando entender o que tinha acontecido com ele... estava lá o São Francisco de Assis, o mesmo do filme Irmão Sol, Irmã Lua do Franco Zeffirelli; tinha Jesus Cristo, na página do fundo, tinha o Mahatma Gandhi, lá na frente estava o Buddha, mais adiante tinha o Paramahansa Yogananda, o Babaji.
Parecia que todos os livros tinham se transformado em um só e que tudo aquilo era um resumo da sua busca espiritual, e aquele livro -diferente de todos os outros-, tinha um endereço de um ashram, no coração da cidade de São Paulo, na Rua Bela Cintra, muito próximo à universidade e da sua casa.
Passaram-se três dias até ele encontrar a coragem de visitar esse lugar sagrado, e ao chegar em frente a essa casa, de banho tomado e em silêncio, com flores e frutas nas mãos, tocou a campainha.
No entanto, começou a tremer, seu corpo inteiro estremecia, a atenção se dispersou, ele sentiu como se estivesse a ponto de desmaiar, entregou as flores para a primeira pessoa que encontrou na rua, uma velha senhora passando e, mais adiante, entregou os frutos a um mendigo. Caminhou confuso até a sua casa, no meio da tarde, sentou no pequeno altar que ele tinha construído com caixotes de madeira, simples panos e imagens recortadas de revistas, livros e chorou. Colocou a cabeça no chão, não se sentiu realmente aceito, porque a reação do corpo, da mente e da própria fala, transformou-se em angústia e rejeição. Chorou muito se sentindo não capaz e nesse estado ele simplesmente desistiu...
Deitou, dormiu com um entorpecimento já comum, depois da presença do Ramana em sua vida, um sono em sonhos, um sono profundo, onde simplesmente se deitava, fechava os olhos e quando os abria de novo tinha se passado uma ou duas horas; e o corpo não pedia nenhum tipo de movimento.
Aquela sensação passou e ele se levantou, preparou-se para ir à faculdade, entrou em uma livraria próxima, na Rua Martins Fontes, que se chamava Zipak, uma das poucas naquela época que possuía livros espirituais, foi até o dono da livraria -o Sr. Luis- e pediu: por favor, esse ashram, eu sei que fica aqui no Brasil, mas eu tenho certeza que ele mudou - Marcio não sabia que o ashram havia mudado, tinha falado de uma forma absolutamente intuitiva, onde ele simplesmente ouviu o que falou, não houve estranhamento, o som só saiu e o Sr. Luis, muito gentil, falou apontando na imagem: “ah, sim, aqui é a casa do Sr. Mahakrishna Swami, é o ashram dele, e ele realmente mudou da Rua Bela Cintra e foi para a Lapa, à rua Toneleiros; você quer o endereço”?
O Marcio, de repente, ficou absolutamente em paz, como se fosse um observador olhando para todo aquele cenário de certezas e dúvidas, pegou o endereço e se preparou de novo durante mais três dias, com meditação, jejum, limpeza e silêncio; comprou de novo flores e frutas. Chegou à Rua Toneleiros, na Lapa, desceu a rua e chegou à frente de uma ladeira.. lá estava a casa, inteira branca, com suave cheiro de incenso e uma primavera grande na entrada... e tocou a campainha.
Uma voz com um sotaque carregado, de estrangeiro, atendeu e ele falou: Bom dia, por favor, eu gostaria de conhecer o ashram, conhecer o swami, se for possível.
O estrangeiro respondeu: Mas o horário da aula é às sete horas da noite... O Marcio, então, argumentou: eu sei que ainda são cinco horas da tarde, mas estou esperando há três dias para entrar em contato... gostaria pelo menos de deixar as flores e as frutas.
E aí como em qualquer filme que se preze, a porta se abriu e um homem com a pele muito escura, não como os descendentes de africanos, mas como os hindus, com cabelos muito lisos e escuros, com os olhos brancos, brilhantes, uma barriga um pouquinho proeminente (espero que onde ele estiver agora ele não se sinta chateado com essa descrição), e de uma doçura impressionante, gestos serenos, apareceu.
Olhou dentro dos seus olhos e perguntou o que ele queria. E aí Marcio respondeu: eu só quero encontrar a felicidade e devolver o meu olhar a mim mesmo.
Então, ele disse para subir e contar a sua história.
Subimos uma grande escadaria de uns três ou quatro metros, uma primavera sobre as nossas cabeças; à direita, passamos por uma fonte que continha a imagem de Santo Antonio de Pádua, franciscano. E aí caminhando nós chegamos a uma casa de tijolinhos, com uma porta em arco, alguns vitrais muito bonitos, com Krishna, Brahman, Radha. Subi aquela escadaria com flores brancas, paredes brancas e, quando chegamos ao último lance, havia um enorme tapete verde, em uma sala que deveria ter uns 10m x 20m, com um lindo altar, com a figura do Ramana Maharishi, no centro; à direita, uma imagem do Jesus Cristo e, à sua esquerda, uma imagem do Senhor Buddha.
Eram fotos que representavam mais do que mestres, simbolizavam a história do Márcio e naquele instante parecia que ele estava retornando ao lar, voltando para casa pela primeira vez, e, finalmente, podendo entender alguma coisa depois daquele filme...
Sentado na frente desse swami, que se manteve em silêncio, quase não era possível vê-lo respirando. O Márcio não sabia se chorava ou se sorria, saiam lágrimas de gratidão dos olhos, e ele, pela primeira vez, contou a história do filme. Após três anos, foi a primeira vez que ele contou das luzes, do mendigo, da carroça, da paz que ele percebeu ao lado daquele ser humilde, dos dias de serenidade que se seguiram e da grande alegria por ter encontrado o livro do Ramana Maharishi.
O swami olhou para ele e falou: filho, as suas intenções são legítimas, estamos aqui para servi-lo, a partir de amanhã você pode vir às aulas.
Ali começou o caminho da iluminação, do entender que a vida é feita de amor.
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