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A VISÃO DE CIMA

Atualizado dia 06/09/2014 12:05:03 em Espiritualidade
por Christina Nunes


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Penso que compreendi outro dia a razão pela qual aprecio volta e meia entrar no Google Street, aquela ferramenta que te permite ficar passeando bem dentro de ruas e lugares já mapeados por satélite, em qualquer lugar do mundo. Faço para visitar locais outrora muito frequentados, e nos quais passei minha infância, adolescência, e parte da juventude. O saudosismo, a nostalgia gostosa que nos compele a reviver momentos doces a partir da visão desses lugares, que há apenas alguns anos atrás só revisitaríamos se nos dispuséssemos a ir até lá, e andar mesmo, e ao vivo, nas ruas, nos bairros que nos são familiares.

No entanto, este dispositivo possuí a característica do congelamento: ao acessar os locais, notamos que o mapeamento capturou um momento específico de vida dali. Como num filme assistido na tv, no qual de repente apertamos o botão de pausa, congelando movimentos e pessoas, visitamos tudo paralisado, silencioso e sem vida... Mesmo assim, a iniciativa evoca sensações e emoções vívidas no espírito. E estas reflexões, por sua vez, levaram-me à recordação de uma cena assistida em filme de ficção de décadas atrás, no qual o personagem lança mão de um tipo de tecnologia mais avançada com resultados semelhantes mais aperfeiçoados - e, diga-se, prováveis de se verem já em uso atualmente, dado o controle e mapeamento absoluto e cada vez mais exato de cada detalhe do planeta por satélite!

Na cena, portanto, o homem tecla em seu computador que, em segundos, produz uma varredura em busca de determinada pessoa e endereço específicos. E as imagens, como por mágica, surgem diante de seus olhos - da mulher em questão, num dia ensolarado, cuidando dos jardins na frente de sua casa, totalmente distraída da possibilidade sequer de se ver daquele modo monitorada de muito longe! Só que, neste caso, as imagens acontecem em tempo real, com pleno movimento e interação do espectador por detrás da tela com o que acontece com o alvo inocente do seu saudosismo, andando de um lado para outro de seu jardim!

Trata-se, pois, em bem comparando, da chamada "visão de cima", que, em níveis ainda mais aperfeiçoados, são muito utilizados e citados pela Espiritualidade que nos assiste das dimensões invisíveis, sem a necessidade de satélites - de vez que visualizam tudo e se deslocam mediante uso da vontade, e de um para outro lugar de maneira instantânea, afora o fato de que dispõe, em dimensões de padrões de vida superiores, de tecnologia muito mais refinada para uso em situações semelhantes, de assistência a reencarnados, dentre outras necessidades.

Esses dias recebi instrução particularizada a respeito, do meu mentor desencarnado. Ele queria me fazer compreender os mecanismos desta visão de cima, que lhe permite atuar sempre no sentido da realização positiva de tudo - contemplando, da ótica mais desimpedida de obstáculos de que dispõe, todas as variáveis de situações que só nos surgem de um único ângulo, ou, quando muito, de escassas perspectivas, porque nos achamos emparedados pela materialidade, leis gravitacionais, entre outros empecilhos.

De onde atuam e visualizam com simultaneidade as coisas - tal como aquele personagem de filme o conseguiria, resgatando vários momentos simultâneos que lhe interessassem em mais de um local do mundo! -, nossos amigos, em situação de abrangência privilegiada dos fatos, conhecem, portanto, múltiplas facetas que nos escapam, de um sem número de situações mais ou menos importantes que nos interessam, ou nos absorvem horas e preocupações ao longo dos dias de nossa permanência neste mundo. E possuem, a partir disso, de recursos para agir em nosso auxílio, em obediência à uma compreensão mais acertada dos fatos que são de nosso próprio interesse!

Então, enquanto muitas vezes nos demoramos imersos em determinado julgamento negativo de qualquer acontecimento, no sentido do desânimo improdutivo, ou da alegria precipitada, eles, do alto das referências mais exatas de que dispõe, e que não temos como acessar daqui, nos inspiram ideias retificadas, de modo a que reajustemos nosso estado de espírito e nossos passos.

Se nos vemos deprimidos, dando qualquer coisa por irremediavelmente sem solução, eles se chegam a nós, cheios de ternura; e praticamente nos arrastam, com seu apoio amoroso, a arranjar forças para seguir para aqui ou ali - abstrair durante um tempo, agir positivamente, noutro tanto; persistir nos objetivos, a despeito das aparências enganosas dos episódios, porque, dispondo dos recursos à moda dos computadores de varredura global dos filmes de ficção, sabem, com simultaneidade, da atuação dos participantes envolvidos; das circunstâncias favoráveis que estão se desenhando e ainda estão por vir; da disposição e das iniciativas de auxílio de pessoas chave, e de tantos outros fatores, dos quais não desconfiamos das influências a nosso favor, no sentido de validar as nossas realizações, se insistirmos apenas mais um pouco. Tentam nos ajudar a vencer as limitações de percepção unilateral da qual dispomos, da sequência apenas linear dos pequenos lances de nosso dia a dia.

Lembro-me de um episódio pessoal do qual nunca me esqueci, havido muitos anos atrás, de molde a confirmar esta verdade, e de cujo significado só fui alcançar entendimento muito, muito tempo depois. De quando, entusiasmada com meu primeiro emprego, e ao ter confirmado meu acesso a ele, jovem demais, impulsiva como muitos adolescentes, sapateei e dancei de alegria pela casa inteira, fazendo alvoroço barulhento como se tivesse ganhado na loteria.

Só que, de repente, do nada, sem explicação, bem no meio daquele frenesi de exaltação, esmoreci. Baqueei, inerte, no sofá da sala, e mergulhei em estado de espírito asserenado e profundamente meditativo - como se em inesperado alerta; um efeito semelhante ao que produziria o acúmulo súbito de nuvens carregadas de chuva escurecendo um dia ensolarado.

Só bem mais tarde - anos depois, pois em verdade permaneci bastante tempo trabalhando naquele lugar - veio-me, espontaneamente, a compreensão de que aquilo fora justo o aviso da "visão de cima" do meu próprio espírito, talvez alertado também por amigos da invisibilidade para que me mantivesse de sobreaviso para com as provas a serem enfrentadas em breve, quando de fato se principiaria a jornada mais séria do espírito reencarnado neste mundo de aprendizado, nos inevitáveis entrechoques humanos.

Porque aquilo que naquele dia, ainda despojado de preocupações maiores e de desencantos na vida da garota imatura, representou estopim de tão desarrazoada alegria, em verdade inauguraria um período de difícil aprendizado, durante a sucessão muitas vezes ríspida de experiências adquiridas duramente naquele estágio de trabalho profissional, que funcionaria a conta do cadinho, necessário tanto à depuração do meu amadurecimento, quanto para a decantação das qualidades pessoais maiores, que reverteriam-me como resultado benéfico posterior, a despeito do grande repertório de dificuldades e sofrimentos enfrentados naqueles anos.

- Nós só agimos no sentido da positividade, das possibilidades da realização das coisas boas, minha querida; não da negatividade e da prevalência de empecilhos e obstáculos, porque sabemos que esses pesam mais apenas aí, nesta dimensão cheia de restrições onde você permanece por enquanto, já que se impõe sem piedade e exigem que extraiamos de nós mesmos o melhor que possamos oferecer. E é por isso que a inspiramos sempre a prosseguir, sem dar atenção demais a esses empecilhos; porque os sabemos momentâneos e provisórios, - enquanto, a nosso favor, do manancial de modificações e inúmeras alternativas insuspeitadas pela sua percepção restrita, também sabemos da existência, e do modo e do momento exatos em que podemos a eles recorrer, para as nossas melhores realizações. Confie, portanto, e sempre, na utilização oportuna da nossa, e da sua,  visão de cima"... - Caio Fábio Quinto, Mentor desencarnado da autora.

Texto revisado

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Conteúdo desenvolvido por: Christina Nunes   
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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