Amazônia
Atualizado dia 8/4/2008 7:21:02 PM em Espiritualidadepor Bernardino Nilton Nascimento
Ouvindo o clamor dos povos da Amazônia, escrevo este artigo com o desejo de provocar uma reflexão que desperte, em todos nós, um alerta aos nossos corações para conhecermos os valores presentes nesses povos, sua maneira especial e criativa de viver e de se organizar em suas histórias de resistência diante das agressões da sociedade. Muito antes de se falar em preservação da natureza, a sociedade já não reconhecia esses povos como deveria.
Meu desejo é propor um caminho que leve a optar por um novo estilo de vida, acolhedor e solidário, ao povo da Amazônia, e por um modelo de desenvolvimento humano construído no respeito e no diálogo, com todas as culturas convivendo de forma carinhosa e cuidadosa com a natureza.
A Amazônia é um imenso território onde vivem, com sua diversidade socio cultural, muitos povos, e onde estão presentes as mais diversificadas formas de vida, ainda intactas. Essa riquíssima biodiversidade nos emociona, como sociedade e como ser humano, e nos impele a amar esse dom de Deus, presença de seu imenso amor. Desafia-nos a defendê-la contra todas as formas de devastação.
Este é um convite para que se conheça, se aprecie e se respeite toda a vida que a Amazônia guarda: seus povos, sua biodiversidade, sua beleza e sua cultura. É um convite para que tomemos consciência da destruição que está sendo operada e para que conheçamos todo o sofrimento e a resistência da população amazônicas, que teima em defender sua cultura, suas organizações e sua maneira de conviver com a natureza. É um convite para que aprendamos com eles a fortalecer uma cultura que protege a vida e a garante para toda a humanidade.
É fundamental ter presente, desde já, o que está em jogo na Amazônia. A riqueza da biodiversidade, a abundância das águas, a grande quantidade de terras, a fartura de madeira e o incalculável volume de minérios no seu subsolo. Meu desejo, como ser humano, é defender, não só a mata, mas seu povo e sua cultura, com suas histórias, às quais a sociedade tradicional resiste desde sempre. Cresce, porém, a consciência de que essa resistência não basta para enfrentar os atuais desafios.
É preciso consolidar a articulação de muitas forças que pensem na Amazônia como um todo, sem divisão de fronteiras e de culturas: uma verdadeira frente pan-amazônica, capaz de promover a defesa dos povos que lá habitam e do patrimônio natural e cultural. Somente com essa união será possível contrapor-se à cobiça destruidora do mercado.
Há um consenso entre muitos estudiosos e em grande parte da população, de que a Amazônia é um fator de equilíbrio essencial para todo o planeta, e que a vida da região tem a ver com a qualidade de vida da Terra. Por isso, é necessário, por um lado, resistir ao processo de devastação, e, por outro, denunciar os discursos populistas. Temos que lutar por uma política que garanta a sobrevivência do povo da mata, que garanta a sobrevivência das várias culturas que vivem na selva, com suas curas e crenças, que vêm desde os antepassados e deuses da terra.
O que está em jogo, não é uma invasão cultural, mas a preservação dos verdadeiros donos da Amazônia e dos seus costumes. Pouco se conhece sobre os saberes que os habitantes do interior e as populações ribeirinhas acumularam, e que possibilitaram sua sobrevivência. Existe, ainda, muita desinformação e preconceito em relação aos povos daquela terra.
Os povos da Amazônia não são selvagens, que vivem no atraso e na ignorância. A percepção do significado histórico e simbólico da Amazônia pode levar-nos a descobrir, junto com seus povos, uma visão mais humana e generosa da vida. O modo de vida dessa população pode ser um parâmetro para o mundo todo. A chamada civilização baseada no consumo desenfreado, na riquezas, na violência contra povos inteiros, na devastação ambiental em troca de confortos supérfulos e de um luxo inútil, está gerando a destruição do planeta.
Os povos da Amazônia convidam-nos a mudar o nosso estilo de vida. Não basta preservar a Amazônia para garantir a vida do planeta. Cada um, e todas as pessoas, dentro das condições, e com uma só energia , precisa converter-se a um estilo de vida baseado na simplicidade e na sobriedade, no respeito e no cuidado para com a natureza, na valorização do outro como parte imperativa da sua existência no presente e no futuro das futuras gerações.
O povo da Amazônia não quer um novo estilo de vida ou um projeto de desenvolvimento à luz dos valores sociais ou evangélicos. Quer viver como seus antepassados, que entendiam que o saber de cada planta tem seu valor especial.
Devemos apoiar e fortalecer iniciativas corajosas, e denunciar a violência e seus responsáveis, que já fizeram correr muito sangue no solo da Amazônia. Temos que promover a solidariedade e a partilha da experiência, do conhecimento, dos valores e bens, na construção e difusão de alternativas de convivência, sem ferir as diferentes culturas lá existentes. O intuito não é levar uma cultura social e mundialmente falida para invadir o que é puro e até mais educada em lidar com o próximo, mas sim, estimular a mudança de mentalidade, para que que se expressem num estilo de vida simples e respeitoso ao ambiente e à felicidade do próximo sem ferir a cultura e o respeito a cada um.
BNN
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