Aperfeiçoando a bondade
Atualizado dia 13/09/2009 19:37:24 em Espiritualidadepor Bernardino Nilton Nascimento
Esta bondade dirige-se a todas as vítimas do mal, ao grande sofrimento humano, a tudo quanto está ferido, vencido, perdido. É preciso reconhecer, sob suas formas atormentadas e aflitas, a vida, que nos parece mais tocante do que na plenitude de suas forças. Todos admiram uma árvore vigorosa, uma bela floresta em sua tranqüila majestade, mas quando o furacão tomba sobre elas, as sacode, as torce e as devasta. Nós tomamos as dores da árvore contra o furacão e os galhos partidos. O tronco que resiste e se defende nos comove bem mais do que antes. Assim, também em certas horas, nossos olhos ficam menos fascinados pelos esplendores do sol nascente do que por uma pobre luzinha que luta na escuridão, contra o vento e a chuva.
Aos olhos dos descrentes, aos que não acreditam nos esforços dos nossos antepassados, somos todos loucos. Eles riem dessa ingenuidade e não se inquietam, e assim vão fazendo o que a lei da Natureza manda e nossos corações pedem.
Não sou a favor de que se disfarce o espetáculo das infâmias, nem que se lhe sombreie o horizonte por uma revelação muito precoce das tristezas deste mundo. Uma coisa é sermos saturados, todos os dias, de narrativas irônicas, assustados por cenas cortantes; outra coisa é sabermos que há seres que sofrem e sermos iniciados delicadamente nas provações da vida.
A dor amadurece. É por esse batismo de fogo que se entra verdadeiramente no santuário da eternidade. Ninguém escapa nesta ou em outras vidas das ondas dos aprimoramentos, elas batem na alma como as ondas do mar batem nas encostas. A dor, além disso, tem o dom de purificar-nos. Uma certa precipitação do nosso Eu com a dor é incompatível. Fraternizando com a dor conseguimos uma aliança poderosa. Graças a ela, poderemos viver melhor.
O que há de mais generoso do que um coração carinhoso? É mais fácil correr em socorro, sem olhar para trás. A vida, por vezes, nos mostra uma fisionomia carregada. As maldades e as ingratidões podem endurecer o coração, em geral, quando não temos o coração calejado ante os desgostos. Há dias em que se quer bem ao desconhecido que passa e que se perdoa a todos os ofensores; em que o coração se volta a tudo quanto sofre e chora; em que se desejaria aquecer com as mãos os que sofrem, erguendo a sua alma. Temos carência de demonstração de amizade. Não podemos desistir ao movimento que conduz à bondade. Corra à ação reparadora, eleve a sua obediência aos guias, aos anjos trabalhadores da sua esperança e da sua bondade.
Quem poderia estar mais preparado do que você para esta missão? Aí você indaga: Mas eu necessito de experiência? A experiência se adquire junto dos que a possuem e, certamente, esses não a negarão. Eles não temem os concorrentes. Além disso, carecer de experiência não implica carecer de meios. Para a obra da caridade e da compaixão, há muitos meios de se dizer que ela possui um coração com a experiência da bondade.
Para adoçar e consolar a dor, não há nada mais eficiente que o contato. Ele traz consigo a vida e a esperança. Se todos soubessem o que pode um sorriso, uma visita, um pequeno dom amigável, se doariam mais e de bom grado, enchedo de alegria os corações. Devemos abrir os olhos, cultivar a percepção delicada aos sofrimentos alheios para aprendermos a tocar nas feridas com mãos peritas.
Isso seria a coisa mais humana deste mundo.
Por que preferimos executar uma obra desumana, atormentar e fazer correr as lágrimas? Disse uma mãe: Seja bom, meu filho! Ela tem a revelação de coisas que ninguém avista. É por isso que com sua simples presença ela prova tudo. Ela anima, diz a quem sofre, ainda que seja o último e o mais miserável dos filhos: você não está esquecido. É por isso que o ser humano, tão mau como é, reconheceu a bondade como divina, e nunca Deus lhe apareceu tão claramente como na figura de uma mãe, movida pela piedade e pela dor.
Nos caminhos obscuros que podemos cair, só à bondade enxerga o clarão da saída.
BNN
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