As corredeiras
Atualizado dia 2/1/2020 7:20:27 PM em Espiritualidadepor Adriana Mangabeira
Honro as corredeiras de rio que há em mim e cultivo cada vez mais.
Contemplo a beleza da perfeição da natureza e me vejo ali.Sou água de corredeiras.
O rio flui, segue, não porque não se importe com as pedras do caminho ou com as árvores, o céu e tudo que há.
Mas - justo por honrar a si -, pode honrar aos demais e permitir que cada um seja - ou esteja - em seu lugar.
O rio sabe que seu destino é seguir e chegar onde precisa ser e estar. O movimento e velocidade quando tudo favorece - o vento e a inclinação - a FLUIDEZ é sua natureza.
As corredeiras não se adaptam no sentido de agir igual às pedras. As pedras são os obstáculos [circunstâncias ou pessoas paralisadas], mas sim respeitam que a pedra não pode ser móvel e veloz, ela simplesmente é pedra. Mas não se paralisa, respeita, honra, agradece a bela parada - que gera até algumas piscininhas calmas para servir as formas de vida ali -, mas contorna e mantém sua natureza e destino.
E assim me vejo e sou. Corredeira que é rio e vento, água e ar, que se nutre na temperatura do sol, do descanso das pedras, mas mantém sua blindagem em sua verdade, mas também no respeito à verdade do outro.
Um rio nunca se julgará superior - por sua natureza - às pedras ou árvores, aparentemente imóveis [mas que é só diferença de ritmo], e vice-versa.
O respeito à nossa própria natureza permite o respeito e liberdade à natureza e escolha dos demais. O ritmo não é individual, é orquestrado, sistêmico, mágico e incognoscível.
Eu vejo o Amor presente em tudo isso e sou grata por ser parte e contribuir em algo tão majestoso e singular.
E assim, para mim, é o Amor. É estar integrado e em respeito e carinho à todos por quem passar, mas seguir, escolhendo o não pesar de esperar retribuição de contrações feitas em si por opção, ali, do outro lado.
E o mais bonito do rio, é uma grande água, mas quantas águas estão ali? É saber-se só, mas saber que é um com almas afins, que seguem junto. Por que querer trazer a pedra junto? Por que não olhar pra quem já é uma família de afins? Por que não apenas sentir esta família ao invés de esperar TER todos ali perto ao redor?
Que grande alegria visitar a pedra e aprender ali. Que grande alegria visitar a árvore e aprender ali…
E que bom ter contribuído com o que sou para este ser divino também…
Mas que grande felicidade em ser quem sou e estar com afins…
E seguir.
Poesia?
Mas o que seria a poesia senão um momento de apreciação da beleza que já existe e congelamos num instante de percepção e epifania?
Portanto, a poesia é a vida, com permissão a ser percebida.
Por isso, são tão valiosas as visitas às pedras, às árvores… a tudo que desacelera e deixa um pouco de si nestas águas deste rio que nunca permanecem igual, durante seu fluir.
FLUINDO.
AS CORREDEIRAS
Adriana Mangabeira
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