As Três Tentações de Cristo e as Três Filhas de Mara: O Desafio ao Caminho da Iluminação

Autor Paulo Tavares de Souza

Assunto Espiritualidade
Atualizado em 2/23/2025 8:03:47 AM

A jornada espiritual, seja no cristianismo ou no budismo, passa pelo confronto direto com as forças da ilusão e do desejo. Tanto Jesus Cristo, no deserto, quanto Sidarta Gautama, sob a árvore bodhi, enfrentaram provações que testaram sua determinação.

Em ambos os relatos, as tentações surgem em três formas distintas: no cristianismo, são apresentadas pelo Diabo; no budismo, personificadas nas filhas de Mara. Essas provas não são apenas obstáculos, mas representações simbólicas dos desafios que todo buscador da verdade precisa superar.

1. A Tentação do Desejo Físico

Cristo: Após jejuar por quarenta dias no deserto, Jesus sente fome. O Diabo então o desafia: "Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pão." (Mateus 4:3). Aqui, a tentação é o apego às necessidades do corpo, à satisfação imediata dos sentidos.
Sidarta: A primeira filha de Mara, Tanha (Desejo), tenta seduzir o futuro Buda com promessas de prazer e gratificação. Ela representa a fome da carne, o desejo incontrolável que nos prende ao mundo material.

Paralelo: Ambos os mestres espirituais rejeitam essa tentação. Cristo responde: "Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus." Sidarta, por sua vez, permanece imóvel, sem se deixar afetar pelos encantos de Tanha.

2. A Tentação do Poder e do Controle

Cristo: O Diabo leva Jesus ao alto do Templo e o desafia: "Se és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois os anjos virão te salvar." (Mateus 4:6). A provocação aqui é o orgulho, o desejo de provar sua grandiosidade, de se colocar acima da ordem natural.
Sidarta: A segunda filha de Mara, Arati (Aversão), tenta instigar a dúvida e a insatisfação. Ela sussurra que o mundo é injusto e que Sidarta deveria lutar contra isso, agir, demonstrar seu poder. Mas o futuro Buda, já livre do apego ao controle, permanece em silêncio.

Paralelo: Tanto Cristo quanto Sidarta rejeitam essa armadilha. Jesus responde: "Não tentarás o Senhor, teu Deus." Sidarta, igualmente, não se deixa levar pela provocação de Arati, pois entende que o controle sobre o mundo é uma ilusão.

3. A Tentação da Glória e do Ego

Cristo: O Diabo leva Jesus ao topo de uma montanha e lhe oferece todos os reinos do mundo, dizendo: "Tudo isto te darei, se prostrado me adorares." (Mateus 4:9). Aqui, a tentação é a do poder absoluto, a promessa de domínio sobre tudo e todos.
Sidarta: A terceira filha de Mara, Raga (Paixão), representa a sedução do ego, a ânsia por reconhecimento e adoração. Ela sussurra que Sidarta pode se tornar um grande governante, um soberano amado por todos. Mas ele, indiferente à fama e à glória, permanece inabalável.

Paralelo: Jesus responde: "Vai-te, Satanás! Porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a Ele servirás." Sidarta, sem ego, sem desejo de reconhecimento, apenas toca a terra, e Mara é derrotada.

O Caminho para Além da Ilusão

Ambas as narrativas ensinam que o verdadeiro poder não está no desejo, no controle ou no reconhecimento, mas na libertação dessas ilusões.

Cristo escolhe o caminho da obediência a Deus, enquanto Sidarta se torna Buda ao transcender o próprio ego.

Dois caminhos distintos, mas que apontam para a mesma verdade: a iluminação e a libertação só são possíveis para aqueles que vencem as ilusões do desejo, do medo e do orgulho.

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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Paulo Tavares de Souza
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