BENFEITORES REENCARNADOS...



Autor Christina Nunes
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 04/07/2008 20:34:56
Existem os benfeitores desencarnados... guias, mentores, espíritos protetores que nos tomam sob tutela durante todo o período da vida corpórea. Mas também existem, e bem numerosos, os nossos benfeitores reencarnados. É comum encontrá-los em circunstâncias corriqueiras, em episódios do cotidiano - presenteando-nos com uma grande e significativa ajuda em momentos nos quais o que está em jogo, eventualmente, é nada menos do que a nossa sobrevivência!
Hoje, no trajeto para o trabalho diário, fui recordando um desses episódios. Acontecido há muitos anos, quando ainda era solteira e volta e meia passava períodos de férias da faculdade na casa de praia de algumas amigas em Cabo Frio, na Região dos Lagos fluminense. Havíamos combinado um passeio à praia das Conchas, com várias pessoas. Eu, esta amiga da faculdade, uma outra amiga dela, na casa de quem nos achávamos hospedadas em São Pedro da Aldeia, na base da Marinha... que por sua vez levara toda a escadinha da sua filharada, um monte de menininhas que variavam desde os quatro ou cinco anos até uma adolescente de uns dezesseis anos, muito simpática, chamada Jurema.
Pois foi esta adolescente simpática a minha benfeitora reencarnada daquele dia!
A praia das Conchas tem nos seus limites uma cadeia de rochedos dos quais a esta altura não me recordo com muita nitidez, a não ser pelo detalhe importante de se fazer limítrofe entre dois grandes trechos de praia. Escalando este rochedo íngreme e cheio de tocas e de reentrâncias, vê-se lá embaixo o mar aberto rebentando rumorosamente nas suas bordas escarpadas, e, mais adiante, a continuação da costa.
Nós, com o bando alvoroçado de crianças, havíamos planejado um passeio a pé para o outro lado. Fomos, várias pessoas reunidas, das quais não me recordo bem agora de todas, todavia nitidamente da presença da criançada em euforia correndo pelas areias afora na nossa frente e galgando as escarpas acidentadas com a agilidade de cabritos montêses. Nós, junto a elas, eu, esta amiga, e a Jurema, junto, ciceroneando o bandinho. Fomos para a outra banda da praia sem maiores problemas - mas toda a confusão comigo se deu foi na volta!
As crianças escorregavam e escorriam por entre aquelas reentrâncias acentuadas com a facilidade com que coelhos se esgueiram por entre um matagal fechado, aos gritos e saltos, numa agilidade invejável, logo desaparecendo na curva acentuada lá da frente e ganhando o espaço aberto da praia onde anteriormente havíamos montado as nossas barracas. O problema, contudo, se deu comigo...pois com o porte de uma adulta, e em me vendo encurralada numa daquelas cavidades fronteiriças com o precipício ameaçador encosta abaixo, caí na besteira de olhar para o abismo justo quando passava, dando com as ondas furiosas rebentando lá embaixo com estrépito! E uma paralisia de terror me congelou, encolhida naquele buraco por onde as crianças passaram sem nenhum maior problema, em correria desabrida - sem conseguir mexer nem mais um dedo!
Mais à minha frente um pouco a Jurema, vencendo o caminho tortuoso e acidentado, voltou-se e deu comigo congelada lá atrás, acuada naquela situação impossível. Estranhou a minha imobilidade esquisita e perguntou o que acontecia. Chamou, para que saísse dali.
Ao que só consegui responder, mexendo apenas a boca, estática:
- Não dá! Não consigo me mexer! Não vou sair daqui, eu caio lá embaixo!
Imóvel! Os membros petrificados! Nunca vou esquecer a sensação horrorosa, idêntica a daquelas ocasiões em que, em meio a um pesadelo pavoroso, não conseguimos voltar para o corpo físico com completude e percebemos que estamos paralisados, sem conseguir mexer um rebite!
Foi neste ponto que a benfeitora reencarnada se revelou... naquela adolescente risonha de quem ninguém diria ser capaz de tamanha serenidade numa contingência tão difícil!
- Calma! Você tem o dia todo para sair daí. Fique quieta um pouco... - começou por dizer... E depois faça o que vou dizer!
E continuou, quando me percebeu mais calma e que tinha a minha atenção e confiança:
- Vamos. Tente colocar este pé ali... - e apontou para um lugar qualquer... Isto; agora se arraste um pouquinho, sem olhar para baixo. É só fazer isto que você se apóia ali, e pronto. Venha; e depois me dê a mão...
E por sua vez se aproximava mais, gentil, em atitude e modo de se expressar de uma tranquilidade da qual até hoje me espanto, em se considerando a gravidade do momento pelo qual passava; porque, de fato, se fizesse ali qualquer movimento apavorado e impensado, poderia mesmo ter despencado ribanceira abaixo!
Saí da situação impossível na qual me meti, com a sua ajuda de anjo da guarda improvisado. Certamente agradeci até onde pude! Se já simpatizava com a mocinha risonha, guardei para a eternidade a lembrança da sua intervenção iluminada num momento da minha vida no qual, ainda muito jovem - e posso dizer com segurança! - renasci novamente!
Se pararmos para pensar, a espiritualidade benfeitora nos ampara e acolhe a partir de todas as dimensões da vida. Jurema era, pois, uma dessas benfeitoras. E hoje, mais de vinte anos depois, compartilho com vocês este episódio comprovador desta certeza, para ainda uma vez dirigir a ela, seja lá onde esteja, o meu carinho e o meu beijo de luz!
Voa, voa por aí, Jurema! Com as suas asinhas de protetora espiritual, camufladas na singeleza da aura refulgente da sua cândida bondade, com toda certeza ainda marcando presença na hora certa junto a quem dela necessite, neste mundão de Deus!
Com amor e amizade,
Christina Nunes é escritora e palestrante espírita. Médium psicógrafa dos romances de autoria do espírito Caio Fábio Quinto: O Pretoriano (Mundo Maior Editora), Sob o Poder da Águia; Elysium, Uma História de Amor Entre Almas Gêmeas (Lúmen Editorial)
Em breve, pela Lúmen, o lançamento de seu quarto livro, Entre Jesus e a Espada, do mesmo autor espiritual









Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |