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Câncer – cartão de embarque para onde?

Atualizado dia 21/05/2013 17:06:08 em Espiritualidade
por Marilene Pitta


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Vivemos num momento aterrorizador para nós mulheres. As pesquisas dão um indicativo cada dia mais crescente das estatísticas do câncer em nós. É uma doença maliciosa, chega sem avisar, nenhum sinal. 

Instala-se e nos leva para o abismo do medo. Passei pelas bancas de revistas e só vi estampada a beleza de Angelina Jolie (assustada e bela). Tomou uma decisão que mexeu com a psique de todas nós mulheres. Teve acesso à informação que tinha 80% de chance de ter um câncer de mama. Tomou uma decisão radical: se o alvo são os meus seios... tiro-os e me livro desse tiro certeiro. Como em alguns dos seus filmes famosos: atiro fora do meu caminho. Atiro e mato. Pronto. Estou salva.

Foi nesse contexto de opiniões, análises de gente contra, gente a favor,que me veio novamente o registro de quando a morte chega sem pedir licença.
Isso aconteceu comigo (há mais de vinte e cinco anos). Minha querida irmã (filha depois de mim, que sou a mais velha, uma guerreira, lutadora, valente de um riso encantador; gente boa minha irmã.). Adorava Roberto Carlos. Fera ferida era a sua música. Um dia foi ao médico e veio com a seguinte notícia: vou cuidar de mim, tenho um tumor e a operação será na próxima semana. Foi tão assustador para mim que emudeci. Vaidosa não tirou o seio, quis o peito machucado perto do seu coração.
Engraçado que ela falava de tantos planos que o câncer foi chegando devagar e tomou conta. Meu Deus! Hospital. Cuidados. Quimioterapia. Viagens e viagens em busca da cura. É nítido em minha lembrança quando estávamos na sala e passava um trio elétrico. Ela veio se arrastando. Não deu tempo ir atrás do trio. Ficou o som. O trio elétrico se foi. Naquele instante, a morte tornou-se presente. Era como uma rainha, dava as ordens e todos tinham que obedecer sem protesto. Você vai. Você fica. A longa fila de todos obedecendo à senhora morte sob o olhar vigilante do câncer que não saía do lugar. Devorava o corpo. Tinha fome de cabelos e eles caiam fartamente. A dor era calada. A ferida era intensa. Orações. Promessas. Como rezávamos e confiávamos. A família unida segurando o choro e esperando... Enfim, ela veio e levou a minha irmã, mãe de uma linda menina (hoje uma fisioterapeuta empresária). Tinha sete anos e a mãe 26 anos! Feroz esse câncer!Fiquei sem saber o que fazer com uma perda tão jovem, bela e cheia de planos.

A dor foi tanta que não se esgotou com o tempo. Refleti e rezei muito. Depois tomei uma decisão: vou fazer alguma coisa. Dizer como é a senhora da morte, como chega, os sintomas, os cuidados. Enfim, falar algo. Expressar a dor. Mais uma vez, agradeço a arte, a poesia e a palavra que veio rápida. Texto pronto sobre o “Câncer”.

Vamos à luta. Marquei hora com o médico oncologista que tinha cuidado da minha irmã. Texto, trilha sonora, personagens, história. Então, eis aqui uma proposta de Saúde-Educação. Leia e decida se estamos juntos nessa luta. Deveríamos fazer um trabalho de Arte, Teatro-Educação sobre o câncer para a população de nossa amada cidade. Ele me pediu um tempo.

Depois de uma semana me ligou e disse: não sei nada de encenação, mas vamos fazer, é uma forma de informar à nossa comunidade sobre os exames preventivos e discutir essa questão da morte de uma forma reflexiva.

Iniciamos o processo. Convocamos professores, pessoas da comunidade. E o elenco foi se formando com um laboratório vivo e tocado pela presença de todos. Os ensaios à noite. Lá ficávamos discutindo com o grupo. As falas. Os gestos. As marcações. A iluminação. A trilha sonora. A composição dos personagens. Uma professora conceituada na cidade resolveu fazer uma cena com os seios à mostra explicando como se faz um exame. Esse trabalho nos fez muito bem, um exorcismo da senhora morte. Entendi o quanto um sistema de crenças inadequado com ideias falsas, valores incorretos podem e vão prejudicar a saúde de nossa psique. O corpo fala, as emoções se expressam, as dores da alma quando caladas e sufocadas reagem e enlouquecem. Os sentimentos furiosos dentro de cada uma de nós fazem um desastre terrível.
A cada ensaio, as pessoas ficavam mexidas e falavam com as famílias e uma rede de solidariedade cresceu e se fortaleceu.

Assim foi. Pensava em minha irmã, tomava fôlego e ia em frente. Tudo pronto. Teatro lotado. Gente de todo lugar. Pobre. Rico. Silêncio absoluto. O câncer se mostrava para todos e todas. A senhora da morte como uma imperatriz nos olhava. As pessoas não aplaudiram, elas silenciaram. Todas as mulheres sabiam dos riscos. Fizemos denúncia dos planos de saúde. Da necessidade de projetos para a Saúde da Mulher. Há quase 30 anos...

Fomos para os bairros mais pobres. A encenação era onde dava para fazer. Eu sabia que estava me reconstruindo, curando as feridas, cicatrizando a alma em perplexidade. Nesse trabalho, o poeta Manuel Bandeira muito ajudou nas suas poesias. Fizemos o nosso melhor. Certamente, na memória de cada pessoa está essa história de vida.

Aí, depois de várias encenações fiquei em paz. Vi a população mais consciente dos riscos. Depoimentos de mulheres que fizeram os exames e estavam conseguindo uma sobrevida. Parece que quando se fala sobre o assunto ele perde a força do apavoramento, do medo, da perda.

Assim, agradeço essa experiência à minha irmã que me ensinou a morrer com dignidade e altivez. Numa tarde linda, ela se foi. Fez a passagem em meus braços. Entre rezas e lágrimas, o câncer passou por nós.
Hoje, medito e falo para o meu corpo: vamos vivendo com beleza, com alegria, com mais silêncio, com mais amor. Libere, amado corpo pensante, a palavra não dita, o abraço recusado, o beijo não roubado, a mágoa que se vai como uma chuva fina que cai na calçada. Estamos no Outono, estação da renovação da Natureza e que esse processo também se faça em nós. O possível! Aprender a abençoar cada dia, cada coisa com afeto que jorra da fonte do coração puro.
Foi o jeito que encontrei para conviver com o fantasma do câncer. Ele deve estar dormindo em meu corpo, afinal, somos irmãs. Em relação à Angelina Jolie –anjo de luz– as mamas se foram, os riscos diminuíram... E se ele vier por outra via... Uma transversal... Um atalho...
Um caminho torto. Nunca se sabe. Ainda acredito que ter consciência é o caminho saudável para as aventuras do viver e do morrer...

Quando??? Interrogação de pernas ar. Ainda bem.

Não temos o controle quando ela virá ao nosso encontro, chamar-nos pelo nome, e mesmo que não queiramos teremos que dizer: presente. Lá vou eu. Levando nas mãos o cartão de embarque... Para onde...

Prefiro o céu iluminado!

Texto revisado

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Conteúdo desenvolvido por: Marilene Pitta   
Formada em Registros Akáschicos;Alinhamento Energético;Terapia Floral;Formação Holística de Base (UNIPAZ) com Pós Graduação em Terapias Holísticas;Mestrado em Educação e Desenvolvimento Humano. Consultas em Roda Xamânicas. Animal Poder.Atendimento com Conexão com o Povo das Estrelas (Arcturianos e Pleidianos). Atendimento á Distância e Presencial.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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