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CATIVANDO A ALMA

Atualizado dia 10/06/2010 15:40:19 em Espiritualidade
por Oliveira Fidelis Filho


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Não faltava tecnologia nem recursos em termos de som, imagem e mídia. Entretanto, o que mais me chamou a atenção, e também me expulsou do local, foi o discurso a plenos pulmões que o pregador "transpirado" despejava sobre o auditório.

Gritos que não deixavam espaço a reflexão, ou seria este o objetivo? Se refletissem será que permitiriam que seus ouvidos continuassem expostos a tais estupros e arrombamentos?

O barulho era ensurdecedor! Infelizmente, não é só um jeito exagerado de falar. Com o passar do tempo, uma pessoa exposta a sons muito altos pode ter a audição comprometida; infelizmente, "orelha não tem pálpebra".

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o limite suportável para o ouvido humano é 65 decibéis, ou seja, de uma conversa. Acima disso, o organismo começa a sofrer.

Em longo prazo, o ruído excessivo pode causar gastrite, insônia, aumento do nível de colesterol, distúrbios psíquicos e perda da audição. Provoca ainda irritabilidade, ansiedade, excitação, desconforto, medo e tensão. 

Ao perceber algum destes sintomas, antes de culpar o diabo ou pedir a Deus a cura, observe o volume de som ao qual se expõe pois uma das causas pode ser o diabo-do-som-alto.

Para expressar amor, paz, esperança, confiança, o melhor caminho é a palavra mansa. Por que gritar, se o que deseja transmitir é a paz?

O artifício do grito, do esbravejar, é geralmente a forma mais usual de mascarar o caráter fraco e desvirtuado, a pobreza de argumento, a escassez de conteúdo, a insegurança pessoal. 

O discurso oriundo de pessoas rasas, incongruentes, emocionalmente enfermas, possui em comum a agressividade e a defesa legalista da moral religiosa.

Ao ver alguém vociferando, freneticamente gesticulando, a imagem que me vem não é a de Jesus.

Fala-se ao coração com palavras mansas, suaves, calmas, amorosas, sussurrantes... Ninguém grita quando fala ao coração, até porque o coração é Crístico, ou seja, é a morada de Cristo e, no mínimo, não é delicado gritar com Cristo. Penso que não!

Quem fala a alma, fala ao coração e o coração não deve ser arrombado. Jesus sabia que assim é, por isso disse: "eis que estou à porta e bato". Batia, entretanto, com suavidade, pois era "manso e humilde de espírito". Entendia que só assim as pessoas encontrariam "descanso para suas almas". Em seu inigualável Sermão no Monte, assentou-se para falar; impossível imaginá-lo gritando... Jesus sabia como cativar uma alma!

Criamos maus ouvidores pois temos péssimos faladores! Pessoas que gritam com o auditório como pais incompetentes, fracos e covardes, gritam com os filhos. O grito expõe a falta de amor, de autocontrole, de maturidade, de competência, de paciência e de diálogo. Não é assim que a alma se expressa ou que se expressa para a alma!

Muitos se propõem falar à alma sem contudo compreendê-la, sem nunca tê-la antes ouvido. Desconhecem o mapa da alma que permite passear por seu território, que faculta admirar as dimensões deste encantado universo. Jamais mergulharam na própria essência aonde alma e Deus coexistem.

Jamais perguntaram sobre a função da alma, pois do contrário saberiam que é mais importante ouvi-la do que dirigir-lhe qualquer palavra, não há o que ensinar, pois por ela flui toda Sabedoria.

Na alma não há julgamento, entretanto, o que entra em contato com ela se absolve ou se condena. Diante dela nenhuma máscara sobrevive. Na balança da alma são pesados os sentimentos, pensamentos e atos; o que harmoniza com ela goza paz e alegria.

Para quem deseja falar à alma é importante saber que ela só é tocada por outra alma. Alma possui linguagem única e universal, partilham todas da mesma essência. Quando expressada é percebida e sentida, vista e amada. Toca o âmago do ser, suavemente e de forma direta.

Para que uma alma se sinta cativada é preciso que lhe mostremos a nossa alma. Uma mente brilhante, um raciocínio lógico destituído de alma não lhe desperta interesse. Aconchegamos o outro quando nos expressamos com a nossa alma, pois é por meio dela que se estabelece o verdadeiro encontro, a intimidade que só é intimidade se for de alma.

A expressão da alma se caracteriza pelo silêncio, sossego, serenidade, mansidão, paz e alegria. Ela pode ser vista com facilidade onde há harmonia e liberdade.

É simbolizada pela borboleta, move-se com liberdade e leveza. Não deve ser alvo de colecionadores, aprisionada, alfinetada, desidratada.

Há, entretanto, muitas pessoas que no desejo de salvar ou encontrar a própria alma tornam-se prisioneiras dos vendilhões da liberdade, dos inescrupulosos e mentirosos salvadores de alma.

Uma alma só pode ser encontrada e "salva" pela pessoa em quem habita. Ela habita a essência humana, é a imagem de Deus em nós. Encontrar a alma significa salvá-la de nós mesmos, o que resulta em nossa própria salvação. Salvar a alma é responsabilidade pessoal e intransferível.

Faz bem quem se aplica a sentir e ouvir a própria alma, pois por ela Deus fala. Onde for possível reconhecer a expressão da alma será igualmente possível perceber a presença do próprio Deus.

Com humildade e mansidão é construído o berço de toda alma, é onde ela descansa. 
 

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Conteúdo desenvolvido por: Oliveira Fidelis Filho   
Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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