Celebrar é renovar o milagre da vida
Atualizado dia 04/12/2013 00:25:35 em Espiritualidadepor Ton Alves
Uma delas é a transmissão oral dos ensinamentos antigos feita pelos mais velhos às crianças e aos jovens. Nas noites de Lua cheia, não é a televisão nem os aparelhos de som que dominam a vida doméstica. Mas sim o retorno cuidadoso ao cultivo de suas tradições.
Ao pé da fogueira, construída no centro da aldeia, os anciãos relembram, com a voz solene e gestos litúrgicos, as lendas que deram origem e que sustentam a crença, os valores e os costumes daquela etnia.
Uma destas parábolas, a origem dos dias e noites, revela que no princípio do mundo só havia a noite. Eterna, fria e imutável. De tanto os Lakota pedirem e clamarem aos céus, o Wakan-Tanga, o Grande Mistério, resolveu mandar seu filho, o Sol, visitar a Terra.
Quando chegou com sua luz e calor inundando tudo de vida e beleza, o Sol foi festejado, adorado e recebido com grande festa. Quando se cansou de girar no céu, o Astro Sagrado resolveu se esconder atrás das grandes montanhas para repousar. Os homens e os bichos ficaram com medo. Esconderam-se nas tendas e nas cavernas, tremendo de frio e pavor. Por pena do povo, Wakan-Tanga despertou seu filho e mandou ordenou voltasse a brilhar sobre o mundo.
Quando o Sol voltou a percorrer o céu, os Lakota festejaram, alegraram-se e agradeceram ao grande deus. Depois o Sol foi descansar. Mas os homens não ficaram em pânico. Sabiam de logo o Sol voltaria. Então, festejariam a vida, a luz e o calor.
Com o passar do tempo, com as idas e vindas do Sol, o povo se acostumou com essa rotina. E logo já não festejavam o raiar do dia, nem se preocupavam com a chegada da noite. Quando, do início do século XVI, os brancos começaram a invadir suas terras, matar seus filhos, violentar suas mulheres e acabar com sua caça e seus frutos, os Lakota lembraram que haviam se esquecido de Wakan-Tanga e do enorme presente que haviam recebido do Grande Mistério.Tentaram voltar a festejar o nascer do Sol. Mas perceberam que já era tarde demais. Wakan-Tanga estava magoado com o grande crime: a submissão do espírito humano à rotina que enferruja os valores e caracteres.
Para esse que é o mais espiritualizado e ético indígena americano, render-se à rotina é crime terrível, pois é o crime da ingratidão. É a falta que faz com que os homens deixem de ser humanos e voltem a ser animais. Os bichos não recordam, não celebram sua história e não agradecem ao Grande Mistério o milagre da vida.
Nestes tremendos e fascinantes tempos de transformações que a Humanidade vem vivendo, as lições da Eterna Sabedoria que se manifestou nos corações de todos os seres humanos em todos os tempos e lugares readquire um valor renovado. São ensinamentos que funcionam, ao longo da História, como bússolas e lâmpadas a revelar e indicar o caminho firme da evolução espiritual.
Texto revisado
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Ton Alves é coordenador do Projeto CASULO DE LUZ de incentivo à prática da MEDITAÇÃO HOLOMÍSTICA TRANSRELIGIOSA (MHT), baseada no exercício do silêncio interior, na contínua atenção ao instante presente e no amplo cuidado com as várias dimensões da realidade. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |