Conflitos de gerações
Atualizado dia 2/12/2012 4:45:30 PM em Espiritualidadepor Paulo Salvio Antolini
Nesta semana, conversando com um empresário que conheci em uma de minhas palestras e ao qual fui visitar, ouvi dele como está difícil passar para os filhos o patrimônio construído. Sendo um empreendedor e visionário no segmento que abraçou, tem seu espaço garantido no mercado. Sedimentou toda sua vida na empresa, possui vários filhos e nenhum quer assumir sua empresa e dar seqüência ao negócio. Como alternativa, está abrindo espaço para que seus funcionários possam se tornar seus sócios, pois não quer ver sua empresa "morrer" após o seu afastamento definitivo. "Tenho amigos no norte e no sul do país e eles passam pelo mesmo problema, além de dizerem que este também é um problema dos seus colegas na região".
O que aparentemente é um mero problema de opção profissional vai mais além. Pessoas na faixa entre 50 e 65 anos vêm de uma criação em que os pais se sacrificavam para lhes dar uma condição de vida melhor. E muitos conseguiram. Nós, com um pouco mais de recursos, estudo e visão de mundo, passamos a olhar para nossos filhos como aqueles que teriam ainda uma condição melhor do que a que nós tivemos. E passamos, então, a ser pais provedores e poupadores de dificuldades para eles.
Hoje nos deparamos com uma geração que não se viu na condição de necessidade de tomar decisões e assumir responsabilidades que os fizessem sobreviver digna e honestamente no mundo em que estão. Com um mundo onde mudanças radicais ocorreram, desde o ensino nas escolas, já que antes era preciso passar, hoje não se pode, por lei, reprovar e então a criança e o adolescente vão empurrando suas dificuldades até o momento crucial, que é o final do período, onde aí sim pode haver uma retenção e onde se poderia vislumbrar muitas opções de atividades, o que se vê é uma grande insegurança na escolha da carreira. Infelizmente se observa um percentual considerável de adolescentes que optam pelo curso mais fácil ou mais barato, mas que inevitavelmente, ao longo do tempo, tornar-se-á mais difícil de conviver nele, pagando-se então um preço muito caro pela escolha feita.
E o que isso tem a ver com o problema sucessório? Pois bem, saibam que a grande maioria não dá seqüência ao negócio dos pais e que, dos cem por cento que assim decidem, apenas uns poucos fazem uma opção que se torna bem sucedida. É muito grande o número de filhos que, aos 30, 35 e mesmo 40 anos de idade ainda não se encontraram profissionalmente e continuam necessitando do apoio e provento de seus pais, mas também não abrem mão de sua posição, "Eu sei o que estou fazendo".
Vocês sabem também que quanto maior a insegurança pessoal, maior a necessidade de auto-afirmação e que isso normalmente ocorre de forma ostensiva e agressiva?
Quando ouço pais trabalhadores, honestos e bem sucedidos dizerem: "meus filhos não passarão pelo que eu passei", fico muito preocupado, pois vejo ali um campo farto para a insegurança e indefinição que vai se instalar naqueles adolescentes.
Querer poupar nossos filhos das dificuldades da vida é dar a eles um sofrimento muito maior. Nós não viveremos o tempo todo, nós nem temos tantos bens materiais que garantam a eles a sobrevivência de suas vidas e mesmo que isso ocorresse, nós estaríamos também garantido-lhes a insatisfação por não se perceberem realizadores.
Possibilitar condições melhores não significa poupá-los de trilhar seus próprios caminhos. Como pais "zelosos" estamos sempre lhes poupando de fazerem por si só as suas opções e assumirem a conseqüência delas. Tudo na vida é conseqüente. Em vez de poupá-los, que tal apenas ajudá-los a responderem por suas opções e decisões?
Continuaremos este assunto.
Texto revisado
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