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Consciência Ambiental e Espiritual – Parte 1

Atualizado dia 8/5/2018 1:44:21 PM em Espiritualidade
por Íris Regina Fernandes Poffo


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A consciência ambiental não é algo recente, algo da chamada “Nova Era”. É muito mais antigo. Tal como a consciência espiritual. Será que podemos dizer que estão interligadas?

Na China antiga, aproximadamente no Século 6 aC, muitos dos ensinamentos de Lao Tsé, de quem se originou o Taoísmo, estão associados com a imponência e a simplicidade das montanhas, com o movimento das águas dos rios e do vento, tal como na relação dos movimentos do Tai Chi Chuan, e dos exercícios de Chi Kung ou Qigong. Também observamos isto na essência da Medicina Tradicional Chinesa e a relação entre a saúde ou doença, a relação entre os elementos da natureza (água, fogo, terra, madeira e metal), a saúde e doenças. Mas com o passar dos anos, os interesses materiais prevaleceram.

A essência da cultura e das tradições dos povos indígenas, dos povos das montanhas, das florestas e do mar, seja no Brasil, em outros países da América (Latina, Central e do Norte), África, Austrália e Ásia estava baseada na relação harmônica com a natureza e com suas divindades. Assim também enxergava o italiano Francisco de Assis (1181 - 1226), que posteriormente foi denominado santo protetor dos animais e da natureza. Mantendo uma visão mais antropocêntrica e materialista, na Europa, na Idade Média (Século V ao XV), a Terra e o homem (europeu) eram tidos como centro do universo. Quando o cientista Galileu Galilei (1564 – 1642) desejou expandir esta consciência, mostrando que a Terra girava em torno do sol, e não o inverso, quase foi queimado vivo. Na interpretação que eles faziam da bíblia, sentiam-se superiores às outras raças, a todos aqueles que não fossem semelhantes a eles na cor e na religião, achando-se assim no direito de impor suas crenças e costumes.

Baseado nesta falsa sensação de superioridade, movidos pela ambição do dinheiro e poder, extensas áreas de florestas foram destruídas na Europa, África, América e Ásia, animais silvestres foram extintos, tribos africanas e indígenas foram extintas; civilizações incas, maias e astecas foram dizimadas. Inúmeros rios, transformados em canais de esgoto, ficaram tão poluídos que até hoje não se recuperaram. Morrem os rios, morrem os peixes e as aves que dele se alimentam. Quanto mais águas contaminadas, mais pessoas doentes. Rios e mares, berço da vida do Planeta Terra, não foram e não são respeitados como deveriam.

E, com esta maneira de pensar foi passando de geração para geração, a situação do Século XIX não era diferente. Em 1855, o cacique Seattle, chefe de uma grande tribo, localizada no atual Estado de Washington, enviou uma carta ao presidente dos EUA, por estar interessado em “comprar suas terras”. O cacique descrevia como seu povo amava a natureza, alertando para as consequências que poderiam vir pela maneira com estavam agindo na caça indiscriminada aos búfalos, na exploração das florestas e do ouro. Destacamos duas frases: “Tudo que ocorrer com a terra, recairá sobre os filhos da terra, há uma ligação em tudo” e “uma coisa sabemos, nosso Deus é o mesmo Deus”! (1)
O que temos aqui? O princípio da lei “da ação e reação” e a visão holística de Deus, dito por um índio “pele vermelha”, considerado pagão e ignorante por eles. Talvez o cacique desconhecesse o Novo Testamento, mas o teor da sua carta nos faz lembrar aquela lição de Jesus: “não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mateus 6:8–24).

Chegando ao século XX, a era da industrialização e da tecnologia, seja na Europa, na América do Norte ou na Ásia, trouxe muitos avanços e benefícios à vida nas cidades e nas áreas rurais, ampliou a exploração dos recursos naturais até as profundezas dos oceanos, mas não trouxe muitos avanços na relação de respeito com a natureza, e com outros seres vivos. A visão antropocêntrica e egocêntrica prevalecia. Destaquemos aqui o gradativo descarte de resíduos domésticos e industriais, bem como de plásticos de pesca em rios, mares e oceanos e os efeitos negativos à vida marinha. Quem se lembra do primeiro filme Tubarão, lançado no Brasil em 1975, dirigido por Steven Spielberg? Há uma cena onde abrem a barriga de um tubarão e lá encontram uma placa de carro entre restos de alimentos ingeridos. Será que o péssimo hábito de ver  baleias e tubarões como assassinos e de achar que o mar é uma grande lixeira, não irá mudar? Sacos plásticos flutuantes e fragmentos de rede têm levando a morte centenas de aves que mergulham para pescar (atobás, gaivotas), tartarugas, golfinhos e baleias. Será que você poderia ajudar a mudar estas cenas?

Nos anos 1960, cresce o movimento “hippie” e a busca por maior contato com a natureza, por jovens que desejavam romper com padrões tradicionais da sociedade e da vida urbana. Neste contexto chega à Nova York (EUA), o indiano Srila Prabhupada, em 1965, então com 69 anos de idade, dedicando-se a transmitir os ensinamentos do Senhor Krishna sobre o propósito da vida, a relação amorosa com a natureza e com Deus, de maneira totalmente diferente a qual todos estavam acostumados(2) . Seus cantos de louvor a Krisnha, os exercícios de respiração, meditação e a alimentação vegetariana tiveram influência muito benéfica aos “nova iorquinos”, principalmente a jovens envolvidos com as drogas. Ele ensinou maneira diferente de se conectar com o divino, organizando seus encontros preferencialmente ao ar livre, em contato com sol, com as árvores, flores e pássaros. Surge assim uma oportunidade de mudança de consciência!

O também indiano Jiddu Krishnamurti (1895-1986) ensinava, entre outras fabulosas lições nas suas aulas e palestras, sobre a maneira desrespeitosa e agressiva como tratávamos os animais, seja na Índia seja na Europa. Ele deseja mostrar a importância de sermos mais conscientes dos nossos atos, sobre aprendermos a observar a tudo e a todos ao nosso redor sem julgamentos, sem rótulos. Olhar a árvore e respirar esvaziando os pensamentos. Será que você conseguiria ficar assim por alguns minutos? Conseguiria desviar o olhar do celular por alguns minutos? Disse ele: “Se vocês perderem o contato com a natureza perderão o contato com a humanidade. Se não houver relacionamento com a natureza, vocês se tornarão assassinos, ... perderão o respeito”(3). Vamos, então, desviar nosso olhar do aparelho celular de vez em quando e reparar na natureza ao nosso redor? Seremos capazes de reparar nas árvores, flores, borboletas, pássaros, chuva, sol, lua e estrelas e nos deixar envolver por esta energia?

Quando olhamos uma paisagem da natureza ou mesmo uma cidade vista do alto, temos a sensação que tudo está parado. Krishnamurti ensinava a perceber que tudo está em movimento, pois até uma árvore que parece imóvel está respirando, e junto dela milhares de insetos e micróbios lá estão operando. Muitas vezes nosso olhar nos engana. Não é? Observando as montanhas, os morros, as florestas tropicais, os rios, o sol e a lua, podemos notar que todos apresentam formas arredondadas, que há vários tons coloridos e que encantam os olhos. O mesmo não ocorre com os prédios, com os rios canalizados, com as áreas agrícolas: são retos e monocromáticos. O que estamos fazendo com a natureza ao nosso redor? O que verão as crianças de amanhã?

O líder indígena brasileiro e escritor Ailton Krenak, nascido em 1953, na região do Vale do Rio Doce (MG), disse em uma de suas palestras nos anos 1980 em São Paulo: “quando meu pai, meu avô, meus primos, olham aquela montanha, eles vêm o humor da montanha e sabem se ela está triste, feliz ou ameaçadora; e fazem cerimônia para a montanha, cantam para ela, cantam para o rio... o homem interesseiro olha uma montanha e calcula quantos milhões de toneladas de madeira, cassiterita ou bauxita, poderá ter ali...” Ele tem razão, “o homem interesseiro”, seguindo os passos dos colonizadores do passado, continua destruindo as florestas, os rios e as montanhas de maneira autoritária.

Citando o Mestre Ramatis: “se o ser humano questionasse mais a sua consciência, não poderia ele descobrir que a existência do desequilíbrio ecológico é um simples resultado do total desequilíbrio das suas relações interiores.”  ... “A preservação da natureza tem de iniciar-se no mundo íntimo do homem e não no mundo exterior. Se há equilíbrio na consciência, haverá equilíbrio também no planeta”. (4)

Então, depois desta pequena amostragem, será que você pode afirmar que o respeito à natureza está interligado com a consciência ambiental e maturidade espiritual?

Íris RF Poffo – agosto de 2019 – SP

(1) Carta do Cacique Seattle - pode ser lida em: http://www.culturabrasil.org/seattle1.htm

(2) Cante e Seja Feliz: conversas com John Lennon e George Harrison – introdução aos ensinamentos de Swami Prabhupada – Editora Madras.

(3) Jiddu Krishnamurti - frases extraídas do livro Sobre a Natureza e Meio Ambiente, (1975). Editora Cultrix.

(4) Frases de Ramatis: texto Ecologia Consciencial (p. 44) do Livro Viagem Espiritual de Wagner Borges, 1993 – 1ª edição;

Texto Revisado

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Conteúdo desenvolvido por: Íris Regina Fernandes Poffo   
Bióloga, espiritualista, terapeuta holística e escritora.
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