Contar com o coração
Atualizado dia 10/02/2011 23:35:34 em Espiritualidadepor Cléo Busatto
Silenciei e deixei que as respostas viessem por meio de sinais. Aos poucos, eles foram chegando. O que eu escrevia, inspirada na minha verdade, voltava como gratidão. Comecei a ler esses retornos e fui me dando conta, que apesar de falar com a razão formal, apresentando conceitos e conteúdos da arte literária, falo com a razão sensível, movida pela imaginação, pelos sentimentos e integro essas duas à minha vivência, à minha prática.
Enquanto educadora (e somos todos educadores nesse planeta!) acredito que o caminho de uma educação mais humanizada se faz com essa tríade constituída por saber formal, afetos, imaginação e transcendência.
Ora, esse também é o caminho da espiritualidade. Ele anda junto daquilo que se faz com o coração, mas exige conhecimento, discernimento, escolha e prática. Não é algo abstrato que cai do céu. A espiritualidade se constrói. Ela pede reflexão, meditação. É um caminho de liberdade, sem dogmas, democrático, pois se abre a todos que estão dispostos a ouvir seu Ser interior.
É um caminho trabalhoso, porque exige comprometimento do Ser. Não basta um discurso vazio e a repetição de fórmulas dadas. É preciso experimentar, exercitar, ser coerente com as descobertas. Como retorno por esse esforço e dedicação, nós conquistamos sabedoria, paz interior e nos religamos ao nosso Deus interno.
Creio que seja por aí que se dá essa conexão do que escrevo, com o foco do STUM e do seu leitor. Pensando nisso é que tenho selecionado os textos que lhe ofereço e, oxalá, eles possam ser uma pequena luz no seu caminho.
Hoje eu gostaria de comentar um pequeno segredo que revelo no livro Contar e Encantar[1]. Inicio um dos capítulos com esse contar com o coração, o que implica estar internamente disponível para a ação de narrar, doando o que temos de mais verdadeiro e entregando-se a essa tarefa, com prazer e boa vontade. Ao contar uma história, doamos o nosso afeto, nossa experiência de vida e compactuamos com o que o conto quer dizer. Por isso, torna-se fundamental que haja uma identificação, entre o narrador e o conto narrado.
Antes de sensibilizar o ouvinte, a história deve nos sensibilizar. A maneira como enxergamos será a mesma com que o outro irá vê-la. Se a considerarmos uma mera distração e entretenimento, será assim que irá soar. Mas, se acreditarmos que ela é uma pequena luz lançada no caminho do ouvinte, assim será.
O envolvimento com a história narrada permite maior flexibilidade ao narrador, pois ele imprime novos significados ao conto, priorizando passagens que lhe tocam, reforçando alguma imagem que lhe sensibiliza, uma intenção que considera válida. Se pensarmos a narrativa como uma atividade dinâmica, que atua sobre os diferentes níveis de realidade, a história se torna um caminho para o autoconhecimento.
São essas identificações entre narrador e conto narrado que fazem a diferença. Ou existe essa integração ou a narrativa deixa de ser uma experiência partilhada e passa a ser um simples repasse de informação.
Compartilhar, estar com, tomar parte de algo comum a nós. Um verbo importante para se conjugar, principalmente na contemporaneidade, momento que se apresenta tão fragmentado e rápido. Há que se parar o tempo e descobrir um novo tempo. O tempo de estar junto e somar, o tempo de compartilhar uma história de amor.
[1] Esse texto é parte integrante do livro "Contar e encantar - pequenos segredos da narrativa", Vozes, de Cléo Busatto.
Avaliação: 5 | Votos: 14
Escritora e contadora de histórias. Visite o site e blog www.cleobusatto.com.br cleobusatto.blogspot.com E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |