CONVIVENDO NO TEMPO ESPAÇO SAGRADO
Atualizado dia 16/09/2011 09:48:48 em Espiritualidadepor Paulo Rubens Nascimento Sousa
É preciso dizer, desde já, que a experiência religiosa do espaço constitui a experiência primordial, que corresponde a uma “fundação do mundo”. Não se trata de uma especulação teórica, mas de uma experiência religiosa primária, que precede toda a reflexão sobre o mundo. É a rotura operada no espaço que permite a constituição do mundo, porque é ela que descobre o “ponto - fixo”, o eixo central de toda a orientação futura. Quando o sagrado se manifesta por uma hierofania qualquer, não só há rotura na homogeneidade do espaço, como também revelação de uma realidade absoluta, que se opõe a não realidade da imensa extensão envolvente. A manifestação do sagrado funda ontologicamente o mundo. Na extensão homogênea e infinita onde não é possível nem um ponto de referencia, e onde, por tanto, nenhuma orientação pode efetuar-se, a hierofania revela um “ponto fixo”, “absoluto, um “centro”.
Vemos, portanto, em que medida a descoberta – ou seja, a revelação – do espaço sagrado tem um valor existencial para o homem religioso, porque nada pode começar nada se pode fazer, sem uma orientação prévia - e toda orientação implica a aquisição de um ponto fixo. É por esta razão que o homem religioso sempre se esforça por estabelecer-se “no centro do mundo”. Para viver no mundo é preciso fundá-lo. Em contrapartida, para a experiência profana, o espaço é homogêneo e neutro: nenhuma outra forma diferencia qualitativamente as diversas partes de sua massa.
O espaço geométrico pode ser cortado e delimitado seja em que direção for, mas sem nenhuma diferenciação qualitativa – e, portanto sem nenhuma orientação – de sua própria estrutura. Basta que nos lembremos da definição do espaço dado por um clássico da geometria. Evidentemente é preciso não confundir o conceito do espaço geométrico homogêneo e neutro com a experiência do espaço sagrado, e que a única que interessa ao nosso objetivo. O conceito do espaço homogêneo e a história desse conceito (pois foi adotado pelo pensamento filosófico e científico desde a antiguidade) constituem um problema completamente diferente, que não abordaremos aqui. O que interessa é a experiência do espaço total como é vivida pelo homem não religioso, quer dizer, por um homem que recusa a sacralidade do mundo, que assume unicamente uma experiência profana, purificada de toda a pressuposição religiosa.
É preciso acrescentar que tal existência profana jamais se encontra em estado puro. Seja qual for o grau de dessacralização do mundo a que tenha chegado, o homem que optou por uma vida profana não consegue abolir completamente o comportamento religioso. Até a existência mais dessacralisada conserva ainda traços de uma valorização religiosa de mundo.
Mas, por ora, deixemos de lado este aspecto do problema e limitemo-nos a comparar as duas experiências em questão: a do espaço sagrado e o espaço profano.
Lembremo-nos das implicações da primeira: a revelação de um espaço sagrado permite que se obtenha um ponto fixo, possibilitando, por tanto, a orientação na homogeneidade caótica, a “fundação do mundo”, o viver real. A experiência profana, ao contrário, mantém a homogeneidade e, portanto a relatividade do espaço. Já não é possível nenhuma verdadeira orientação, porque o ponto fixo já não goza de um estatuto ontológico único; aparece e desaparece das necessidades diárias. A bem dizer, já não há mundo, há apenas um universo fragmentado, massa amorfa de uma infinidade de lugares mais ou menos neutros onde o homem se move, forçado pelas obrigações de toda existência integrada numa sociedade industrial.
E, contudo, nessa experiência do espaço profano ainda intervêm valores que, de algum modo, lembram a não-homogeneidade específica da experiência religiosa do espaço. Existem, por exemplo, locais privilegiados, qualitativamente diferentes um dos outros; a paisagem natal ou os sítios dos primeiros amores, ou certos lugares na cidade estrangeira visitada pela primeira vez na juventude. Todos estes locais, guardam, mesmo para o homem não religioso, uma qualidade excepcional, “única”: são os “lugares sagrados” do seu universo privado, como se neles um ser não religioso tivesse tido uma revelação de outra realidade, diferente daquela de que participa em sua existência cotidiana.
Texto revisado
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