Crença e comportamento
Autor Leandro José Severgnini
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 30/03/2016 18:51:10
A humanidade passa por diversos estágios evolutivos. Hoje quero me ater especialmente a dois estágios, que diz respeito a transição entre a crença pura para a verdadeira vivência de um estado de consciência essencialmente espiritual. A nossa cultura aprendeu muitas coisas importantes a respeito da crença e da fé, mas ainda está faltando algo: o comprometimento interno com aquilo que acreditamos.
Infelizmente, nossas crenças, na maioria das vezes, são muito limitadas a ritos externos. O que isso significa? Significa que acreditamos em uma divindade superior, acreditamos em um "salvador", acreditamos em tudo o que foi dito em vida por esse salvador, mas, infelizmente, o nosso comportamento está longe de ser fiel àquilo que acreditamos. E para piorar ainda mais o nosso descomprometimento, acreditamos que uma simples confissão a um sacerdote basta para nos redimir de nossas falhas. Vamos tentar analisar friamente o nosso comportamento e veremos quão distante estamos de uma prática verdadeira e fiel daquilo que acreditamos. Somos orgulhosos, gananciosos, corruptos, julgadores, gostamos de falar da vida alheia, maltratamos animais, apedrejamos cães, envenenamos pobres gatinhos, viramos as costas para os mais pobres... Mas quando chega o fim de semana, vamos a um templo, nos ajoelhamos, abaixamos a cabeça e inescrupulosamente pedimos as bênçãos do Pai para termos uma boa saúde, fartura e paz.
Como podemos ver, é muito fácil acreditar em algo, desde que ninguém nos ensine que o comportamento é tão importante quanto a crença. Ir a um templo toda semana, ser dizimista ou confessar-se todos os anos nunca garantiu que uma pessoa se tornasse melhor, mais amorosa ou humilde. Todos os grandes mestres que já estiveram sobre a Terra, falavam a seus discípulos o tempo todo sobre o comportamento. Nenhum deles disse que a crença é mais importante do que a forma de ser da pessoa. Está na hora de percebermos que não basta acreditar. Crer, por si só, é pouco. É preciso que a nossa crença deixe de ser apenas uma crença e passe a ser algo real e vivido através das nossas ações. Certamente é preferível um ateu humilde e amoroso do que um religioso corrupto e malfeitor.
Todos os santos católicos, os rishis hindus, yogues tibetanos ou mestres budistas só se tornaram santos ou mestres por que faziam da sua vida uma vivência absoluta de tudo aquilo que acreditavam, e não propriamente pelas suas crenças isoladas. Se louvamos um Criador, como podemos odiar quem quer que seja, sabendo que todos são filhos do mesmo Criador? Como podemos maltratar animais, sabendo que o seu sistema sensório é capaz de sentir dor igual ou pior à nossa? Como podemos condenar alguém, sabendo que não estamos livres de cometer erros? Como podemos guardar mágoas ou rancor, sabendo que esses sentimentos são venenos que vão destruir a mim próprio?
A solução não é apenas acreditar. A solução é transformar a crença em ação, a fé em vivência de uma moral superior e os sentimentos negativos no desejo de se transformar em um fiel reflexo dos mestres superiores.
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Palestrante espiritualista e escritor. Autor dos livros intitulados "Dias de Luta, Dias de Glória", "Liberdade - Nada Menos Que Tudo" e "Em busca do infinito". E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |
