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Crenças equivocadas e a formação dos valores humanos

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Autor Cléo Busatto

Assunto Espiritualidade
Atualizado em 1/31/2011 8:39:51 PM


Numa das primeiras peças de teatro para crianças que dirigi, eu perguntei à Tatiana Belinky, que na época era crítica desse segmento, no jornal O Estado de SP, a sua opinião sobre o espetáculo. Ela não apenas respondeu minha pergunta dizendo, "observe a reação das crianças", como me deixou um ensinamento que jamais esqueci. Sempre retorno a ele, quando entro em contato com alguma produção cultural, seja ela pra criança ou não. Na ocasião, Tatiana me alertou para o poder de persuasão da arte. O que é dito por meio dela tem uma força indescritível, porque chega pela via do emocional. Podemos passar conceitos perniciosos, envolvidos por uma roupagem atraente e isso ser aceito como verdade. Como podemos abordar conteúdos educativos, mas de forma tão desinteressante, que ninguém presta atenção neles. Conceitos estéticos à parte, a reflexão é a seguinte: como se dá uma formação que prioriza os  valores humanos. As mensagens subliminares enviadas por meio da arte atuam de forma sutil. Se não estamos atentos, apenas as aceitamos como verdade e ponto.  Essa informação se torna uma crença e passa a agir sobre nós e nós agimos como fomos ensinados sem questionar. Somos suscetíveis ao meio, isso é fato, ele nos informa e forma, educa e deseduca. A história se encarregou de nos apresentar modelos memoráveis do poder de persuasão, como Hitler, um verdadeiro artista que se apropriou como poucos, da arte da oratória para transmitir suas ideias. Seus discursos eram realizados de forma teatral, com direito a direção, figurino, iluminação, sonoplastia, enfim, um espetáculo. Deu no que deu.

Quando os meios de comunicação de massa nos enviam suas mensagens, o impacto é grande, pois eles se revestem de confiabilidade e glamour. Isso é possível observar em diversos segmentos que nos dizem o que devemos vestir, comer, ler, assistir, ouvir. Como devemos nos comportar, enfim. E quando não estamos centrados, sabedores daquilo que é bom pra nós e em que de fato acreditamos, compramos a verdade alheia e passamos a atuar por meio dela. Não funciona, digo por experimentar.

A televisão é um desses veículos de massa, que entra na nossa casa e nos inunda com seus conceitos distorcidos e perigosos e nos agimos como se ela fosse uma via confiável para orientar nossa vida. Recebi um email falando sobre a novela Passione. Eu não acompanhei a novela, mas ouvi e vi tanta matéria em capa de revista, que sabia de quase tudo.

O email (por meio do seu redator que não sei quem é) enumera criticamente os temas colocados pela novela: "a família rica, não importa o quanto seus membros sejam depravados, vencerá todos os desafios; quem se cuida na gravidez morre; a débil mental rica conquista o galã da novela e amor de sua vida; a policia forja até enterro para obter provas; o viciado em crack pobre, nem sequer aparece; o viciado rico é reabilitado; quando um rico drogado esfaqueia outra pessoa não dá em nada; italianos são só românticos e não trabalham, vivem de golpes ou lucros milagrosos, chifram todo mundo e mentem pra conseguir tudo; a  justiça não funciona e condena inocentes por homicídio;  advogados de ricos tiram qualquer um da cadeia; ninguém precisa trabalhar, todos podem ficar dentro de casa o dia todo transando ou tramando golpes;  se possível, namore a mãe e filha, lucre em dobro; todos os membros de uma família devem transar com todos os outros;  duas mulheres aceitam perfeitamente o casamento com um homem só, basta que uma o tenha de segunda a quarta e a outra de quinta a domingo;  quem mata e rouba termina vivendo em um paraíso no Caribe."

Cada citação dessas daria uma tese. Para mim, o que  salta aos olhos é a enxurrada de clichês, padrões equivocados e comportamentos nocivos e viciados, que circulam por trás disso tudo. Claro que com final feliz. Todos se deram bem, até mesmo a vilã. Ainda que tentassem lhe colocar a roupagem da vítima, a coitadinha, a abusada que resolveu fazer justiça pelas próprias mãos, ela era uma bandida.

Um assunto bem comentado na época foi sobre a personagem casada, que afogava a infelicidade conjugal transando com garotões. A novela parece querer dizer a nós, mulheres, que quando o casamento vai de mal a pior, é mais fácil sair por aí em busca de outros homens, que mudar o rumo da vida, mesmo que para isso deva se separar, se recolher, se reconhecer e recomeçar uma nova história. Mas a mensagem que a dramaturgia passou foi, é mais fácil ter um amante e manter a farsa, que fazer uma mudança de fato. Olha o machismo atuando. No final, ela se apaixona de verdade, por um jovem lindo, rico, animado e apaixonado por ela! Claro que podemos nos apaixonar outra vez e reencontrar um novo grande amor. Mas, isso só acontece se formos honestas e corajosas pra enfrentar o risco de nos transformar e não se deixar levar apenas pelo prazer fugaz.

A forma com que se lidou com o drogado também passou a crença que é simples recuperar um jovem, basta interná-lo numa clínica (na Zonal Sul, do Rio, preferencialmente). A diarista que trabalhou comigo internou o próprio filho numa clínica pública. O garoto fugiu e pouco tempo depois se enforcou no próprio quarto.

Levanto essas questões, porque acredito que está em nossas mãos a mudança do mundo. Nessa consciência silenciosa e contínua de denunciar a farsa, a crença equivocada de que tudo acaba bem, sem que precisemos nos esforçar para isso.  Não é bem assim. As crianças (e adultos!) assistem às novelas e passam a acreditar naquilo que elas dizem, porque tudo vem com numa embalagem sedutora, atraente, que as emissoras bem sabem produzir.

Distorcem a vida. Transformam o sexo numa coisa banal, corriqueira, reduzido ao nível prático, breve e descompromissado. Será? E onde fica a dimensão sagrada do ato sexual, a entrega, a partilha (e por que não, a transcendência)? Onde foi parar o encontro amoroso, o respeito pelo companheiro, o desejo de construir uma história de bem, feita de cumplicidade, a fala ao invés do grito, lealdade ao invés da constante traição? Isso não é ser careta. Acho que é ser legal consigo próprio. Isso dá sentido à vida e exclui o caminho da droga. Um sujeito integro, sabedor de si, do seu desejo e da sua dor, do seu amor-próprio, esse não é mostrado em novela.

Creio que nesse planeta, somos todos educadores e se temos o compromisso de colaborar para a paz e a ampliação da consciência planetária é importante que a gente aja de forma crítica diante do que nos vendem. É importante dizer não. Desligar a TV, por exemplo. Apresentar a si próprio e à criança, produções culturais comprometidas com a ética e com os valores humanos, e não expô-la ao conteúdo deseducante dado de graça por aí.

 

"Conto histórias para ser a intérprete daquilo que vejo, ouço e sinto. Escrevo para dar conta do mistério que é a vida e me avizinhar da minha própria história."


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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Cléo Busatto   
Escritora e contadora de histórias. Visite o site e blog www.cleobusatto.com.br cleobusatto.blogspot.com
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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