Decisões de Ano Novo
Atualizado dia 01/01/2010 14:43:31 em Espiritualidadepor Mirtes Carneiro
Prenuncia-se um desejo íntimo de transformação exterior e interior.
Dentro de cada um de nós existe o germe do amor, um potencial que mesmo latente nos chama ao nosso destino de compreensão, compaixão, sabedoria.
O combustível de nossa alma é o amor, e não é à toa que nesta época de Natal este sentimento aflora em cada coração e isto se espalha formando uma grande corrente do bem, do afeto, da harmonia, do compartilhar alegrias, risadas, bons momentos.
Bem podemos perceber que não somos seres completos e, assim, buscamos nos completar, através de planos, metas, empreendimentos, desejos. E uma boa forma de continuarmos nossa jornada é irmos em busca daquilo que nos falta.
É claro que nossas decisões de ano novo vão em direção ao que há de melhor em nós e na vida. O conforto exterior é uma mera expressão do conforto interior, e não o contrário. Expressamos aqui fora o que temos lá dentro.
Infelizmente, vivemos em uma época de valores invertidos, onde buscamos criar aqui fora o conforto que queremos ter dentro de nós. Cresce assim a busca pelo prazer imediato que a maioria acredita poder ser comprada ou adquirida através do dinheiro. Prova disto é a corrida que vimos acontecer na busca do povo brasileiro pelo ganho de muito dinheiro na Mega Sena da virada.
Parece que o sonho dourado do homem é ganhar muito dinheiro, e isso só pode ser um desejo de prazer. Freud postulou o princípio do prazer, que é este desejo de diminuir a tensão interna que existe dentro de cada um de nós.
Esta tensão é gerada quando nos sentimos egoístas, insensíveis, incompetentes, impotentes, ineficientes, pressionados, preocupados, errados... Enfim, características do humano das quais procuramos nos manter afastados. É bom, sim, que as mantenhamos afastadas, por uma escolha de sermos melhores e fazermos um mundo melhor para se viver.
Mas a melhor forma de lidarmos com isto é a consciência destes sentimentos e estados internos e a escolha de fazer diferente. È importante lidarmos com estes estados de forma adulta, olhando de frente para nossas limitações e nossas deficiências, só assim poderemos transcendê-las.
Mais importante ainda é a nossa conscientização de que esta transformação será possível através do outro que está perto de nós: o nosso próximo.
Não podemos nos esquecer que nosso próximo é um igual, e pode ser o nosso próprio reflexo. Quanto mais pudermos olhar para o outro de forma empática, mais estaremos aptos a nos tornarmos melhores seres, apesar de estarmos em contínua feitura, e de sermos para sempre imperfeitos.
A imperfeição nos aponta a nossa humanidade e isso gera sofrimento. Assim, buscamos alívio para nossa dor em algo ou alguém fora de nós. A conscientização de nossa incompletude é uma forma de aceitarmos os percalços da vida, e a conscientização de que o outro pode nos ajudar a sermos mais completos pode fazer com que criemos um mundo de mais partilha de amor, afeto, ajuda mútua, apoio.
Me vem à mente agora a metáfora do anjo de uma só asa:
“Existe uma história de simplicidade linda, que eu gostaria de contar. Um lenda, um acalanto... Não sei se é verdade... e não me importo com isso.
Não precisa ser... Foi há muito tempo atrás... depois do mundo ser criado e da vida completá-lo. Num dia, numa tarde de céu azul e calor ameno.
Um encontro entre Deus e um de seus incontáveis anjos. Acredita?
Deus estava sentado, calado. Sob a sombra de um pé de jabuticaba. Lentamente, sem pecado, Deus erguia suas mãos... então, colhia uma ou outra fruta. Saboreava sua criação negra e adocicada.
Fechava os olhos e pensava. Permitia-se um sorriso piedoso. Mantinha seu olhar complacente.
Foi então que das nuvens um de seus muitos arcanjos desceu e veio em sua direção.
Já ouviu a voz de um anjo?
É como o canto de mil baleias.
É como o pranto de todas as crianças do mundo.
É como o sussurro da brisa.
Ele tinha asas lindas... brancas, imaculadas.
Ajoelhou-se aos pés de Deus e falou:
‘Senhor... visitei sua criação como pediu. Fui a todos os cantos. Estive no sul, no norte, no leste e oeste. Vi e fiz parte de todas as coisas. Observei cada uma de suas crianças humanas. E por ter visto vim até o Senhor... para tentar entender.
- Por quê? Por que cada uma das pessoas sobre a Terra tem apenas uma asa?
Nós anjos temos duas... podemos ir até o Amor que o Senhor representa sempre que desejarmos. Podemos voar para a liberdade sempre que quisermos. Mas os humanos com sua única asa não podem voar. Não podem voar com apenas uma asa’.
Deus na brandura dos gestos, respondeu pacientemente ao seu anjo:
- ‘Sim... eu sei disso. Sei que fiz os humanos com apenas uma asa...’
Intrigado, com a consciência absoluta de seu Senhor o anjo queria entender e perguntou:
- ‘Mas por que o Senhor deu aos homens apenas uma asa quando são necessárias duas asas para poder-se voar... para poder-se ser livre?’
Conhecedor que era de todas as respostas Deus não teve pressa para falar. Comeu outra jabuticaba, obscura e suave. Então, respondeu:
- ‘Eles podem voar, sim, meu anjo. Dei aos humanos apenas uma asa para que eles pudessem voar mais e melhor que Eu ou vocês meus arcanjos...
Para voar, meu amigo, você precisa de suas duas asas...
Embora livre, sempre estará sozinho.
Talvez da mesma maneira que Eu...
- Mas os humanos... os humanos com sua única asa precisarão sempre dar as mãos para alguém a fim de terem suas duas asas.
Cada um deles tem, na verdade um par de asas... uma outra asa em algum lugar do mundo que completa o par. Assim, eles aprenderão a se respeitarem, pois ao quebrar a única asa de outra pessoa podem estar acabando com as suas próprias chances de voar.
Assim, meu anjo, eles aprenderão a amar verdadeiramente outra pessoa... aprenderão que somente permitindo-se amar eles poderão voar.
Tocando a mão de outra pessoa em um abraço correto e afetuoso eles poderão encontrar a asa que lhes falta e poderão finalmente voar.
Somente através do amor irão chegar até onde estou, assim como você, meu anjo. E eles nunca, nunca estarão sozinhos quando forem voar’.
Deus silenciou em seu sorriso.
O anjo compreendeu o que não precisava ser dito.
Assim sendo, no fim desse conto, espero que um dia você encontre a sua outra asa. Para finalmente poder voar”.
Será esse o grande milagre do Natal, a nossa abertura para o próximo e para a sua ajuda e a nossa disposição em ajudar o outro?
E será que este mesmo estado interno é que nos invade quando fazemos nossas decisões de ano novo?
Parece que sim, mas é pena que isso dure o somente nos meses de Dezembro e Janeiro.
Vamos procurar estender este estado receptivo e amoroso para o resto do ano e, assim, viveremos bem melhor, como em um eterno Natal e eterno Ano Novo.
Feliz Ano Novo, feliz decisão nova!
Texto revisado
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Mirtes Carneiro CRP06/111130 Psicóloga e Psicanalista Atendimento on line Tel 11 9 8108-5021 E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |