Deus ou Deusa – Qual o sexo da divindade?
Autor Ton Alves
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 3/8/2013 12:45:14 AM
Na Semana da Mulher, um dos temas mais comentados na mídia e nos ambientes acadêmicos tem sido o machismo de origem religiosa que é, com certeza, a maior causa de discriminação e de violência contra o sexo feminino. Basta lembrar que nas três maiores religiões do Ocidente Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, a divindade é sempre descrita e nomeada como Ele, um ser masculino, branco, guerreiro, juiz e na mais amena das suas imagens, um pai.
Mas, na verdade, não são estas religiões que geraram o machismo, e sim o machismo é quem deu origem a estas religiões. Pois, nem sempre foi assim. Estudos comprovam que por muito tempo, no Oriente Médio e nas costas do Mediterrâneo, berço destas três religiões, floresceu e perdurou por séculos o culto à deusa. Indícios desse tipo de fé ainda podem ser notados na inclusive na Bíblia, texto sagrado de todas elas.
Como no Hinduísmo shivaíta, dominante no subcontinente Indiano, a Bíblia e os outros textos sagrados do Judaísmo sempre se refere à força feminina de Deus. A Shekinah, que é a manifestação concreta do divino é feminina. Feminino também é o nome do espírito criador de Deus, Ruáh, que significa respiração, brisa, ventania. Também os profetas mostram Iaweh com aspectos de mãe. Tem útero, gera, amamenta, carrega no colo e cuida do ser humano até que ele possa caminhar com as próprias pernas.
O mais importante dos profetas, Jesus de Nazaré, descreve sempre deus como tendo entranhas (útero) que pulsam de pena do sofrimento humano. E a parábola do Filho Pródigo apresenta um pai tão feminino que muitos estudiosos garantem que Jesus deve ter usado a imagem de uma mãe que depois foi mudada pelo machismo dos redatores do Evangelho. Era a mãe que dividia a herança dos filhos, quando o pai morria. Enquanto vivo o pai era o único dono dos bens da família.
Também era, na grande maioria das vezes, a mulher que ficava viúva, com filhos, E a parábola não fala momento algum num casal, só no chefe da casa que a Igreja passou a descrever como o pai. Quando o filho retorna, o pai que o vê de longe, sai ao seu encontro, Um gesto tipicamente feminino naquela cultura. Tantas evidências fez com que um pintor renascentista pintasse a cena do retorno do Filho Pródigo onde o pai que o acolhe usa roupas femininas e tem as mãos delicadas de mulher.
Será que Jesus, como os demais profetas queriam se referir à face feminina de Deus? É bem possível . Já que a Igreja, na tentativa de diminuir a importância da mulher na História da Salvação fez de Jesus um celibatário, sua mãe era uma virgem, ou seja, uma mulher incompleta, e, o pior, fez da principal e mais amada discípula de Jesus, Maria Madalena, uma prostituta.
Mas a imagem feminina de Deus é algo bem mais enraizado no mente e no coração do ser humano. Como o Cristianismo não assumiu o lado feminino da divindade, ela própria se infiltrou na vida da religião, de tal forma que o catolicismo, a parte maior e mais poderosa dessa religião não pode ser entendida sem a figura de Maria Santíssima. Mais do que mãe de Jesus, Maria acabou ocupando um lugar tão importante, ou mais, que seu filho no coração dos católicos.
Basta ver as aparições. Na história da Igreja há somente duas ou três aparições de Jesus. Mas são milhares as aparições de Maria, e sob as mais diversas formas. Seria então essa a vingança da deusa? Creio que não. Afinal esta seria mais o explodir de um vulcão de sentimento que nasce no próprio coração humano. Tendo toda a sua sede de ternura e de aconchego materno sufocada por uma doutrina que nega esse aspecto da divindade, o ser humano projeta para fora de si e para os outros a imagem da figura desejada, querida e da qual sente imensa saudade.
Como a história da evolução humana se desenvolve segundo a dialética (tese-antítese=síntese), pode ser que depois do matriarcalismo inicial sobreposto pelo seu contrário, o patriarcarlismo ocidental a Humanidade consiga chegar a síntese que contemple todos os aspectos da divindade. Afinal, a perfeição divina não pode ser restrita pelos limites de gênero. Perfeito e único, Deus ou a Deusa, tem que reunir em si mesmo ambos os aspectos.
"Quando de dois fizeres um, entrarás no reino do céu", garantiu Jesus de Nazaré ao seu discípulo Tomé. Quando o equilíbrio absoluto reinar nos corações humanos, as distinções se tornaram inúteis. Também será inútil e desnecessário explicar o Absoluto com imagens humanas. Mas, até lá, que não nos fechemos ao Todo e o sirvamos em todas as formas que se nos revela.
Ton Alves em 08/03/2013
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Ton Alves é coordenador do Projeto CASULO DE LUZ de incentivo à prática da MEDITAÇÃO HOLOMÍSTICA TRANSRELIGIOSA (MHT), baseada no exercício do silêncio interior, na contínua atenção ao instante presente e no amplo cuidado com as várias dimensões da realidade. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |
