dificuldades nos relacionamentos familiares I
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Autor Paulo Zonta
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 4/20/2010 11:25:29 AM
Dora é uma mulher que trabalha fora, tem uma filha de 13 anos e um filho de 15. Ela sai às 8hs e chega às 17hs em casa. Seu marido, Eduardo, sai às 7hs e às 14hs já está em casa. Seus filhos, estudantes matutinos estão em casa às 13 hs. Eles não possuem empregada e dividem as tarefas de casa entre eles. Dora, ao chegar em casa, parte para executar sua tarefa já combinada, mas vê seu marido na tv, seu filho na internet e sua filha dormindo, e se irrita. De seu ponto de vista, acha que está fazendo mais que os outros. Sente-se “explorada”:
“- Além de trabalhar o dia todo, quando chego em casa ainda tenho de cuidar da casa, e ninguém aqui está nem aí.”
São 17hs e seu filho (que chegou às 12hs), almoçou, arrumou o quintal, cuidou do cachorro, varreu seu quarto, e está estudando na internet, no blog do professor. Sua filha, chegou às 12hs, almoçou, varreu a parte de cima da casa, lavou a louça e acabou de deitar pra descansar. Seu marido trabalhou de manhã, chegou em casa, deixou o jantar já pronto, limpou o fogão, varreu a parte de baixo da casa, fez alguns consertos e agora aproveita pra ver o jornal enquanto se senta pela primeira vez no dia, já que trabalha em pé.
Mas, do ponto de vista de Nora, que trabalhou e chegou agora, cansada e tendo suas tarefas por fazer, sente que está trabalhando mais que todos na casa. Ela então resolve se revoltar, e está criado o conflito.
Agora, vamos ver o ponto de vista do marido de Dora...
Eduardo trabalha como autônomo, é vendedor e passa o dia todo andando, visitando o comércio, oferecendo equipamentos de informática. Quando chega em casa, corre pra comer alguma coisa e cumprir suas tarefas pois quer mais é descansar e assistir seu noticiário. Ele corre, cumpre tudo e vai para a frente da tv antes de sua esposa chegar. Quando esta chega, ele não consegue assistir seu noticiário pois ela fica resumungando que ele e seus filhos não a ajudam. Que ela (“e só ela”) se preocupa com a casa, e que os três são preguiçosos...
Como essa situação é rotina nesta familia, Dora reclama: que o filho “só fica na internet”, que a filha “só dorme”, e que o marido “não sai da frente da tv”...
O clima neste lar é sempre conflituoso e difícil, não sendo saudável para nenhum deles.
Este exemplo, mostra muitas situações corriqueiras que ocorrem em nosso cotidiano, seja em casa, no trabalho, na escola ou faculdade, ou em qualquer grupo social em que nos inserimos. Sempre que sentimos que nosso fardo é maior que o dos outros, tendemos a nos revoltar. O peso é muito grande pra nós, e porque então o peso é menor para os outros? Claro que na escola/faculdade, geralmente tem aquele colega que participa de nosso grupo mas que não colabora, só quer a nota, ou que pede pra os colegas marcarem presença pra ele, que quase não comparece às aulas.
È comum, no trabalho, termos a impressão de que o colega ao lado tem mais sorte que nós, o chefe parece dar maior atenção à ele, ou temos a impressão de que recebemos sempre uma carga maior de trabalho que os outros.
Sem julgar nenhum dos personagens desta história, poderíamos pensar um pouco sobre o porque nos preocupamos tanto em comparar-nos com os outros? De onde vem esse sentimento de valor, (e em muitos casos, de falta dele)? Esse sentimento de comparação e de que o outro possa ser beneficiado em detrimento de nós?
Claro que nem todo mundo é assim, há pessoas que vivem pra “servir ao outro” e acaba por não viver sua própria vida, e vivem “como se não existissem”. No caso de Nora, pra piorar a situação, ela tem uma personalidade “dominadora”, e além disso, na sua família ela é o “pivô” do grupo, e por essas razões, tem ela grande influência na família. Suas reações emocionais e atitudes são decisivas para manter a harmonia e a paz neste lar. Ocorre que por ela ser muito ansiosa e ter essa dificuldade em lidar com a situação, acaba por manter um clima negativo dentro de casa e entre seus familiares. E isso sem perceber...
Reclamar e ofender as pessoas não é positivo. Também não adianta nada ficar apontando erros e fazer-se de vítima nestes casos. Seria muito melhor se ela os chamasse para expor seus sentimentos. Assim, juntos talvez pudessem alterar a rotina e a divisão de trabalho em casa. Ou, se não fosse o caso, essa conversa franca faria com que cada famliar ficasse a par dos sentimentos dos outros integrantes, principalmente os de Nora. E e com certeza a rotina desta família seria diferente.
Talvez o leitor tenha se identificado com o caso de Nora, com a situação vivida por seu marido ou filhos, ou pelo indivíduo que vive para “servir ao outro”. È muito possível que tenha também pensado em alguma situações que já viveram na faculdade ou no colégio com colegas “sangue-sugas” como no exemplo que dei.
Todos esses sentimentos que evocam raiva, medo, desconfortos e competição, estão ligados ao que chamamos de fratria. Fratria que tem a mesma origem da palavra fraterno, significa nossas relações sociais horizontais. A origem de nossos comportamentos, sentimentos e atitudes nestas relações sociais, vêm de nossa constituição psíquica dentro de nossa família de origem, mais precisamente na relação vivida com nossos irmãos.
O fato de termos muitos irmãos, ou poucos, ou nenhum, tem fundamental importância no desenvolvimento de nossas capacidades para atuar socialmente. Pense um pouco, caso você esteja vivendo alguma situação parecida com as que sugeri nos exemplos deste texto, e reflita se alguns destes sentimentos o remete à lembranças de vivências semelhantes na infância.
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