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Do primitivo à nova tecnologia, um caminho confuso para nossa alma.

Atualizado dia 4/30/2011 9:50:51 AM em Espiritualidade
por Bernardino Nilton Nascimento


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Entregue ao primitivismo inicial, o ser humano sentia a necessidade de sair do nada para dar início às criações que hoje nos colocam na vanguarda da tecnologia.

Nossos antepassados foram ameaçados pelas forças exteriores e usavam a sua percepção nascente para se protegerem, vindo progressivamente a dominarem os ambientes avessos. Nessa luta milenar, desenvolveram,  num grau apreciável, as suas reservas intelectuais e construíram uma civilização cuja grandeza material não deixa lugar a dúvidas.

Com uma vontade constante de compreender e dominar o mundo, onde se destacara pelo imprevisto da racionalidade, o homem afastou-se cada vez mais de si mesmo. Procurou negar, pela repressão, a sua origem e abriu a mente para o sobrenatural, para explicar o que escapava à sua compreensão. Aos ídolos atribuiu também aquelas energias emocionais que ainda não descobrira em si mesmo. A sua natureza primitiva o dirige mais do que gostaria de admitir e a sua idéia do sobrenatural e as emoções correspondentes interferem nas suas decisões, talvez mais do que gostaria.

Não resta dúvida de que a conceituação mágica do mundo constituiu um artifício útil, quando o ser humano ainda era excessivamente ignorante para lidar com as forças sobrenaturais. A divindade diminuía-lhe a ansiedade de conhecer o desconhecido e oferecia-lhe um sentimento de proteção, de segurança, que não poderia obter sozinho.

Mas, como sempre acontece com os artifícios ocultos, o ser humano recorre a ele para omitir as verdades que ainda não conhece ou evita conhecer. A sua ligação aos antepassados, impregnada de emoções brutas, acaba impondo novas ansiedades. A admiração dos deuses, construídos à imagem do pai, que, na infância, tudo explicava e protegia, acabou por apresentá-los como autoridades que exigem obediência sistemática e julgam e castigam o pecador à menor falta. O ser humano, que trazia em si o sentido da justiça, que se pune pela falência moral, passou a ignorar a sua própria consciência e atribuir aos deuses as qualidades morais que lhe eram naturais.

Cada vez mais alienado de si, o ser humano chegou ao nosso século, grandioso pelas realizações concretas da inteligência, uma presa miserável da sua pobreza emocional. Nessa longa história, mais de uma vez escravizou a sua razão. Esqueceu a sua capacidade de amar, o seu profundo anseio de liberdade e de integridade e o seu natural sentido de justiça. Chegou ao máximo do conhecimento tecnológico como objetivo e ao mínimo de sabedoria pessoal.

Nos dias de hoje correm desenganados pela falta de fé, de onde havia se esperado tudo. O ser humano começa a desconfiar dos valores morais tradicionais e atravessa a maior crise de caráter da sua história. Desconfia dos semelhantes e de si mesmo, e isola-se, como tentativa de solução. Olha para dentro de si mesmo e só encontra confusão e caos, mesmo vivendo seu melhor momento tecnológico.

Ainda assim, mesmo que só encontremos altas tecnologias e confusão e, mesmo que o ser humano se agite, desorientado, quase sem crença, quase sem valores, devemos olhar com tolerância compreensiva e com certo otimismo à agitação caótica dos nossos dias.

A humanidade está passando por mudanças profundas. O grande desenvolvimento da espiritualidade, imbuída da tradição humanista dos filósofos da antiguidade faz do nosso século a era de uma grande descoberta: a descoberta do Eu interior.

Consciente de si mesmo, o ser humano compreende as próprias limitações. A razão, seu maior privilégio é, ao mesmo tempo, seu maior tormento. Ele não pode viver simplesmente, pois a vida se lhe afigura como um problema que deve resolver. Já que não pode regredir aos estágios já vividos, pré-história, de harmonia com a natureza, deve continuar a desenvolver a sua razão, para que chegue a compreender o sentido da vida e obter uma nova harmonia que lhe permita, em outro nível, integra-se novamente a natureza, aos seus semelhantes e a si mesmo.

Se ficar livre do passado da sociedade pré-individualista, que lhe conferia segurança, mas limitava-lhe os movimentos, o ser humano não adquire liberdade, no sentido positivo de realização da sua individualidade, ou seja, como expressão das suas potencialidades intelectuais, emocionais, sentimentais e sensuais. A liberdade, embora lhe ocasionasse independência e racionalidade, tornou-o isolado, e, portanto, ansioso na busca de cada vez mais procurar a tecnologia para bem servir. Essa busca é intolerável e o ser humano se vê confrontado com duas alternativas: evitar o peso dessa ansiedade, aceitando novas dependências, nova submissão, ou progredir no sentido da plena realização da sua liberdade positiva, baseada na natureza ímpar da sua individualidade e no prazer de servir ao próximo com amor.

Nessa busca de si mesmo, nessa procura de harmonia universal, o ser humano precisa parar para meditar. Precisa pesar valores e escolher sistemas de orientação que o conduzam às realizações das suas potencialidades únicas, que estimulem a sua independência, fortifiquem a sua integridade pessoal e libertem a sua capacidade de amar.

BNN

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Conteúdo desenvolvido por: Bernardino Nilton Nascimento   
"Não seja um investigador de defeitos, seja um descobridor de virtudes"./ "Quando a ansiedade assume a frente, as soluções vão para o final da fila"./ "Quando os ventos do Universo resolve soprar a favor, até os erros dão certo". BNN
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