Hoje resolvi me permitir um tempo
Atualizado dia 9/26/2005 1:58:18 PM em Espiritualidadepor Nelson Sganzerla
Simplesmente, resolvi assistir à guerra; hoje, graças ao homem, podemos nos postar diante da TV, com direito à pipoca e coca-cola, e vermos ao vivo e em cores os seres humanos se destruindo.
Interessante analisarmos os programas especiais de guerra, pois existem os comentaristas, os estrategistas, os especialistas em armamentos... A cobertura da guerra é programada com uma série de especialistas que dão milimetricamente a posição correta de cada míssil; eu gostaria até de sugerir uma torcida organizada com direito a placar e bem no estilo americano, fanfarras, etc.
Absurdo como a história se repete e o ser humano não aprende, pois Roma com o seu poder militar sucumbiu após muitas batalhas e o que veremos novamente se repetir será o império americano com todo seu poder militar sucumbir também diante de uma nova potência que virá, quem sabe os tigres asiáticos, pois não existe mal que sempre dure e nem bem que nunca acabe; é assim que acontece sempre.
Os US$ 390 bilhões de dólares aprovados pelo congresso americano para os gastos militares em uma guerra tecnológica como essa, poderiam acabar não só com a nossa fome como com a fome do planeta; mas é mais sensato se gastar esses mesmos bilhões em armamentos, afinal de contas, alguém tem que consumir um míssil, muitos precisam adquirir um tanque de guerra, ou então, o que seria dos fabricantes bélicos?
E depois, todo dinheiro arrecadado no mundo para matar a fome sempre foi desviado por governantes e entidades corruptas, sem contar com a difícil logística para levar alimento às populações necessitadas nos guetos do mundo; já a logística montada para descarregar armamentos é perfeita, afinal de contas um míssil é mais leve que uma saca de feijão ou de arroz.
Ironias à parte, voltando ao meu programa de guerra ao vivo e em cores, fiquei estarrecido quando o comentarista avaliava o bombardeio em um dos palácios de Saddam: com pontaria certeira eles destruíram um palácio e tudo em um raio de 5 a 10 quilômetros; em uma situação dessas eu não gostaria de maneira nenhuma de ser vizinho de Saddam e é isso que as bombas fazem: destruem seus alvos e tudo à sua volta... é a tal da guerra cirúrgica, comentava o especialista, pois para se extirpar uma célula cancerígena destroem-se várias.
Quantos milhares de civis irão ser massacrados! Estima-se que na primeira guerra do golfo em 1991 foram massacradas perto de 35 mil pessoas. Nesta guerra, estima-se que sejam 350 mil civis e a grande maioria de crianças, tudo isso em nome da paz. Mas como nada é por acaso acredito que algo irá acontecer que mudará a consciência dos povos pois, ao mesmo tempo em que a guerra acontece, existem manifestações no mundo todo a favor da paz. É necessário quebrarmos esse paradigma: "se queres a paz prepara-te para a guerra".
Temos sim é que nos prepararmos para a nossa guerra interna, como indivíduos pertencentes ao todo; o verdadeiro confronto é com nosso orgulho, com nossa arrogância diante do poder, seja econômico ou não; nossa guerra é diante da pobreza de espírito, diante da inveja, diante de querer ter mais do que precisamos, diante da nossa falta de solidariedade. Temos que quebrar o paradigma da violência urbana, lutar contra a nossa falta de paciência com nossos semelhantes, falar menos e ouvir mais, criticar menos e construir mais, andar mais pelas ruas a pé, conversar mais com o zelador do prédio, com o feirante do nosso bairro, resgatar os valores dos nossos pais, ligar o indivíduo e desligar a televisão, sermos pessoas alegres, entender que a alegria de viver e a felicidade está dentro de cada um de nós; se somos infelizes, seremos em uma cobertura na Vieira Souto em Ipanema ou em Paris, seremos infelizes em qualquer que seja o lugar; não fosse assim, toda criança seria triste, não importaria o lugar onde mora, mas se observarmos uma criança, ela sempre tem um sorriso a dar.
Temos que observar mais, mudar nossa atitude diante das dificuldades, ter a determinação que podemos realizar nossos sonhos e vencermos nossas guerras. De agora em diante, vou sempre me permitir dar um tempo, vou desligar a televisão e pensar em como resolver minhas guerras internas, observar mais, ouvir mais e falar menos, tomar um café da manhã domingo na padaria do meu bairro, conversar com o jornaleiro, levar o carro para lavar, tomar um caldo de cana na feira, correr no quarteirão. Sugiro que façam o mesmo. Ou liguem a televisão e se desliguem.
Nelson Sganzerla
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Texto revisado por Cris
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