Imortalidade
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Autor Instituto AION
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 11/20/2008 5:48:27 PM
A morte é um tabu em nossa sociedade. Procuramos evitá-la de todas as formas. Nosso organismo luta contra ela, nossa mente procura entendê-la e nosso ego a torna real para nós.
A ciência procura combater a doença e livrar nosso corpo das enfermidades para nos dar um maior tempo de vida, prolongar a nossa existência. Mas o que é o tempo, senão uma morte lenta? E a nossa consciência, como poderia ser prolongada?
Então, estamos falando de algumas dimensões que a idéia da morte tem para nós, no âmbito pessoal, cultural e social.
Mas o que ela realmente significa? Há um paradoxo nessa situação, porque procuramos, ao mesmo tempo, enteder e fugir dessa realidade e também, transcendê-la. De qual desejo, então, estamos falando?
Parece razoável pensar que ao aceitá-la como um fim inevitável de todas as coisas, venhamos forçosamente a admitir que a própria vida não teria sentido, uma vez que se há um fim absoluto para tudo, que valores poderemos sustentar durante a vida? O que valeria a pena sustentar? Seria mais lógico terminarmos com o sofrimento que a vida representa para os aflitos e para os angustiados, se nada de fato existisse; um fim defintivo, sem lembranças, sem memória, o fim total. Para que passar a vida sofrendo? Seria mais confortável o fim de todas as coisas. Não sei se isso está claro. O vazio absoluto é muito confortável. Não há nada com o que se preocupar nem com o que pensar, sem culpas, sem ressentimentos e medos.
Mas se é assim, se não há nada após a morte física, porque sofremos e temos medo dela? Não haveria medo se não tivéssemos alguma idéia do que ela seja. Portanto, a nossa mente provoca esse medo. Quer exista vida após a morte, ou não.
O que quero dizer é que o medo do desconhecido não existe, pelo simples fato de ser desconhecido. Há uma impossibilidade de que isso seja real, se é que me faço entender. Só podemos temer aquilo que conhecemos, de fato. Se a nossa mente estivesse vazia de um conceito, de uma idéia, ela não temeria; mas o fato é que ela não consegue fazer isso porque é uma ação contrária à sua natureza.
Acaso alguém aqui tem medo de strompt? Antes de ter medo, a nossa mente perguntaria: o que é strompt? Depois ela teria medo, ou não.
Portanto o medo é algo que definimos em nossa mente, como sendo algo passível de medo. Essa é a natureza da mente (ego): ela precisa catalogar, decifrar, separar. O conflito básico da mente é esse resultado de um núcleo (ego), de suas lembranças, experiência e conhecimentos registrados em sua memória, que está sempre procurando ajustar-se ao momento presente, tentando coincidir suas lembranças e conceitos com os eventos que estão ocorrendo.
Os antigos navegadores tinham medo do alto-mar porque acreditavam que, além da linha do horizonte, tudo era “desconhecido”, já que existia também a crença de que a Terra era quadrada e, portanto, além dessa linha haveria um abismo. Ninguém, até então, ousaria chegar até esse lugar “desconhecido”.
Mas, afinal, do que eles tinham medo? Não era propriamente do vazio, do totalmente novo, mas sim do que criavam em suas imaginações. Existiriam, segundo suas crenças, serpentes gigantes, monstros marinhos enormes, demônios do mar e todo o tipo de horrores. Era disso que eles tinham medo, de coisas totalmente conhecidas, de suas memórias.
Então, parece que chegamos aqui a uma constatação: a nossa mente (ego) precisa viver em função do tempo e de sua memória, e ela, por si só, gera o medo em nós. Ela, na verdade, não existe sem o tempo e este é a sua morte.
Não sei o quanto estamos cientes de que a vida não pode ser definida pela mente. Há uma impossibilidade nisso. Porque, se perguntamos o que é a vida (e todos queremos saber o que ela é) devemos fazê-lo sem um conceito antecipado, já que isso colocaria, de novo, a nossa mente em funcionamento, produzindo conceitos, memórias e conflitos. E está claro que não queremos isso agora, não é mesmo? Precisamos nos colocar diante do fato e observar. A mente, entretanto, precisa de um observador e da coisa observada.
A Cabala diz que a vida acontece enquanto pensamos outra coisa. Isso é uma sabedoria. A vida é um processo! Não sei se isso está claro. A nossa mente está sempre inquieta, procurando, buscando, armazenando e coletando informações para medir, definir as coisas. A ciência acredita que inteligência é isso, mas não é. Por isso ela acredita em inteligência artificial, mas a inteligência não está separada da vida. E então perguntamos novamente, o que é a vida? Existe a imortalidade?
A sociedade levanta a questão polêmica do aborto, por exemplo. Os cientistas, os juristas e os médicos querem saber quando o feto humano começa a ter vida, ou não. Depois de um mês, dois ou três? Quando começar a ter vida, então o aborto é crime, senão, tudo bem. Mas essa pergunta não faz nenhum sentido, não é? Onde começa a vida? A vida começou em algum momento dentro de um corpo? Haveria vida nas células que se multiplicam para formar o feto? Essa é a nossa insanidade - a natureza nos considera parte dela, mas nós não.
Não sei se isso está claro. Nós consideramos a vida como algo fora de nós. A ciência sempre considerou a natureza como algo externo a nós, algo a ser estudado, analisado, dominado. Por isso, hoje, estamos loucos.
Existe um conceito interessante sobre a definição da vida, que é a questão do limite. Se existe uma palavra que exprime a vida em nossa dimensão, essa palavra é limite. Como nos situamos na vida? Temos que fazer isso pelos nossos limites. Não uso o termo aqui no sentido de limitação (incapacidade), mas de identificação. Uma célula só existe se possuir uma membrana (limite) qua a separa do tecido onde vive. Se não fosse isso, as células todas virariam uma “sopa” molecular e não existiria vida.
Mas isso também é um paradoxo, pois na idéia de limite existe o conceito de morte, porque ele tem uma finalidade. Não sei se vocês já observaram o significado da palavra finalidade – é um propósito com um fim. Então, existem três dimensões no mundo físico que definem a morte: limite, finalidade e tempo.
Quando pensamos isso, criamos uma separação com a vida. A nossa mente, o nosso ego nos coloca nessa situação, mas isso é uma espécie de insanidade.
Então vamos compreender a questão da imortalidade. O que ela é? Já vimos que a mente cria as suas ilusões, e o tempo, que é a morte, e assim vivemos fazendo projeções e, fazendo isso, a mente (o ego) não nos considera como parte de sua realidade. Esse é o problema de todo o sistema de conhecimento que temos tido.
Quando a vida nos criou ela nos fez parte de sua realidade, mas quem criou a vida? Quando pensamos sobre ela, não consideramos parte de nós porque, como vimos, o ego cria esta realidade dual, e surge a noção de que somos parte distinta da Criação, e isto é a morte.
Quando criamos uma máquina sabemos exatamente o que esperar dela porque todas as suas funções já estão definidas e limitadas. É um determinismo. Portanto com isso, definimos também a finalidade dessas máquinas e também o seu fim.
Nós somos imortais porque somos um mistério que a mente não pode resolver, e quando cessam as inquietações da nossa mente, a imortalidade aparece.
Surge no fluxo da vida. Um fluxo sem fim!
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