Incomodada ficava a minha avó
Atualizado dia 6/7/2004 1:15:35 AM em Espiritualidadepor Rose Romero
Liberar e resolver emoções estagnantes são vitais para futuras mães de crianças – e de si mesmas - pois aquelas que foram prisioneiras da repressão não são livres pra desfrutar a espontaneidade de seus filhos de se sentirem livres.
Não é de surpreender que muitas mulheres ajam como inimigas de sua própria natureza feminina, herdada através de sua mãe rejeitada e que os mentores masculinos ou os valores masculinos se tornem seus deuses.
Admite, então, para si uma “identificação exclusiva” com padrões e valores masculinos, gerando um amortecimento ou distorção dos instintos inerentes ao feminino. Acontecendo o caminhar de suas vidas muito longe do seu rumo essencial.
Muitas mulheres estão aprisionadas num complexo negativo de mãe. Num emaranhado de sentimentos ligados à mãe devido às ambivalências amor-ódio que começaram muito cedo na relação com mães psicologicamente feridas - mulheres seriamente feridas em sua auto-estima e em sua capacidade de celebrar o feminino. Herança emocional da mulher moderna que se resume em relações superficiais consigo mesma e com outras mulheres, abuso e negligência com a criança interior e com suas crianças, controle egocêntrico e/ou indiferença passiva.
A maioria das relações mãe/filha carece ou de intimidade ou de independência.
O que leva muitas mulheres a ansiar pela mãe que nunca existiu e que não poderia ter existido devido ao histórico de tantos séculos de repressão dos próprios sentimentos, pensamentos e desejos.
E como suprir esta carência?
Precisamos despertar em nós mesmas as qualidades de ser mãe que procuramos no coletivo.
Para alimentar a criança interior, adquirindo uma imagem materna interna positiva, é preciso:
• Manter-se concentrada no trabalho interior de tecelagem dos fios regenerativos da trama de nossas próprias vidas;
• Ter paciência e uma determinação obstinada, isto é, persistência e confiança na sua capacidade de maternagem, de ser continente para si mesma, para seus sonhos e realizações;
• Continuar apesar das dificuldades, construindo com perseverança a luz/consciência na matéria que dá a nova mulher a maturidade para romper com os padrões repetitivos do feminino submetido e aprisionado vivido pelas mães e avós;
• E, por último, sentir prazer e orgulho por não desistir e viver o afloramento da sabedoria da anciã, o feminino realizado em Sofia.
As mulheres que não têm contato com sua linhagem materna sentem que o universo feminino é um lugar estranho. Foram arrancadas de seus eus femininos por uma cultura patriarcal na qual as mulheres perdem suas identidades, perdem seus próprios nomes e se tornam propriedades dos homens. Nossos sentimentos, a integração do corpo e psique, foram levados ao subterrâneo, perdidos, esquecidos ou relegados ao que autodepreciativamente chamamos de “conversa de comadres”.
Para encontrar o seu caminho para um relacionamento consciente com o eu feminino, as mulheres precisam trabalhar através de sua conexão com suas mães, avós, sua linhagem materna.
As avós constituem uma fonte do Feminino ferido de uma família. Geralmente, carregam uma história de sofrimento e a transmitem, conscientemente ou não, para gerações posteriores. Essa ferida, se não transformada numa fonte para a cura, pode levar a padrões profundos de desvalorização e, mesmo autodestruição, que acabam por se repetir por várias gerações.
A avó agrega em si um padrão que vive no corpo feminino; a jovem, a mãe e a anciã. A mãe pessoal, vista como parte de uma longa linhagem materna é assim aliviada. Uma avó projeta a neta na corrente vital das gerações. Ela é o vínculo com o mundo subterrâneo das ancestrais femininas. Nas culturas primitivas, não é a mãe pessoal a responsável por ensinar a jovem sobre seu corpo e iniciá-la na feminilidade. É a avó que faz isso ou outra mulher mais velha da tribo.
Ao entrar em contato com a anciã, a mulher tem a oportunidade de enxergar sua mãe por um novo prisma assim como a si. Percebe que pode ser quem é, pode suportar ser honesta, isto é, não está interessada em jogar jogos desgastados que de nada lhe servem e ainda lhe prejudicam. Valoriza o que lhe é próprio e orgulha-se de sua linhagem e herança.
Percebe que nada tem a perder, pois aquilo que ela é, não pode ser tirado dela. Pode amar sem o desejo de controlar. Não tem nenhuma razão para persuadir e finalmente em seus olhos, consegue enxergar o seu verdadeiro eu, reluzente, brilhante, madura, menina-mulher.
Rose Lane Romero da Rosa
Psicóloga, analista junguiana com atuação em consultório clínico no Rio de Janeiro
e-mail: [email protected]
Texto revisado
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Psicóloga Junguiana, Teóloga e Facilitadora das Oficinas ArteVida de Meditação do Projeto Labirinto E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |