LÁGRIMAS DE DEVOÇÃO

As lágrimas da devoção de um poeta é a concebida poesia,

Que insinua em cada linha a menção inspiradora.

No arremesso da lançadeira, no clamor desacautelado,

O Criador se delineia.

Não se apercebe que se tornou o papel do Divino Poeta.

Confunde-se em sofrimentos

Ao traduzir o sentimento do belo e do harmônico.

Embora se arruíne a folha, esmaeça a letra,  

Empalideça a alma; a essência permanece,

Pois o poeta sonhou que se eternizou.

Da divina bem-aventurança, a imagem se gravou.

No retrato, paralisada, a felicidade se desvelou.

No papel deteriorado, apagou-se a efemeridade.

O pó que permaneceu denominou-se saudade.

Sou um com meu Pai.

Sou bem-aventurado.

Correu suave a afiada lâmina na seda da eternidade.

O tempo foi a tira surrupiada.

Com o vento, foi-se a palavra exarada.

Jamais veio – ou virá – a posteridade.

No meio – onde reside o centro das duas metades do agora – repousa o eterno.

Quando não se tem o que se pretende,  

O que não se quer está sobrando.

Então, se nada se quiser,  

Nada estará faltando.

Nem o alívio da dor,

Nem do rebento a atenção,

Nem as honrarias,

Apenas a contemplação.

O tumor do mundo: infeliz mente,

Que usurpa, esconde e confunde.

Estou no centro do seu turbilhão 

E aqui você não é meu senhor.

Mas sempre vale a pena

Ser a pena na mão do Criador.

Não quero verso, nem poesia,

Mas do Universo a harmonia.

Naquele que é meu Pai, nada se esmaece.

Encontro-O no silêncio,

Perco-O no ruído.

Mas Ele é o encontro da surdez com a audição,

Da cegueira com a visão.

Não sou o que tenho, por isso não perco.

Não sou o que sinto, por isso não sofro.

Não sou o que penso, por isso não erro.

Mas nada há para se perder,

Pois todas essas coisas me afastam de meu Pai.

Mas como poderiam, se somos um só?

Eu sou meu Criador.

Nada menos, nada mais.

Da Luz eu venho,

À Luz eu vou,

A Luz não tenho,

Pois a Luz eu sou.

Sou essência.

E somente isso é o que sou.