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Lindos Casos de Chico Xavier

Atualizado dia 8/2/2005 10:08:49 PM em Espiritualidade
por Guilhermina Batista Cruz


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A vida de Chico Xavier sempre foi um exemplo de humildade, simplicidade e amor em todos os sentidos. Mas existem passagens a respeito de sua vida no livro "Lindos Casos de Chico Xavier" que são muito interessantes e instrutivas, pois mostram-nos a beleza do amor, humildade e fraternidade e que o sofrimento pode nos legar preciosos ensinamentos, fazendo-nos ver que a misericórdia divina sempre está presente a nosso favor, abençoando-nos com seu amor e proteção.

Aproveitemos estas passagens sobre a vida de Chico e meditemos no poder do amor que sana todas as feridas, tanto materiais como espirituais, fazendo com que atravessemos os sofrimentos com mais serenidade e confiança.

"Tenha paciência, meu filho!

Quando dona Maria João de Deus desencarnou em 29 de setembro de 1915 Chico Xavier, um de seus nove filhos, foi entregue aos cuidados de dona Rita de Cássia, velha amiga e madrinha da criança.
Dona Rita, porém, era obsedada e, por qualquer bagatela, se destemperava, irritadiça. Assim é que Chico passou a suportar, por dia, várias surras de varas de marmeleiro, recebendo, ainda, a penetração de pontas de garfos no ventre, porque a neurastênica e perversa senhora inventara esse estranho processo de torturar.
O garoto chorava muito, permanecendo horas e horas com os garfos dependurados na carne sanguinolenta e corria para o quintal a fim de desabafar e porque a madrinha repetia, nervosa:

— Este menino tem o diabo no corpo.

Um dia, lembrou-se a criança, de que a mãezinha orava sempre, todos os dias, ensinando-o a elevar o pensamento a Jesus e sentiu falta da prece que não encontrava em seu novo lar.
Ajoelhou-se sob velhas bananeiras e pronunciou as palavras do Pai Nosso que aprendera dos lábios maternais.
Quando terminou, oh! Maravilha! Sua progenitora, dona Maria João de Deus, estava perfeitamente viva ao seu lado.
Chico, que ainda não lidara com as negações e dúvidas dos homens, nem por um instante pensou que a mãezinha tivesse partido para as sombras da morte. Abraçou-a, feliz, e gritou:

— Mamãe, não me deixe aqui... Carregue-me com a senhora...
— Não posso — disse a entidade, triste.
— Estou apanhando muito, mamãe!

Dona Maria acariciou-o e explicou:

— Tenha paciência, meu filho. Você precisa crescer mais forte para o trabalho. E quem não sofre não aprende a lutar.
— Mas — tornou a criança — minha madrinha diz que eu estou com o diabo no corpo...
— Que tem isso? Não se incomode. Tudo passa e se você não mais reclamar, se você tiver paciência, Jesus ajudará para que estejamos sempre juntos.
Em seguida, desapareceu.
O pequeno, aflito, chamou-a em vão.
Desde esse dia, no entanto, passou a receber o contato de varas e garfos sem revolta e sem lágrimas.

— Chico é tão cínico — dizia dona Rita, exasperada, — que não chora, nem mesmo a pescoção.
Porque a criança explicava ter a alegria de ver sua mãe, sempre que recebia as surras, sem chorar, o pessoal doméstico passou a dizer que ele era um “menino aluado”.
E, diariamente, à tarde, com os vergões na pele e com o sangue a correr-lhe em pequeninos filetes do ventre o pequeno seguia, de olhos enxutos e brilhantes, para o quintal, a fim de reencontrar a mãezinha querida, sob as velhas árvores, vendo-a e ouvindo-a, depois da oração.
Assim começou a luta espiritual do médium extraordinário que conhecemos.

O valor da oração

A madrinha de Chico, por vezes, passava tempos entregue à obsessão. Assim é que, nessas fases, a exasperação dela era mais forte. Em algumas ocasiões, por isso, condenava o menino a vários dias de fome.
Certa vez, já fazia três dias que a criança permanecia em completo jejum. Á tarde, na hora da prece, encontrou a mãezinha desencarnada que lhe perguntou o motivo da tristeza com a qual se apresentava.

— Então, a senhora não sabe — explicou o Chico — tenho passado muita fome...
— Ora, você está reclamando muito, meu filho! — disse Dona Maria João de Deus —menino guloso tem sempre indigestão.
— Mas hoje bem que eu queria comer alguma coisa...

A mãezinha abraçou-o e recomendou:
— Continue na oração e espere um pouco.
O menino ficou repetindo as palavras do Pai Nosso e daí a instantes um grande cão da rua penetrou no quintal. Aproximou-se dele e deixou cair da bocarra um objeto escuro. Era um jatobá saboroso...
Chico recolheu, alegre, o pesado fruto, ao mesmo tempo em que reviu a mãezinha ao seu lado, acrescentando: — Misture o jatobá com água e terá um bom alimento.
E, despedindo-se da criança, acentuou:
— Como você observa, meu filho, quando oramos com fé viva até um cão pode nos ajudar, em nome de Jesus.

O anjo bom

Dois anos de surras incessantes. Dois anos vivera Chico junto da madrinha. Numa tarde muito fria, quando entrou em colóquio com dona Maria João de Deus, Chico implorou:
— Mamãe, se a senhora vem nos ver, porque não me retira daqui?
O espírito caridoso afagou-o e perguntou:
— Mas a senhora sabe que nos faz muita falta...
A mãezinha consolou-o e explicou:
— Não perca a paciência. Pedi a Jesus para enviar um anjo que tome conta de vocês todos.
E sempre que revia a progenitora, o menino indagava:
— Mamãe, quando é que o anjo chegará?
— Espere, meu filho! — era a resposta de sempre.
Decorridos dois meses, o sr. João Cândido Xavier resolveu casar-se em segundas núpcias.
E dona Cidália Batista, a segunda esposa, reclamou os filhos de dona Maria João de Deus, que se achavam espalhados por casas diversas. Foi assim que a nobre senhora mandou buscar também o Chico.
Quando a criança voltou ao antigo lar contemplou a madrasta que lhe estendia as mãos.
Dona Cidália abraçou-o e beijou-o com ternura e perguntou:
— Meu Deus, onde estava este menino com a barriga deste jeito?
Chico, encorajado com o carinho dela, abraçou-a também, como o pássaro que sentia saudades do ninho perdido.
A madrasta bondosa fitou-o bem nos olhos e indagou:
— Você sabe quem sou, meu filho?
— Sei sim. A senhora é o anjo bom de que minha mãe já falou...
E, desde então, entre os dois, brilhou o amor puro com que Chico seguiu a segunda mãe, até a morte”.

Extraído do livro “Lindos Casos de Chico Xavier”, de Ramiro Gama

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