MINHA HISTÓRIA DE VIDA - parte V



Autor Florencio Antonio Lopes
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 10/28/2013 6:17:16 PM
(Continuação da parte IV)
Naquele momento eu senti que precisava ouvi-los e voltei. Lá chegando sentei-me na mesma cadeira, o Ancião me propôs:
– Vá até Milão, por poucos anos e depois liberaremos a sua ida para onde você quiser.
– Já falei que a minha verdadeira missão, não é em Milão, respondi, o que eu não posso é ser enganado por tantos Mestres de uma maneira tão mesquinha e vergonhosa, tem alguém que deve ter interesse que eu fique em Milão, torno a repetir, nada tenho contra esta maravilhosa cidade, eu não pedi aos Mestres, eles que vieram até a mim e disseram-me que votariam pela cidade que eu tanto queria, estou me afastando, é por causa desta traição que estou me renunciando.
O Ancião me fala:
– Você não pode se afastar porque irá perder à sua referência.
– Pouco me importa se eu perder a minha referência, respondi, e acrescentei, estou tão magoado, tão revoltado neste momento, o Senhor, o Grande Mestre, não tem valor nenhum, tenho certeza que ambos estão atrás disto.
Foi quando o Ancião pediu a palavra e disse-me:
– Eu acho melhor pararmos por aqui e vamos dar um tempo para que todos nós possamos pensar e estudar este assunto tão grave é melhor estarmos a sós. Só as partes interessadas para discutirmos bem o problema porque se tornou muito sério.
Foi quando a plateia do Templo, que estava superlotado, se revoltou porque queriam participar.
O Grande Mestre chamou os guardas da segurança para esvaziar o Templo e lá fora houve um tumulto, jogaram pedras no templo e gritavam: “Queremos Florêncio”.
Infelizmente, eram alunos, amigos meus, que acabaram praticando o vandalismo no Templo quebrando tudo. Chorei, pois eles protestavam por mim e chorava pelas ruínas que fizeram nos prédios, atacaram outros prédios e eu respondi por atos de vandalismo, fiquei quatro anos em cárcere privado, talvez estejam daí os grandes problemas nas minhas carótidas e na veia aorta, dessas dores que sinto, reumáticas, pelo meu corpo que já passou.
Certo dia levaram-me na presença do Grande Mestre e do Ancião, os dois quando me viram ficaram muito assustados e me perguntaram como eu estava, olhei e nada respondi. Falaram-me que não podiam me expulsar da congregação e eu não podia pedir exoneração do meu cargo, que seria perseguido onde eu fosse. Propus-me a aceitar o que me ofereciam que foi o seguinte: “Voltar ao Brasil e cuidar da minha pessoa e só.”
Assim, fiz minhas malas e voltei ao Brasil, não me deram dinheiro dizendo que eu não tinha direito, alegando que o tempo em que fiquei preso, num cubículo e que não paguei a comida e o pouso.
Voltei ao Brasil, tive que trabalhar nas cidades que dava, não procurei ajuda nas Embaixadas Brasileiras, porque tive medo que os Mestres não fornecessem os dados que seriam pedidos normalmente por ela.
Viajava de trem e ora de navio, cheguei ao Brasil com a roupa do corpo, com algumas outras mudas de roupa já bem surradas. Aqui chegando comecei a lecionar em um colégio particular, as roupas para trabalhar eu ganhei de uma pessoa que tinha muita pena de mim, o diretor de um Colégio no Rio de Janeiro e aí ele gostou do meu desempenho na sala de aula, eu era aquele professor coringa, o professor da matéria faltava, lá ia eu para a classe substituí-lo, sempre fui versátil e me saí muito bem.
No ano seguinte assumi a cadeira de Psicologia e assim acabei prestando concurso, que passei e comecei a minha caminhada.
Por onde eu passava sempre procurava uma igreja e normalmente o espiritualismo. Nunca deixei a religião de lado, sempre estava em uma ou em outra, mas não pensava mais em seguir nenhuma delas, respeitava a todas, porém dentro de mim eu sentia um vazio, estava me faltando à espiritualidade, não me lembrava do título de Monge, não sentia saudades dos covardes Mestres, sentia sim, saudades dos meus colegas, das brincadeiras que fazíamos no Mosteiro, do Templo, deles me lembrava de todos, inclusive, de suas fisionomias, dos Mestres e Monges, eu os via só de corpo sem fisionomia, e os Anciões e os Lamas só sombras.
Eu já havia constituído minha família e levava a minha vida não como eu queria e sim como eu podia, no entanto, nós, eu e a minha companheira nunca esmorecemos e todas as noites agradecia a Deus pela minha esposa e pelos filhos que ganhamos nesta época, apesar da crise financeira, fomos muito felizes e assim fomos levando a nossa vida.
Passaram alguns anos fui ao escritório contábil de um amigo, Clóvis, e lá chegando fui recebido com o seu sorriso peculiar me abraçou falando:
– Quantos anos? Quem é vivo sempre aparece!
Abraçamo-nos e Clóvis continuou:
– Nossa! Você não envelhece.
– É mesmo, respondi, faz muitos anos que não nos vimos. Como vai a sua esposa Cecília?
– Ela está boa, temos cinco filhos.
– Nossa! Lembro-me só do mais velho, Eugênio.
E Clóvis continua
– O segundo chama-se Nelson, a terceira Hercília, a quarta Josefa e o quinto filho Kleber e paramos por aí e você se casou?
– Sim, me casei, tenho uma filha que se chama Andréa, o segundo é Ângelo e a terceira Adriana e paramos por aí.
– Nossa! Como a vida passa e não percebemos, acrescentou Clóvis, o que está precisando?
– De nada, estava aqui perto e resolvi dar um pulo para lhe ver.
– Estou me mudando daqui.
– Quando você irá mudar?
– Segunda-feira, por quê?
– Quer ajuda?
– Sim será bem-vinda, conclui Clóvis.
Segunda-feira bem cedo eu estava lá para ajudar o Clóvis, ele falou:
– Amigo coloca estes jornais num saco de lixo e põe na sarjeta que o lixeiro levará. Nunca tinha visto tantos jornais em minha vida. E assim foi quase toda manhã, em dado momento vi um jornal que chamou minha atenção, na primeira página tinha a fotografia de uma menina, separei e quando acabei com o trabalho perguntei ao Clóvis:
– Clóvis, de quem é este jornal? Mostrando o jornal que separei.
Ele olha e me responde:
– Não me lembro, alguém deve ter esquecido, por quê?
– É por causa da fotografia desta menina, mostrei a ele.
– Que tem esta fotografia, é uma garota que devia ter uns quatro anos, com esta idade as meninas são muito parecidas.
Bem, continuamos a nossa tarefa e quando me lembrei do jornal que eu tinha posto em cima de uma mesa, procurei e não encontrei o jornal, quando terminamos a mudança àquela menina do jornal não saía da minha mente e na festa de inauguração a Cecília a esposa do Clóvis trouxe salgadinhos e a tradicional cerveja.
O novo local era bem maior, mais arejado e bem central. Quando nos preparava para sair eu perguntei novamente a ele e a Cecília me pergunta:
– Que jornal é este? (Continua)









Florêncio Antonio Lopes, nos seus 88 anos de vida, faleceu em 06/09/2024, foi fundador da religião espiritualista Amor Entre os Povos. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |