Mistérios femininos IV
Atualizado dia 28/03/2015 16:01:00 em Espiritualidadepor Marisa Petcov
Os Mistérios Obscuros tratam da natureza oculta das coisas e da essência secreta, tanto das coisas físicas como das espirituais. O mito dos Mistérios Obscuros se reflete em mitos como os de Deméter e Perséfone.
Nesse antigo mito, encontramos o tema da Deusa que se encontra com o Senhor do Submundo, a princípio resistindo e, em seguida, submetendo-se a seu amor. Nele, Perséfone representa a semente que desce às trevas subterrâneas onde sua energia fértil é despertada. O Submundo representa a misteriosa força que impele o broto para cima, rumo à renovação. Deméter representa a energia que alimenta o crescimento da nova planta. Esse mito greco-romano, é típico dos mitos de descidas surgidos pela primeira vez na Mesopotâmia, e que migraram através do Egeu/Mediterrâneo, sendo, por fim, abraçados pelos celtas.
Os Mistérios Obscuros estão relacionados a diversas criaturas comumente associadas às bruxas e magia de modo geral. O corvo era associado à morte e ao submundo por sua ligação com o Culto dos Mortos. Acreditava-se que a alma das bruxas escocesas partiam na forma de um corvo durante o transe.
O porco era um animal sacrificado a Deméter e, também, surge em mitos ligados à bruxa grega Circe. Em tempos remotos, acreditava-se que o sangue de porco era o mais puro entre todos os animais e tinha o poder de purificar a alma, eliminando o ódio e o mal. Era associado ao Culto aos Mortos e muitos locais de sepultamento incluíam porcos ofertados às deidades do submundo.
Outra criatura associada aos Mistérios Obscuros é a rã. As secreções de certas rãs contêm bufotenima, poderoso psicotrópico alucinógeno. Suas secreções eram utilizadas no preparo de certas poções empregadas na indução a estados de transe. Certos cogumelos, como claviceps purpúrea e amanita muscaria, também eram empregados com as secreções da rã. É interessante notar que o claviceps purpúrea se forma nos grãos de centeio e sobrevive na farinha, onde é chamado de cravagem. Aqui encontramos um elo com a utilização de pão e vinho no Sabba.
Por mais desagradável que possa parecer às sensibilidades modernas, os antigos descobriram que as propriedades alucinógenas dos cogumelos ficavam altamente concentradas na urina de quem quer que os consumisse. Por estranho que pareça, esse foi o início dos Ensinamentos Misteriosos de destilação e da fermentação. Através da experimentação xamânica, outros fluídos corporais foram explorados na busca de propriedades ocultas, incluindo o sêmen, as secreções vaginais e o sangue menstrual. O emprego de fluidos corporais com finalidades mágicas é um dos aspectos da Bruxaria que forma distorcidos pelos princípios judaico-cristãos, transformando em obscenidades pervertidas.
A ligação dos fluidos a propriedades mágicas também se estendeu ao sumo de plantas, frutas e legumes. Acreditava-se que a Lua exercia influência sobre o crescimento das plantas e, também, sobre sua natureza espiritual ou mágica. Os efeitos de venenos, remédios e intoxicantes eram, a princípio, atribuídos aos poderes mágicos do espírito que habitava o interior da planta. O processo de transformação de fruta em suco, pela fermentação, foi praticado por xamãs femininas sob os auspícios da Lua. Disso surgiram as imagens de bruxas mexendo poções mágicas sem seus caldeirões.
Nos Mistérios Obscuros, a Deusa pode surgir como Aquela que traz a Vida e a Morte, a Criadora e a Destruidora. Ela cria tempestades, chuva e orvalho, os quais podem ser tanto benéficos quanto destrutivos, especialmente para comunidades agrícolas. Do mesmo modo que a Deusa envia a água, ela também envia o fluxo do sangue menstrual.
A Lua rege as marés da Terra, bem como a das mulheres. Líquidos sempre foram símbolo da presença mística da Deusa. Seus santuários eram geralmente estabelecidos em grutas onde a água jorrava dentre as pedras. Cerimônias envolvendo a coleta e o derramamento de água são comuns em seus ritos, onde jarros com bicos fálicos eram utilizados em seu serviço.
Esther Harding (em The Women’s Mysteries, Harper Colophon Books, 1976) relata as antigas cerimônias de chamar chuva dos cultos matrifocais (que os homens eram proibidos de observar). As mulheres se reuniam nuas num curso de água e derramavam água nos corpos umas das outras. Geralmente isso envolvia a concentração numa sacerdotisa que representava a Deusa da Lua.
A ligação essencial dos Mistérios da Deusa com as mulheres ocorre sempre através dos fluídos, seja simbólica ou fisicamente. A mente subconsciente está associada ao elemento água, assim como as emoções em geral, e estas, por sua vez, estão associadas à natureza feminina.
Onde os Mistérios Femininos não refletem a psique de algum modo, eles podem ser encontrados em associações com os fluidos corporais das mulheres. Um dos aspectos da Antiga Religião era o de objetos serem abençoados através do contato ou da inserção na vagina de uma mulher nua deitada sobre o altar.
Baseado na obra de Raven Grimassi
Marisa Petcov
Moon Mother
Alta Sacerdotisa do Clã Nascidas Para a Lua
Presidente da AME - Associação dos Místicos e Esotéricos
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