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Não amo meu filho

Atualizado dia 24/04/2013 09:41:40 em Espiritualidade
por Regina Ramos


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Ouvi esta frase de uma amiga que tem enormes dificuldades de relacionamento com o filho. Primeiro ela relatou tudo o que a exaspera: “Ele sempre deu trabalho, desde menino, sempre foi indisciplinado, rebelde, provocativo, desafiador – nunca gostou de estudar, apesar de ter aprendido facilmente a ler e a escrever. Agora, aos 22 anos, está aí sem uma profissão definida, fazendo “bicos” para ganhar algum dinheiro, dependendo totalmente de mim e do meu marido, seu pai, para sobreviver. Minha filha é o oposto dele, nem parecem irmãos do mesmo pai e mãe. Tiveram o mesmo lar, receberam a mesma educação, o mesmo amor e carinho, mas ele sempre foi assim, um pau torto de nascimento. Teve acompanhamento psicológico, eu também fui fazer terapia para poder conviver com ele de forma mais harmoniosa, mas nada funcionou. Sou católica, orei, pedi a Deus que me iluminasse, porém aqui estou eu no deserto. Deserto do amor, porque quando olho dentro de mim vejo que o rejeito, que não o amo, que continuo fazendo um grande esforço para ao menos não partir para cima dele, que é o que tenho vontade de fazer algumas vezes. Não temos problema financeiro, vivemos com muito conforto e meu marido e eu nos amamos; poderíamos estar tranquilos agora que já estamos aposentados, mas ele é a nossa preocupação porque quando nos afastamos de casa, ele coloca amigos lá dentro e é aquela bagunça. É alienado, só quer “curtir” a vida às nossas custas e nem amoroso é, ao contrário, é um ingrato. Hoje não escondo mais meu desamor por ele. É meu filho, mas não o amo; claro que não lhe desejo mal, que cuido dele quando está doente, mas há um distanciamento sem tamanho entre nós. Tenho a consciência tranquila porque procurei ajuda desde que ela era criança e já mostrava desvios comportamentais; quando ele fez 18 anos, larguei de mão. Desisti de consertá-lo. Mas sofro por ter um filho assim”.

Procurei ouvir este relato com o coração, sem julgá-la. Como julgar a dor e as dificuldades vividas por uma pessoa? Cada um tem uma maneira de ser e de reagir. Eu a abracei procurando ser solidária e empática com o seu sofrer, mas senti que devia dizer alguma coisa; não para acalmá-la ou para lhe aconselhar, porém para talvez lhe mostrar alguns pontos que pudessem fazê-la entender como temos, todos nós, seres humanos, dificuldade de amar o que nos é estranho, o que não conhecemos, nem reconhecemos em nós. “Amar o próximo como a ti mesmo” é um dos mais difíceis dos mandamentos, principalmente quando esse próximo é tão diferente de nós, de nossas crenças e convicções, de nossa maneira de ser e agir. O mesmo se dá com o “Honrar pai e mãe” quando a mãe ou o pai não correspondem à imagem arquetípica comum ao inconsciente coletivo, ou seja, quando a mãe não é amorosa, cuidadosa, sábia e forte como imaginamos que deveria ser, ou quando o pai não é o provedor, o protetor e o herói que desejávamos que fosse. Eu mesma sofri abandono de pai no início da minha adolescência e claro que foi bem traumático; tão traumático que no dia em que ele saiu de casa eu menstruei pela primeira vez! Mas com o amadurecimento e por meio de diversas leituras e estudo da psicologia, fui encontrando respostas até o perdoar plenamente. Ele era apenas uma pessoa como eu, cheio de contradições, virtudes e defeitos comuns aos humanos.

Então, procurei mostrar à minha amiga, que não devemos sentir culpa por não termos ainda desenvolvido o amor que Cristo nos ensinou e que para ele era algo fácil de vivenciar por ser o Cristo. Amar assim leva tempo, talvez muitas vidas! Amar sem restrição, com aceitação da condição humana é amor crístico. Cristo nos ensinou, mas o processo de ensino e aprendizagem é longo. Aprendemos com o tempo, com o sofrer, com o tropeçar, ou também pela compaixão e perdão.

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Conteúdo desenvolvido por: Regina Ramos   
Professora de Português, Francês, História da Educação e Filosofia da Educação. Orientadora Educacional e Consultora Pedagógica. Palestrante. Taróloga.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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