Não ter o que dizer!
Atualizado dia 16/01/2012 07:49:03 em Espiritualidadepor Paulo Salvio Antolini
Quando pensei "até parece que nada tenho para dizer" comecei a me lembrar das tantas vezes em que escutei besteiras (e em algumas das quais eu mesmo fui o protagonista), por conta das pessoas que não tendo o que falar, também não sabem ficar caladas. Já testemunhei o absurdo de uma pessoa responder a outra, que relatava como seu pai havia falecido, e isso ainda no velório: "Ah, legal!". Legal o quê? Se o filho acabara de relatar a dor que seu pai demonstrou no último suspiro.
Você já parou para pensar em como se comporta quando não tem nada de consistente para dizer? Já parou para perceber como se sente nessa situação?
Precisamos aprender a conviver melhor com o silêncio. Ficar calado no momento certo pode dizer muito mais do que qualquer discurso. E o uso desse meio de expressão (o silêncio) é muito mais adequado do que se possa imaginar. Portanto, se estamos vivendo poucos momentos de silêncio em nossas conversas, precisamos começar a analisar como estamos conversando.
Não ter o que dizer é um dos motivos do silêncio. Outro motivo é a necessidade que todos temos ao refletir sobre algo que nos é informado. Impossível receber informações e não precisar processá-las, refletir sobre elas, identificar claramente seu conteúdo, sua dimensão e até onde chega o que nos foi falado. Responder de imediato é não nos darmos condições de ter consciência do que nos foi passado.
Por que, às vezes, falamos impulsivamente, como se não fosse possível ficar calado?
Uma das razões é acharmos que o outro irá nos julgar ignorantes ou desconhecedores do assunto, achar que não conseguimos compreender um estado ou uma dor. (O "legal", dito no caso acima, foi nada menos que uma demonstração de compreensão e solidariedade mal expressada!?).
Outra razão, é a falta de hábito de pensar, de refletir. O silêncio é um grande convite e faz parte também do ambiente ideal para a reflexão. Essa é uma verdade que até reconhecemos, mas que não deixa de nos parecer desagradável, já que não gostamos que aos olhos do outro possa parecer que pensamos pouco, refletimos pouco. Incomoda. Dói. Até nos envergonha. Mas a verdade é que nos atinge também. Estamos vivendo um momento onde a passividade mental é estimulada a cada minuto, em praticamente todas as áreas e segmentos.
A televisão, por exemplo, nos impõe que fiquemos apenas recebendo informações, evidentemente, selecionadas por alguns. As escolas, em todos os níveis, facilitam nossas e suas vidas diárias, quando nos passam avaliações de respostas de múltipla escolha. E olhem só: até nas orações, boa parte de nós apenas recitamos textos decorados, mas não sentidos e refletidos a cada frase dita. Lembro-me de um colega que, ao ser perguntado sobre o que queria dizer no Pai Nosso a frase "o pão nosso de cada dia nos daí hoje", respondeu ser o momento da oração onde pedíamos que não nos faltasse comida. Quando perguntado se poderia ser o alimento em todos os sentidos de nossa vida, espiritual, afetivo, ele gaguejou e respondeu: "...nunca pensei nisso....", só que ele rezava o Pai Nosso diariamente e se orgulhava em dizê-lo.
Algumas pessoas acham que quanto mais falarem, mais estarão mostrando conhecimento e domínio sobre o assunto. O que estão fazendo é se expor desnecessariamente. Ganhando o rótulo do "fala demais!"; "não sabe o que fala!"; "não pensa o que diz!" e outros adjetivos semelhantes.
Os ditos: "O silêncio por si só já é uma prece!" e "Ao fazer uma oração, antes aquiete sua mente", significam acalmar o turbilhão mental para então poder concentrar-se em sua oração. Cultive o silêncio e vai descobrir que através dele você passará a se ouvir!
Texto revisado
Avaliação: 5 | Votos: 4
Visite o Site do autor e leia mais artigos.. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |