O farol da lucidez
Atualizado dia 6/3/2010 8:47:36 AM em Espiritualidadepor Flávio Bastos
Em alguns artigos anteriores, abordei a experiência passional como necessária para que no nível das emoções e dos sentimentos, aprimoremos o discernimento e a sensibilidade, qualidades imprescindíveis para a evolução do espírito.
No entanto, o mesmo raciocínio vale para a necessidade de desenvolvermos o senso racional (razão) como instrumento que além de incorporar o conhecimento adquirido através da experiência vital, estabelece o equilíbrio entre a própra razão (intelecto) e a emoção (alma) como ideal a ser atingido pela consciência humana.
Durante as nossas múltiplas vivências na dimensão física, a desarmonia que experenciamos entre a faculdade da razão e a expressão de nossas emoções, tem sido um dos principais fatores do desconhecimento que temos de nós mesmos. Situação que se repete num ciclo de desequilíbrios psíquico-espirituais de fundo emocional.
Tanto o indivíduo muito racional, exageradamente autocontrolado, que reprime as suas emoções, quanto o indivíduo excessivamente sensível - ou suscetível - que tem dificuldade em controlar as suas emoções, são situações que apresentam consequências no comportamento e no relacionamento sócio-afetivo.
A historia da humanidade registra atrocidades cometidas tanto em nome da razão quanto em nome da emoção. O nazismo e o fascismo são exemplos de como os desequilíbrios da razão associada ao poder, podem influenciar mentes perversas que têm dificuldades em lidar com as emoções e a sensibilidade humana. Por outro lado, as emoções quando em desequilíbrio pela falta de uso da razão, podem influenciar e levar multidões de indivíduos ao genocídio ou ao suicídio coletivo.
No âmbito das emoções, a desarmonia é responsável por inúmeros dramas pessoais ou tragédias familiares onde encontramos muitas vezes como pano de fundo, a dependência química, a delinquência, os homicídios e os suicídios.
Em relação aos indivíduos que apresentam o desequilíbrio emocional como característica comportamental, todos trazem na bagagem de múltiplas vivências do espírito imortal, a dificuldade de lidarem com as suas emoções. Dificuldade explicada pela falta de experiência que seja suficiente como "contrapeso" na balança vital.
Por outro lado, é equivocada a filosofia de "viver a vida intensamente como se cada dia fosse o último", pois elege a emoção como atriz principal no palco da vida. Esquecemos que se a vida não estiver iluminada pela presença da razão, ou seja, "viver a vida com intensidade equilibrada", que reune emoção e razão, o palco jamais estará com o seu elenco de atores completo...
Portanto, despertar para a razão quando nos encontramos num redemoinho de emoções que nos conduz para águas sombrias pelas quais navegamos sem encontrar um porto seguro, é o que precisamos para que a nossa rota seja iluminada pelo farol da lucidez.
O exercício equilibrado da razão - e não o predomínio - é o que liga as emoções humanas ao autoconhecimento. Porém, sem a experiência de nível emocional, a vida torna-se vazia de experiências afetivas que engrandecem a alma...
Razão e emoção, harmonizados, elevam o indivíduo à sua inerente transcendência. Enquanto que em desarmonia, a razão fixa-o às influências nocivas da matéria; e a emoção, aos desajustes da afetividade e do comportamento.
O autoconhecimento, sem o aprimoramento racional, torna-se um caminho confuso, cheio de mistificações e crendices. Sem a experiência passional de qualidade, torna-se um escuro labirinto de difícil saída.
A razão emana do intelecto, enquanto a emoção emana da alma. A razão pesquisa, investiga, questiona e conclui. A emoção envolve o conhecimento com o calor do coração.
Bernard Shaw imortalizou uma frase, ao registrar: "Não há diferença entre um sábio e um tolo, quando estão apaixonados". Afirmação que evidencia que nem mesmo os sábios escapam de envolvimentos emocionais....
Um belo texto de origem africana, a "Canção dos homens", de Tolba Phanem, talvez descreva o ideal que buscamos na simbiose entre a emoção e a razão. É o que veremos a seguir.
Quando uma mulher de certa tribo da África, sabe que está grávida, segue para a selva com outras mulheres e juntas rezam e meditam até que aparece a "canção da criança". Quando nasce a criança, a comunidade se junta e lhe cantam a sua canção. Logo, quando a criança começa a sua educação, o povo se junta e lhe cantam a sua canção. Quando se torna adulto, a gente se junta novamente e canta. Quando chega o momento do seu casamento, a pessoa escuta a sua canção. Finalmente, quando sua alma está para ir-se deste mundo, a família e amigos aproximam-se e, igual como em seu nascimento, cantam a sua canção para acompanhá-lo na "viagem".
Nesta tribo da África há outra ocasião na qual os homens cantam a canção. Se em algum momento da vida a pessoa comete um crime ou um ato social aberrante, o levam até o centro do povoado e a gente da comunidade forma um círculo ao seu redor. Então lhe cantam a sua canção. A tribo reconhece que a correção para as condutas anti-sociais não é o castigo; é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade. Quando reconhecemos nossa própria canção já não temos desejos nem necessidades de prejudicar ninguém. Teus amigos conhecem a "tua canção" e cantam quando a esqueces. Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos erros que cometes ou as escuras imagens que mostras aos demais. Eles recordam a tua beleza quando te sentes feio; tua totalilade quando estás quebrado; tua inocência quando te sentes culpado e teu propósito quando estás confuso".
Concluímos com a certeza de que o homem é um ser emocional e racional, ou seja, que uma característica inerente é a "cara-metade" da outra, e que as duas se completam de uma forma harmoniosa. Mas quando separadas se desequilibram e afetam o indivíduo na sua estrutura vital, originando descompassos na área comportamental e afetiva da vida atual e futura.
Cabe a nós percebermos o momento vital para concluir em qual caracterísitica precisamos investir: na emocional ou na racional. Não esquecendo que na dúvida, temos a razão como farol da lucidez que nos guiará às águas mais tranquilas até chegarmos a um porto seguro de nossa existência.
Psicoterapeuta Interdimensional.
flaviobastos
Texto revisado
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Flavio Bastos é criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clínico. Outros cursos: Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão, Capacitação em Dependência Química, Hipnose e Auto-hipnose, e Dimensão Espiritual na Psicologia e Psicoterapia. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |