O que é ajudar ao próximo?
Autor Alex Possato
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 1/15/2013 7:36:25 PM
Houve um tempo em que me senti preparado para ajudar o outro: sabia trabalhar com a auto-estima, dar ferramentas de planejamento para uma pessoa organizar suas áreas da vida e semear a transformação. E executar! Pronto! Eu poderia ajudar a humanidade! E pensei em realizar um trabalho numa favela próxima. Encontrei o lugar, fiz os contatos, consegui um espaço... Bem...Na primeira reunião que tive com os moradores, a coisa ficou difícil...
Eu tinha ferramentas de coaching para oferecer. Na minha arrogância, acreditei que, ao ajudar uma pessoa a traçar planos, ambicionar conquistas, eu estaria incentivando o fulano a sair da favela e a ter uma vida mais digna. Mas eles me pediram leite. Remédios. Dinheiro. Favores. Coisas que eu não tinha pra dar.
Minha experiência de salvador da pátria durou muito pouco. Percebi que fiquei muito frustrado e até irritado por não poder fazer nada... E não estar disposto a aceitar os habitantes daquele lugar do jeito que eram, com suas necessidades de assistencialismo... Eu queria que eles fossem diferentes. E eles não eram. Analisei profundamente o que este fato me provocou. Percebi que, no fundo, eu me achava melhor que eles, e eles deveriam ser gratos e acolher o que eu estava oferecendo. E vi o quanto de orgulho havia em mim, o cara "de uma classe privilegiada"... Desci do pedestal. Saquei que não estava emocionalmente preparado para ajudar ninguém. E que estava com o coração fechado para as diferenças.
Perante Deus, todos são iguais
A vontade de fazer algo pelos outros nunca morreu. Mas vi que a vida foi me preparando para isso, naturalmente, gradualmente, respeitando o meu desenvolvimento emocional. Foi necessário curar minhas dores, que eram muitas. Usei um artifício muito eficaz para identificar onde estavam estas dores. Eu fazia a pergunta:
- para quem o meu coração está fechado? Com quem eu não consigo aceitar, servir e amar incondicionalmente? Quem me provoca?
Se Deus permite a existência de todos os seres que habitam a Terra, com suas peculiaridades e comportamentos tão diferentes, por que eu, alguém com inúmeros defeitos e vícios, não aceitaria? Por que tenho que negar e combater outro ser humano, igual a mim? E assim fui caminhando. Não eliminei todas as mágoas... continuo imperfeito... muito imperfeito! Mas em algum momento, percebi que posso deixar meus julgamentos de lado, meus incômodos de lado, e me abrir para o próximo.
Esse momento só ocorreu no instante em que renunciei quase que totalmente à necessidade de reconhecimento, de elogio, de gratidão das pessoas que eu estava me relacionando. As vezes ainda me pego nestes desvios egóicos, mas consigo vê-los e deixá-los passar... Aí ficou mais fácil servir.
No fundo, ninguém faz nada por ninguém. Só emprestamos nosso corpo, mente e talentos para que Deus possa utilizar o instrumento e fazer a Sua obra. Por isso, não é necessário nutrir grandes expectativas quanto ao que se faz, porque qualquer coisa que se faça com este espírito, já é o suficiente. Aquilo que fazemos pelo outro deve, portanto, fluir naturalmente, facilmente, sem angústia nem cobranças, já que o Universo a tudo controla. Estar com o coração aberto, só isso. Como diz o rabino Harold Kushner, "não precisamos encontrar a cura do câncer para fazer a diferença no mundo... temos apenas de dividir nossa vida com os outros".
Faça o fácil, aquilo que flui naturalmente de si ao próximo
Milhares de pessoas estão necessitando das suas habilidades. O que você faz com facilidade? Quais os dons que, aqui e agora, você pode dispor ao próximo? E não importa para quem você irá direcionar seus atos, ou se você irá cobrar pelos seus serviços ou não... Estar com o coração aberto é uma postura que devemos treinar a todo instante, com todas as pessoas das nossas relações. Lembra-se do que descrevi no começo do texto? É importante não se achar diferenciado, melhor, e ver pessoas carentes ou com dificuldades que precisam de um salvador. Isso é um grande engano.
Se somos amorosos com os necessitados, devemos sê-los igualmente com a esposa, o marido, os filhos, os pais, os vizinhos... Incluindo aqueles que, aparentemente, não gostam de nós, que têm bronca... Podemos treinar esta postura... Em algum momento, começa a ficar natural olhar carinhosamente para todos... E qualquer pessoa consegue isso. Creio firmemente que estamos avançando para um patamar de desenvolvimento da humanidade onde fica mais fácil se apoiar em atitudes nobres, sinceras e verdadeiramente espirituais. Vejo em minha volta muitas pessoas neste caminho... E busco, a passos de tartaruga, seguir por esta estrada. Acho que você também é uma dessas pessoas, não é mesmo?
Alex Possato é terapeuta familiar sistêmico, coordenador da Casa Amor em Movimento e do projeto Expressão do Ser
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Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |
