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O QUE HAVERÁ DE NOVO NO ANO NOVO

Atualizado dia 12/17/2010 9:04:51 PM em Espiritualidade
por Oliveira Fidelis Filho


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Passagens de ano já foram para mim momentos de fortes emoções. Não porque tivesse a oportunidade de celebrar o réveillon nas paradisíacas praias da Tailândia, ou participando da contagem regressiva no Time Square ou na Disney, ou em Dubai onde a ambição do emirado é tornar a queima de fogos do réveillon uma das maiores do mundo, ou juntar-me à multidão que lota Champs-Élysées à espera do acender das luzes da Torre Eiffel, ou ainda no Rio de Janeiro, Florianópolis, Balneário Camboriú, entre outros tantos lugares de iluminadas e emocionantes celebrações. 

Minhas emoções resultavam de razões intimistas e intimidantes. Durante a infância e adolescência, a passagem de ano era uma experiência religiosa e, para mim, bastante tensa. Por pertencer a uma família cristã presbiteriana, meu réveillon acontecia no templo. Momentos antes da meia-noite, apagavam-se as luzes e éramos conduzidos ao silêncio introspectivo. Em minha crença, havia mais probabilidade de Jesus retornar na passagem do ano, o que desencadearia o fim do mundo, o juízo final, o acerto de contas com o Soberano e a definição de meu domicilio eterno: no céu ou no inferno. Para mim, uma criança dotada de significativa sensibilidade, era muita pressão!  O alívio só chegava com os primeiros minutos do novo ano. Por mais um ano estava prorrogado o meu ajuste final. A religião faz destas coisas...

Com o passar dos anos, e então como pastor presbiteriano que fui por quase trinta anos, fui transmutando minha religiosidade em espiritualidade. Parei com o culto de passagem de ano, optei por celebrações encharcadas de gratidão e isso bem antes da meia-noite. Hoje, livre das exigências religiosas, gosto das noites para dormir, em qualquer lugar ou data e, não fosse o foguetório a me manter em vigília, trocaria de bom grado qualquer festa de réveillon por um bom sono. Afinal, à medida que os anos passam, continuo cada vez melhor de cama.

Vim saber com o tempo que, além do calendário gregoriano, Deus dispõe de outros calendários com várias alternativas para acertar os ponteiros ou as contas com a humanidade; sem falar em contagens de anos bem diferentes. Por exemplo, no ano de 2011 os chineses irão celebrar o ano de 4708. A comemoração acontece sempre entre os dias 21 de janeiro e 20 de fevereiro. O calendário Judaico começa no dia 7 de outubro de 3760 AC e em 2011 será comemorado o ano de 5771. O calendário Islâmico começa no ano de 622 DC e em 2011 os Islâmicos comemorarão seu ano de 1389. No calendário hindu, o dia começa no momento do nascer do sol, no horário local; o início do ano varia segundo as regiões. No sul da Índia, o Ano Novo é o primeiro dia do mês Chaitra (março); à leste e ao centro, adota-se o primeiro dia de Kartik (outubro);  finalmente, para a comunidade Tamul, o Ano Novo é celebrado no mês Vaishakh (abril). Portanto, na Índia além de decidir onde passar o réveillon fica faltando o quando.

Quanto à forma de comemorar, cada povo com sua mania. A dos portugueses é sair às janelas batendo panelas para festejar a chegada do novo ano. Na Escócia, é a de homens e mulheres que nunca se viram beijarem-se na boca. Some-se a isso o tradicional hábito de beber uísque em qualquer comemoração e está garantido um dos réveillons mais animados da Europa. Os dinamarqueses, depois de uma ceia à base de peixes e batatas, aguardam pela meia-noite. Quando o relógio está prestes a soar as doze badaladas, todos na família sobem em cadeiras; assim que dá meia-noite, pulam da cadeira para o novo ano e brindam com champanhe. Os chineses fazem uma bela faxina em suas casas para espantar os maus espíritos e atrair boa sorte. Lá se usa a cor preta para dar sorte na noite da virada. Os austríacos têm o hábito de jogar chumbo derretido num copo com água no momento em que o relógio soa zero hora. As figuras que surgem quando o chumbo esfria são guardadas pelas pessoas como um amuleto que irá ajudar na realização dos pedidos feitos na passagem do ano. Quanto aos colombianos, no dia da virada, pegam uma mala e dão uma volta em torno de suas casas, despedindo-se de todos que cruzarem seu caminho. Eles acreditam que isso atrai um ano de aventura. 

Somado a estas manias, simpatias, rituais, ainda é possível pular sete ondinhas, tomar champagne, usar branco, comer lentilha, jogar flores no mar, comer e guardar 7 sementes de romã, pôr folhas de louro na carteira, usar calcinha cor de rosa...

Curiosidades à parte, atentemos para o fato de que a magia e as emoções do réveillon são sempre produto de nossas fantasias. Uma passagem de ano por si só é esvaziada de significado, sequer existe. Na verdade, os sentimentos de alegria ou tristeza são, geralmente, produto do juízo de valor atribuído ao fato, da importância a ele conferida.  A contagem do tempo é uma invenção causada pela necessidade de controle e posse humana. Ironicamente, tudo que julgamos possuir ou controlar acaba por nos dominar. Após o calendário criado ele parece assumir vida própria voltando de forma ameaçadora e opressiva contra os seus criadores; de fato, cada vez mais somos escravos do tempo. Logo nós que carregamos na essência a semente da eternidade.

Buscamos enxergar em um ano novo valores e poderes fantasiosos, geralmente impossíveis de se realizar, destituídos de sentido. Pensamos existir na passagem de ano um mágico poder, capaz de encerrar um ciclo e começar outro, um compulsório renascimento; e assim, empurrados pela avalanche da emoção, elaboramos projetos e fazemos promessas destituídas de coerência e consistência.

Entretanto, mais sábio que "colocar todos os ovos em uma só cesta", depender de um só dia para sonhar, celebrar e redefinir a vida é contar com todos os dias para acrescentar sabedoria ao coração, fazendo nossa a oraçao do profeta e legislador Moisés quando fez a Deus o seguinte pedido: "Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio". 

Mais sábio, certamente, é celebrar um dia de cada vez. Percebendo em cada manhã um renascimento, uma nova era, uma miraculosa ressurreição, um dadivoso e singular presente. É sábio e feliz aquele que não espera o final do ano para descansar pois aprendeu a encontrar o sábado no espaço silencioso da alma, a cada dia. Já libertou das couraças sua divina e eterna criança e com ela brinca todos os dias. É sábio quem independentemente de data ousa estourar a champagne, sozinho ou com os amigos, pois mais que celebrar uma data aprendeu a celebrar a vida. É sábio quem não depende de tempo ou espaço para vestir de branco a alma, para a expansão espiritual e de consciência, pois entende que a vida é um culto, adoração contemplativa e ativa, fazendo dos atos de bondade sua mais perfeita liturgia.  É sábio quem olha para a noite como uma acolhedora e misteriosa passagem e a ela se entrega com a consciência em paz. É sábio quem não se restringe aos pulinhos de alegria somente no réveillon.

Quanto ao que haverá de novo no ano novo, na vida de cada um, creio que dependerá também do espaço disponível para a presença divina, pois como registrou o vidente João, no livro das Revelações, foi Deus quem disse: "Eis que faço nova todas as coisas".

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Conteúdo desenvolvido por: Oliveira Fidelis Filho   
Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor.
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