OS DROGADINHOS - Órfãos de pais vivos 3/11



Autor Dante Bolivar Rigon
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 25/05/2012 17:58:03
O Livro Nêmesis o Deus Menino encontra-se também no site pesquisa Google book - pesquisar dentro- Não mostra os principais enfoques nem os momentos de clímax, mas nos dá um idéia da proposta que é uma excursão no passado de nosso sistema solar dentro da conotação evolução espiritual.
Continuação - 3/11
As comissões das vendas eram divididas ficando a metade com J.P., e a outra parte com a cozinheira e o motorista. Eu não queria nem precisava do dinheiro pois era rico, e estava metido no negócio apenas pela companhia de J.P. e dos outros moleques que eu abastecia. Nesse tipo de negócio, o envolvimento é tão estreito e íntimo que parece que todos pertencem a uma mesma família unida, solidária e indestrutível. Os laços que nos uniam eram tão ou mais acentuados que meu relacionamento com vovô e vovó enquanto vivos, apesar de nunca desligar-me de sua memória.
Na época em que completei catorze anos, o traficante resolveu investir com um marginal da Rocinha no ramo de filmes pornográficos usando crianças como personagens. Negócio rendoso embora arriscado, não se distanciava muito das práticas escusas do submundo. Foi nessa época que eu passei a namorar e seguidamente me relacionava com uma ou outra garotinha drogada, pois J.P. achava que já era momento de tornar-me homenzinho, incentivo esse partilhado pela cozinheira e jardineiro. Certa vez fui convidado para participar em alguns filmes pornográficos pois eu era um garoto precoce e muito bonito, mas neguei-me pois abominava esse tipo de atividade. Quando soube que faziam seções de sexo explícito entre homens e garotinhos às vezes com idade de seis ou sete anos fiquei tão revoltado que resolvi denunciá-los. Só não o fiz porque J.P. avisou-me que se eu tentasse seria imediatamente eliminado. Devido a essa atitude, apenas como garantia pois não queriam correr riscos desnecessários, colocaram um apagador para me vigiar até que eu esfriasse a cabeça.
Em uma noite de sábado meu pai convidou três amigos para jantarem em nossa casa. Enquanto a ceia era preparada jogaram cartas terminando por ficarem envolvidos até altas horas. Ao despedirem-se, não sei por que razão, acompanhei-os até à porta despedindo-me deles lá. Desconfiado, o apagador que havia me seguido à tardinha ficou vigiando e afirmou ao traficante que eu havia recebido um distribuidor peruano que ele conhecera de vista certa ocasião. Isso só fiquei sabendo muito mais tarde: eu era o encarregado da distribuição escolar da cidade, e junto com J. P. liderava a melhor equipe de garotos e dominava os melhores locais. Se eu passasse a operar por conta própria provocaria um considerável prejuízo o que não poderia ser aceito de forma alguma. Sem saber, por cumprimentar amigos de meu pai, eu estava irremediavelmente perdido. Fora decretada minha morte.
À tarde do outro dia recebi o telefonema. Era o sócio do estúdio convidando-me para participar de uma tomada cinematográfica onde eu deveria aparecer em uma cena quase social com Rosinha. Ao recusar veementemente o convite ele disse-me que se eu me negasse usaria a Rosinha em uma cena com Marcão para uma casa de espetáculo pornô. A Rosinha era uma bela viciadinha de doze anos de que eu gostava muito e seguidamente a presenteava com roupas, sapatos e bijuterias, pois seus ganhos eram quase insignificantes e levava todo o dinheiro para a avó doente. O Marcão, embora não o conhecesse sabia que era violento e já havia estourado pelo menos meia dúzia de garotos. Revoltado mas preocupado que pudesse acontecer algo de mal à garotinha resolvi aceitar a imposição. Entre os males, o menor...
Eu gostaria de fazer um comentário antes de seguir o relato. Quando fui convidado para acompanhar a entidade Cartolinha o diretor de internação do hospital espiritual em que fui recebido na ocasião de meu desencarne contatou comigo para avaliar meu estado de saúde, pois eu iria incursionar em um ambiente altamente denso. Enquanto me examinava abordamos o assunto de minha excursão, chegando à mesma conclusão: embora o trabalho de vocês se direcione a um estudo evangélico onde o amor, a compreensão, a tolerância, a dedicação incondicional e a doçura são assinalados e perseguidos, entendemos que há necessidade de também mostrar a verdade daquilo que acontece nos bastidores da Vida quando as verdades maiores são desconsideradas. Há necessidade de denunciar, - disse-me ele - pois não é possível sonegarmos por mais tempo informações tão importantes enquanto nossos hospitais ficam cada vez mais lotados devido à incúria dos que em nome da Vida se prontificam a encaminhar seus filhos nas rotas evangélicas, esquecem o compromisso tão logo abrem os olhos para o mundo da matéria. Gostaria também de registrar que me é penoso recordar os deploráveis deslizes que pratiquei facilitando a crianças como eu a aderirem ao mundo da droga e eventualmente do crime. No entanto devo fazê-lo mesmo com o peito opresso, pois se apenas um pai ouvir e aceitar meus argumentos será o suficiente para que pelo menos haja um garoto a menos a sofrer as consequências desse nefando comércio que destrói a vida e as esperanças de milhões de almas nesse mundo de Deus.
- Esteja à vontade, - incentivou Jonas - por certo seu relato será analisado exaustivamente, e sua experiência servirá de estudo em todos os nossos grupos de pesquisa.
- Na hora marcada eu estava a postos no estúdio. Sorrindo e bem humorado o encarregado do negócio recebeu-me, e dizendo que Rosinha telefonou avisando que demorar-se-ia mais alguns minutos pois perdera o ônibus, convidou-me para ir ensaiando a tomada de cena. Mandou que tirasse a roupa e vestisse uma sunga de pele e fizesse algumas cenas preliminares. Seguindo suas instruções, passeei pelo estúdio fazendo diversas tomadas, e por fim à sua ordem deitei-me na grande cama cênica em uma tomada quase cômica. Após analisar o trabalho alegou que eu estava muito tenso e necessitaríamos refazer as cenas. Eu deveria relaxar, andar normalmente, deitar displicentemente. A segunda prova também não o convenceu, e mandou que me ministrassem uma dose de cocaína para que eu relaxasse. Achei a dose um tanto exagerada, mas ele alegou tratar-se de produto mais fraco. Quando o efeito da droga começou a tomar-me percebi que a dose fora exagerada e vi entrar no cenário um homem nu de grandes proporções deixando-me estarrecido ao lembrar os comentários sobre tal criatura. Era o Marcão que estava ali. No desespero tentei levantar-me e correr enredando-me na fiação dos refletores e caindo no chão. Continua segunda-feira









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