Pare de jogar o jogo da vítima-agressor-carrasco
Atualizado dia 5/1/2014 3:40:28 PM em Espiritualidadepor Alex Possato
Um cachorrinho vira-lata que observei, certa época, com uma personalidade extremamente medrosa, ao menor sinal de perigo – imaginário, diga-se de passagem, jogava-se ao chão, indefeso, com uma cara de sofrimento, esperando a porrada que normalmente ele atraía.
Apesar da atitude dele dizer: não me bata, não me bata, não me bata! – a vontade de bater nele era grande. No fundo, ele estava encarnando uma energia que dizia: sou culpado e mereço punição.
E se nos conectarmos com esta energia, o lado “repressor e punidor” que há em nós será despertado. A vítima precisa do carrasco, e o carrasco necessita da vítima, neste jogo sádico e doentio.
Tenho observado este tipo de comportamento, o de “cachorro vira-lata culpado” que espera ser punido, em mim mesmo. Quantas e quantas vezes ajo de forma que me ensinaram ser errada?
E quantas vezes me culpo e fico esperando a punição que certamente virá, como também me ensinaram? Se eu errei, preciso de punição. E se vejo alguém que cometeu um ato que me ensinaram ser errado, desejo a punição para ele.
Incluindo as emoções da vítima, do agressor e do carrasco
Se você acredita que está errado, o seu foco mental está totalmente tomado pelo erro. E pela punição. É tamanha a concentração neste minúsculo ponto – o erro, que a sua poderosa mente vai despertando em si todos os erros do seu passado. E todas as punições. Todos os momentos em que você foi agredido, humilhado, preso, torturado, banido, expulso. Porque você transgrediu a lei. Avançou o sinal. Fez algo que não devia, não podia, não era o correto. Mas fez. A culpa vem acompanhada de uma sensação de fragilidade. Ou talvez a raiva contra aqueles que o puniram traga a sensação de indolência e confronto. Porque a vítima também agride. Com armas diferentes, mas agride. Mas você está lutando contra moinhos de vento. Erros do passado são do passado: não importa se foi ontem, ou nos inícios dos tempos. Punições do passado são do passado. Porém, sua mente está presa no erro. É só isso que o seu ego sofredor crê. Para sair deste jogo, é preciso vivenciar o seu fracasso como ser humano. Aqui e agora. Respirar sua fragilidade e impotência. Neste momento! Sentir realmente a dor de ser punido e excluído… E não só: é preciso olhar para o outro lado.
Se você é vítima, você é também agressor. E carrasco. Você necessita deles, para jogar o jogo, e depois, punir-se. Então… por que a raiva contra aquele que lhe faz o mal que você pediu? Ele também sente culpa, ao bater em você! Você não se sente mal, quando se culpa? Quando bate em si mesmo? Mas o agressor está impossibilitado de fazer outra coisa, neste momento. Porque em outro momento, você será outro personagem, que irá, bater, acusar, dar o veredito e realizar a execução. Uns, jogam este jogo manipulando a energia agressiva. Outros, devido às suas características internas, manipulam através do vitimismo. Seja internamente, ou nas suas relações pessoais, o jogo é o mesmo.
Observe o jogo, os jogadores… e tome a firme decisão: pare de jogar!
Espere um tempo. Stop! Pare de jogar! Só um instante, por favor. Deixe de se ver “certo ou errado”. Culpado ou inocente. Vítima, agressor ou carrasco. Mesmo que você cometa atos que firam a si ou a outros… tudo bem… não se julgue, somente neste momento. Mesmo que você faça atos benéficos. Ok. Deixe de se comparar aos certos e errados que você aprendeu.
O seu coração está convidando você a olhar para tantas e tantas feridas que esse jogo lhe causou: quantas relações se acabaram, por esta extrema necessidade de mostrar-se, hora certo, hora errado? Quantas oportunidades você deixou passar, porque sentiu-se incapaz? Quantas doenças – físicas, emocionais, mentais e sociais – você contraiu, devido à extrema cobrança e crítica – a si e aos outros? Quantas inimizades? Quantos amores não vividos? Quantas danças não dançadas? Quantos saltos interrompidos por medo? Por dúvida? Por falta de fé? Quantas pessoas você feriu, com suas críticas, sua punição? Quantas vezes deixou de estender as mãos para alguém, porque estava criticando? Quantas pessoas você puniu, punindo a si mesmo ao deixar de manifestar a compaixão real, o perdão verdadeiro?
Respire neste sofrimento… que você foi ensinado a provocar em si, e para si. Ensinado pela sociedade, pelos seus pais, avós e antepassados, que também eram exímios jogadores desse jogo sadomasoquista. Respire o sofrimento de todas as gerações anteriores a si, que não teve o prazer de viver leve, sem a necessidade de jogar, e portanto, sem precisar julgar, nem punir. Nem ser punido.
Respire. E solte o ar. Solte todo o ar. Esvazie completamente seus pulmões. Encha novamente. E solte… A vida é este fluxo de respirar e expirar. Errar e acertar. Fazer e não fazer. Endurecer e relaxar. Prender e soltar. Prazer e sofrimento. Não há um único ser humano na Terra que não seja igual a você. Nenhum! Somente ouvi dizer que alguns aprenderam a deixar este jogo. E embora sintam e hajam como todos nós, seres humanos, vivem mais leves e felizes. Estes seres não se identificam mais com a vítima ou carrasco. Sabem que existe uma Lei maior guiando todo o Universo… o que dizer então deste minúsculo planeta que habitamos, inserido num sistema que é tão pequeno, mas tão pequeno, que nossos certos e errados tem menos importância do que um grão de areia no meio do deserto. E estes seres dizem que é possível sair do jogo… passo a passo. E o primeiro passo pode ser dado agora. Já! Neste exato momento… E dizem mais uma coisa: que, às vezes, nada mais é necessário do que… este primeiro passo – pois o tempo e o espaço só é existente enquanto estamos identificados com o jogo e os jogadores. Deixando de jogar… Onde está o agressor? Onde está a vítima?
Texto revisado
Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |