Qual é a minha natureza?
Atualizado dia 04/06/2010 11:22:30 em Espiritualidadepor Allan Lopes
Por apenas um minuto vamos considerar a idéia de o que aconteceria ao broto de bambu se ele quisesse se tornar um carvalho e, a partir daí, traçar uma analogia com o que temos feito atualmente com nossas próprias naturezas individuais.
Um broto de bambu a partir da hora que desponta no solo possui uma quantidade de energia suficiente para criar toda a sua estrutura e crescer até o topo do bambuzal.
Esta quantidade de energia é enorme. O carvalho já não dispõe de tanta energia inicial. Um broto de carvalho precisa imediatamente após despontar do solo ter suas primeiras folhas lançadas para começar a captar energia do exterior. Guardemos esta primeira necessidade: Energia.
Se o broto de bambu visse um broto de carvalho ele provavelmente jamais iria querer se tornar como ele. Mas quando ele vê um carvalho já formado e forte, todo frondoso e ocupando sozinho uma enorme área, ele fica todo entusiasmado, e começa a querer se transformar em um grande e robusto carvalho.
Acontece que o bambu, por mais energia que possua, ele tem um tempo para utilizá-la. Normalmente 30 dias para sair do chão e chegar ao topo do bambuzal, pois só aí ele poderá lançar folhas e começar a captar energia do exterior. Um carvalho, por já começar a captar energia desde cedo pode se dar ao luxo de amadurecer lentamente durante muitos anos antes de se tornar um pequeno arbusto. O tempo de um é rápido, o do outro vagaroso.
Se no meio de sua corrida ao topo o broto de bambu começa a desviar sua energia para tornar seu caule mais grosso, tentar emitir folhas arredondadas e criar casca, ele não só não será bem sucedido nesta tarefa, como perderá a energia que precisa para chegar ao topo do bambuzal. Ambas as tarefas serão frustradas, e o broto jamais se tornará um bambu. Segunda necessidade: Tempo.
O broto de bambu se alimenta de uma quantidade de água enorme, o carvalho vai bebendo aos poucos. O broto de bambu aglutina uma série de minerais e componentes para criar seu caule que são completamente diferentes dos que o carvalho necessita para se constituir. Se o nosso broto hipotético quisesse matar sua sede lentamente e buscar os nutrientes que fazem do carvalho uma árvore poderosa e estável ele certamente morreria de inanição. Terceiro fator: recursos.
Vimos que se o broto de bambu ignorar em primeiro lugar a sua natureza individual, e em seguida estas três necessidades específicas de sua espécie, energia, tempo e recursos, ele está fadado a terminar sua existência sem ter antes cumprido o seu caminho, o seu propósito de vida, sem ter concretizado o projeto que a natureza e o universo desenhou para ele.
Nossa natureza individual pode ser comparada a um broto, ainda por se desenvolver. Nosso caminho de vida pode se comparar à etapa de crescimento das plantas. Nosso objetivo de vida é sem dúvida nos tornarmos aquilo para o qual o Universo nos projetou. Nossa felicidade pode ser vista como os frutos que conseguimos gerar para nós e para os demais uma vez que atingimos o nosso propósito. Todas estas etapas são extremamente dependentes de energia, tempo e recursos.
Na vida humana, temos ainda um grau a mais de complexidade. O desenvolvimento de nossa psique, ou a presença de um espírito, ou alma, ou simplesmente um telencéfalo desenvolvido, nos dá a percepção de uma individualidade do ser em relação à espécie, de forma que não podemos falar apenas em energia, tempo e recursos para toda a humanidade. Além das necessidades básicas destes fatores em relação ao nosso corpo físico estes mesmos fatores existem em relação às nossas necessidades emocionais, sociais, sentimentais, intelectuais e interiores ou espirituais. E neste caso cada um de nós possui uma natureza extremamente individual e que, portanto, irá requerer energia, tempo e recursos em quantidades e qualidades muito particulares.
Mas quem de nós nunca foi um broto de bambu querendo ser um carvalho? Ou o contrário, um broto de carvalho querendo crescer e se tornar um carvalho inteiro em 30 dias, como fazem os bambus?
Temos a tendência de observarmos outras formas de manifestação humana e querermos copiá-las, seguí-las, observá-las, imitá-las ao máximo até nos confundirmos com elas. E isso não apenas de um ponto de vista óbvio, como os fãs de algum artista, ou viciados em reality shows ou os fanáticos de alguma seita ou religião. Mas fazemos isso em questões sociais, como comportamento, expressões, pensamentos, ações, dos mais corriqueiros, como ir ao banheiro aos mais complexos como trabalhar ou fazer um doutorado. Fechamos nossos olhos interiores que contemplam a nossa maravilha individual.
Poucas vezes estamos sendo nós mesmos porque nunca destinamos a energia, o tempo e os recursos para sabermos quem somos.
A boa notícia é que não somos brotos de bambu. E isto significa que mesmo tendo passado mais de 30 dias tentando ser quem não somos podemos ainda retomar o caminho. Podemos muito profundamente indagar, investigar e descobrir a resposta para a mais obvia e ainda sim menos perguntada das questões, a única que uma vez respondida poderá nos dar a pista sobre qual a quantidade e a qualidade da energia, do tempo e dos recursos que necessitamos:
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