Querer só do seu jeito!
Atualizado dia 17/03/2014 08:57:13 em Espiritualidadepor Paulo Salvio Antolini
Não pára por aí. Quando ela se manifestou em seu desejo de se separar, foi ameaçada de morte e ainda por cima, quase violentada, maneira delicada de dizer que foi forçada a fazer sexo com ele. Foi esse o quadro que ela trouxe.
Juntos eles compraram um terreno e construíram uns cômodos para morarem, pagos praticamente só por ela, mas que estava em nome dele. Ainda hoje paga dívidas para poder limpar seu nome, pois tudo era comprado em nome dela, pois ele não tinha crédito. Nesta sessão, ela deparou-se com o impasse: ficar com ele e continuar a sofrer as agressões que ele lhe impunha ou separar-se e correr o risco de ficar sem sua parte da construção.
Todas as possibilidades aventadas foram descartadas em função de não correr o “risco” da perda, como se ele já não existisse. A grande esperança era que ele a deixasse e que, no mínimo, desse metade do valor do imóvel para ela. Nem a possibilidade de consultar um advogado para ver quais seus direitos legais lhe passava e também foi recusada quando questionada.
Essa descrição se encaixa na grande maioria das pessoas, pois troca-se o cenário e o enredo, mas as forças interiores são as mesmas. Em todos os níveis sócio-econômicos, não há diferença. O apego que se manifesta em situações onde as decisões implicam necessariamente em algumas renúncias é tão forte que causa uma “cegueira” total na tomada dessas decisões.
Já citamos em outra oportunidade que para cada opção ocorrem várias renúncias. Teoricamente, todos nós, sem exceção, sabemos disso, mas na prática, a ação é de querer tudo ao mesmo tempo, exigindo-se situações incompatíveis. Maridos que querem ficar com a esposa e com a amante e o inverso também é verdadeiro, ou seja, esposas que querem levar uma vida de solteiras e serem liberais, mas querem manter o marido, normalmente porque são bons provedores ou mesmo porque lhes garantem uma posição social que sós temem perder.
Sociedades que são mantidas apenas porque uma das partes, ou mesmo ambas, não se dispõem a dividir o patrimônio e, como conseqüência, o desentendimento constante de gestão e a conseqüente quebra do negócio, indo à perda total. Sim, normalmente quando alguém não quer abrir mão de algo em um rompimento, seja de negócios, seja afetivo, lá na frente acabará ficando com muito, mas muito menos do que ficaria se tivesse buscado uma solução no momento do problema.
Há poucos dias, recebi o telefonema da pessoa citada acima. Estava morando no emprego e sozinha. Seu companheiro a trocou por outra pessoa há alguns anos e a expulsou do “barraco”, como ela mesma chamou sua antiga casa. Saiu sem nada, após ter sido forçada a se submeter a inúmeras situações de humilhação e maus tratos. Disse-me ter percebido tarde demais tudo o que havíamos conversado em nossos encontros. “E o pior”, ela completou: “hoje estou acabada, física e emocionalmente, sem forças para recomeçar minha vida”. No apego a poucos bens que ela poderia ter reconstruído, ela deixou passar suas oportunidades de viver diferentemente.
Reconhecer o que realmente nos é importante exige uma análise apurada de todo nosso contexto, mas principalmente, humildade e desprendimento para sabermos “sair de dentro de uma canoa furada”. Insistir em não abandonar o barco, porque o outro ficará nele, é afundar junto.
“Vidas infelizes em nome de não dar o braço a torcer”. “Eu me prejudico, mas não dou esse gostinho a ele(a)” é a chave para uma grande derrota: desperdiçar a própria vida!
Texto revisado
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