SEXO, O RIO DA VIDA
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Autor Oliveira Fidelis Filho
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 13/08/2010 20:39:35
Diferente das demais espécies, para as quais o sexo acontece com simplicidade e naturalidade, no homo sapiens o sexo encontra-se, há muito tempo, esvaziado de tal leveza.
Longe de mim, no entanto, pretender abordar satisfatoriamente a sexualidade humana, com o cuidado que merece, neste minúsculo artigo. Para os que desejam mergulhar mais profundamente nestas águas, sugiro a leitura de Pensadores, Educadores, Psicanalistas, tais como Michel Foucault, Willem Reich, Sigmund Freud, só para citar alguns dos que mais gosto sobre o assunto.
Em muitos aspectos o sexo assemelha-se a um rio. Flui continuamente dentro do leito da humanidade, alternando calmarias e precipitações violentas.
Ambos, o sexo e os rios, são doadores e perpetuadores da vida. A vida morre sem os rios e a vida precisa, ainda, do sexo para não se extinguir.
Semelhante aos rios o sexo, além de gerar vida, é abundante fonte de encantamento, de alegria, de prazer de relaxamento e, claro, oferece perigos também.
Rios e sexo acompanham o homem em todas as fazes da vida, precedendo o nascimento e continuando a existir após partirmos. Constituem curiosidade para as crianças, alegrias e aventuras para adolescentes e jovens, questionamentos para adultos, e doces lembranças para os velhinhos.
Tal como os rios, o sexo é partilhado por praticamente todas as formas de vida; entretanto, só o homem os corrompe e possui a insensatez de viver em desarmonia com eles.
De todas as expressões de vida que emanam da Mãe Terra, o homem é o único responsável pela poluição dos rios, sendo igualmente o único responsável pela poluição do sexo. Ambos perderam a respectiva pureza, beleza, leveza, transparência, magia e encanto, graças às ações depreciadoras imputadas pelo homem.
Jogamos nos rios nossos dejetos, o lixo de nossas casas e indústrias, e assim os enfeamos; semelhantemente, despejamos no sexo nossas crenças, frustrações, inseguranças e maldades, roubando-lhe a magia.
Similar aos rios, o sexo é muitas vezes utilizado de forma irracional, gananciosa e insustentável. Nem sempre amamos os rios ou o sexo; amamos o que podemos lucrar com o uso imediatista, descartável e inconseqüente.
Tal como os rios, o sexo tem seus ciclos naturais - cheias e vazantes - entretanto, em ambos o homem intervém no afã de satisfazer seus desejos desenfreados.
São inúmeros os rios envenenados, que causam repugnância, que cheiram maus frutos da ganância humana. Destes, muitas pessoas ainda retiram seu sustento, não pela pesca, mas coletando lixo que neles flutuam. À semelhança dos rios que serpenteiam sobre a Terra, o sexo recebe também quantidade enorme de lixo, proveniente de pensamentos, sentimentos e atos. E não são poucos os que retiram seu sustento, ou até mesmo acumulam fortunas provenientes do lixo que o homem leva o sexo a incorporar.
Poucos, se é que ainda existem, são os rios que nascem e desaguam no mar livres da poluição. Também são poucos, se é que existem tais felizardos, os que nascem, crescem, amadurecem e deságuam no Criador, sem que seus pensamentos ou sentimentos relacionados ao sexo sejam contaminados.
Assim como o rio, o sexo também pode ser represado, o que pode resultar em benefícios ou prejuízos.
Muitos pré-adolescentes e adolescentes, jovens, e até mesmo adultos, amargam as angústias geradas pela incongruência criada pela religião, em função do juízo de valor negativo que suas crenças atribuíram ao sexo.
Como filho de um lar cristão, de família presbiteriana, cresci envolvido em uma luta pessoal insana entre sexo e religiosidade. Para os meus líderes religiosos - todos sem exceção - masturbar era pecado.
Dotado de uma energia sexual vigorosa, era para mim impossível ficar sem me masturbar, ainda que vivesse no campo, envolvido com trabalho fisicamente pesado. O resultado era o sentimento de culpa, de vergonha, de medo e de profunda tristeza, pois amava - e ainda amo - o meu Deus e a prática da masturbação era inaceitável.
Diziam que para vencer a tentação da masturbação eu deveria orar mais, ler mais a Bíblia, ir mais à igreja, o que eu me esforçava em fazer.
O que não diziam - possivelmente porque não sabiam - é que a energia espiritual e a sexual tem a mesma fonte. Portanto, quanto mais me dedicava aos exercícios religiosos, mais alimentava a "pulsão de vida" e mais forte tornava-se o desejo sexual. Conseqüentemente, mais sujo me percebia, mais indigno, mais culpado, mas desesperado.
A masturbação, entre tantos outros aspectos positivos para o adolescente, é o meio através do qual o excedente do rio de energia vital existente extravasa. Deve, entretanto, ser entendido como um valioso tesouro - mesada de Deus - a ser administrado com sabedoria. Motivo de gratidão, de alegria, de prazer e não de tristeza, de culpa, vergonha ou maldição.
A Pulsão de Vida, a Energia Sagrada capaz, também, de desaguar na expressão sexual, à semelhança dos rios, pode sim ser represada - não reprimida - para ser transmutada e sublimada para o exercício da espiritualidade, para a expressão da arte, para a atividade esportiva, entre outras. Deve, entretanto, ser conscientemente administrada, evitando assim o sentimento de esvaziamento físico e psíquico. É da sensação de esvaziamento, causado pelo excesso e desperdiço que pode surgir o desconfortável sentimento de culpa.
Entretanto, por mais que o adolescente reserve esta energia para manter-se mais atraente, ousado, iluminado, carismático e mais apto para as atividades esportivas, artísticas, intelectuais, sociais e espirituais, sobrará ainda energia para ser eliminada com prazer, aceitação e gratidão também pela masturbação.
E quando a masturbação é usada, como última instância para liberar a energia que ainda continua "bombando" e por vezes incomodando, não restará qualquer sentimento de culpa, vergonha, medo ou condenação. Nesta dimensão, consciente de ter usado da melhor maneira possível a energia sagrada, mergulhe alegremente no cristalino rio da energia sexual e sinta-se agradavelmente acolhido, amado e lavado.
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Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |