Sobre a Verdade - Satya
Atualizado dia 11/14/2012 11:24:42 AM em Espiritualidadepor Amigos da Teosofia
-- A Paz Interior Surge do Conhecimento Verdadeiro --
Autor :: Mahatma Gandhi ::
O lema do movimento teosófico é "Não há religião superior à Verdade". A ideia central da filosofia de Mahatma Gandhi, como se verá pelo texto a seguir, é a mesma. O fato não é casual, porque Mahatma Gandhi descobriu a riqueza cultural do seu próprio país graças ao movimento teosófico, conforme ele narra no capítulo 20 (Parte I) da sua Autobiografia. É verdade que os teosofistas não acreditam em qualquer tipo de deus monoteísta, enquanto Gandhi, falando para milhões de pessoas humildes na primeira metade do século 20, usava a palavra "Deus". Porém, para Gandhi a divindade não é alguém que manipula artificialmente o cosmo e os seres humanos. Segundo ele, "Deus" é apenas a verdade universal, e isso é aceitável para a filosofia esotérica. A seguir, reproduzimos fragmentos do livro de Gandhi intitulado "Cartas ao Ashram" (Editora Hemus, São Paulo, 125 pp.)
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Abordarei primeiramente a Verdade, pela razão mesma de ser do Ashram Satyagraha [1], que é procurar a Verdade e esforçar-se para colocá-la em prática.
A palavra Satya (Verdade) vem de Sat, que significa ser. Na realidade, não existe nada a não ser a Verdade. É por isso que Satya ou Verdade talvez seja o nome mais importante para Deus. Com efeito, dizer que a Verdade é Deus é mais certo que dizer que Deus é a Verdade. Muitos não imaginam nada além de um soberano ou de um general; os nomes de Deus como Rei dos reis ou Todo-Poderoso são de uso corrente e permanecem entre nós. Se, no entanto, refletimos um pouco mais profundamente, vemos que Sat ou Satya é, para designar Deus, o nome mais exato e que possui um sentido mais completo.
Onde está a Verdade está, também, o conhecimento que é verdadeiro. Onde não está a verdade não podemos encontrar o conhecimento verdadeiro. É por isso que associamos a palavra chit, conhecimento, àquela de Deus. E onde se encontra o conhecimento verdadeiro há sempre a felicidade (ananda) [2], e não há lugar para a dor. A verdade sendo eterna, também a felicidade que dela deriva o é. É por isso que conhecemos Deus sob o nome de Sat-Chit-Ananda. É o que reúne em si a Verdade, o Conhecimento e a Felicidade.
Somente a devoção a esta Verdade justifica a nossa existência. A Verdade deve ser o centro de toda nossa atividade. Ela deve ser o sopro da nossa vida. Quando o peregrino chega a esta etapa do caminho que percorreu, ele descobre sem nenhum esforço as outras regras da vida e a elas se amolda instintivamente. Mas sem Verdade será impossível observar na existência algum princípio ou alguma regra.
Crê-se, de forma geral, que para seguir a lei da Verdade é suficiente dizer a verdade. Em nosso ashram devemos dar à palavra satya, verdade, uma significação mais profunda. A Verdade deve manifestar-se em nossos pensamentos, em nossas palavras e em nossas ações. Para aquele que realizar a Verdade em toda a sua plenitude nada mais resta a aprender, pois todo o conhecimento está necessariamente ligado à Verdade. O que não estiver neste campo não é Verdade e, consequentemente, não é conhecimento verdadeiro. Ora, não podemos ter paz interior sem o conhecimento verdadeiro. Uma vez que apliquemos tal critério infalível da Verdade, poderemos discernir, imediatamente, o que vale a pena ser feito, ou ser visto, ou lido. Mas como realizar esta Verdade, que lembra um pouco a pedra filosofal ou a vaca inesgotável? [3] Chega-se, diz a obra Bhagavad Gita, a uma devoção na qual se consagra tudo ao espírito [4], e se vê com indiferença todos os outros interesses que a vida pode oferecer. Entretanto, apesar de toda esta devoção, o que parece verdade a um parece frequentemente um erro a outro. Que isso não perturbe a procura. Se fizermos um esforço sincero, poderemos perceber que as verdades diferentes na aparência são inúmeras folhas que parecem diferentes, mas que são de uma mesma árvore. [5]
NOTAS:
[1] Ashram: local de retiro em comunidade, comunidade dedicada ao caminho místico. (Nota do editor de "O Teosofista")
[2] Felicidade. No livro em português temos "alegria", mas a palavra "felicidade" é mais indicada para traduzir "Ananda". O termo também equivale a bem-aventurança. (Nota do Editor de "O Teosofista")
[3] Kamdhenu era uma vaca mitológica que pertencia a um sábio chamado Vasinshtha. Tudo o que se perguntasse a ela, uma resposta era dada. A expressão entrou já na língua corrente de toda a Índia. (Nota da edição brasileira de "Cartas ao Ashram")
[4] Abhyasa. (Nota da edição brasileira de "Cartas ao Ashram")
[5] O texto acima é reproduzido das páginas 25 a 27 de "Cartas ao Ashram" (Ed. Hemus). Antes de ser publicado como texto independente no website https://www.filosofiaesoterica.com/ , ele foi divulgado na edição de janeiro de 2011 do boletim eletrônico "O Teosofista".
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Publicado originalmente em https://filosofiaesoterica.com/ler.php?id=1140
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