Uma vida fugindo do sofrimento: até conseguir olhá-lo!
Atualizado dia 08/04/2014 10:54:01 em Espiritualidadepor Alex Possato
Entrei em contato com muitas verdades, que buscam apresentar ângulos diferentes da razão do sofrer. A igreja católica me apresentou o mito do pecado original. Neguei muito esta ideia, mas hoje entendo e percebo em mim: algo em nós se vê separado do Criador e, assim, longe do mérito de usufruir uma vida boa, com qualidade, abundância, prosperidade e amor: sim, de alguma forma, desobedeci meu Pai, e tive que viver longe do paraíso.
O Espiritismo kardecista me trouxe a primeira visão sobre carma e vidas passadas: atos que fiz em outros tempos, provocam reações no “aqui e agora”. Atos bons, provocam boas reações. Atos prejudiciais, provocam dor e sofrer. Embora na prática, nos anos 90 eu acreditasse piamente em reencarnação e carma, só comecei a levar mais a sério quando passei por um processo de regressão, onde ficou claro que o casamento que eu acabara de entrar era um acerto entre nós. Não quis acreditar, mas após 17 anos, finalizado num divórcio amigável, ficou óbvio que não era uma união física para durar até o final dos tempos.
Porém, a visão espírita daquele tempo, e dos lugares que frequentei, sempre me pareceu muito fatalista, focada no sofrimento, uma espécie de punição a tantos e tantos erros, que eu não reconhecia em mim. E continuei a busca.
Dentro da Seicho-no-ie, descobri uma outra verdade: somos filhos de Deus, perfeitos. Tudo o mais é distorção, que adquirimos através da visão de um mundo horizontal, focado nos sentidos, e desligados da nossa conexão vertical, a linha direta que nos conecta ao Pai, que também somos. Aprendi sobre o poder de criação da palavra e do pensamento, e avancei um pouco: apesar de tantos carmas difíceis, apesar de parte de nós acreditarmos estar separado do criador, o poder da palavra correta e do pensamento correto pode mudar muitas coisas na vida.
Neste momento da minha vida, muitos outros estudos tinham sido visitados pela minha curiosidade e busca. Hinduísmo, teosofia, Steiner, budismo… Minha caixola estava cheia, mas eu ainda me sentia vazio e infeliz. O casamento não estava bom, minha vida profissional não dava prazer, a vida financeira não fluia, e isso me deixava muito chateado. Continuei.
Percebi que muitos amigos, praticantes e dirigentes espirituais, apesar de muito conhecimento e práticas, também não estavam bem. Tinham um discurso diferente do que a vida manifestava. Assim como eu… e isso me incomodou. Comecei a entender que existe um lado emocional que precisa ser trabalhado. Existem traumas, bloqueios, medos, raivas, uma infinidade de emoções que estão inconscientes, influenciando toda a nossa vida, e por mais que tenhamos conhecimento e práticas espirituais, os traumas emocionais funcionam como âncoras, impedindo nossa alma de voar, nossa vida de fluir, nossa mente de ficar em paz prolongada.
Investiguei a sério as terapias. Fiz algumas. E tive o presente do universo de me conectar com a constelação familiar sistêmica. Primeiro como cliente, depois como assistente de uma terapeuta (minha ex-esposa!) e enfim, como facilitador. Uma outra verdade que a constelação me trouxe, é que herdamos uma programação dos nossos pais, avós e antepassados, que influenciam nas nossas relações afetivas, na vida financeira, na auto-estima, na vulnerabilidade em relação a doenças, nos dons e talentos. Repetimos padrões que já foram vivenciados por gerações anteriores. E podemos nos desligar desses padrões.
Nesse tempo, a energia do sofrimento já começava a sossegar. Ainda fiz algumas buscas: candomblé, santo daime, xamanismo… até me iniciar em uma linha espiritual. E acalmar. Neste último estágio, minha mediunidade surgiu. Até então, estava encoberta por muita intelectualidade, neuras e traumas. O poder da ayahuasca me influenciou muito, e através da sensibilidade, comecei a perceber as energias que estão em nossa volta. Comecei a sentir as entidades, ter intuição, premonição, visão ampliada… tudo isso me espantava muito, mas olhando para tudo o que vivi, entendi que foi o processo de aprendizagem.
Passo a passo, parece que havia uma programação, guiando-me pela senda do autoconhecimento, espiritualidade e cura emocional.
Em paz até com o sofrer…
Posso dizer que, durante quarenta anos da minha vida, eu era uma mente intelectual, desconectada da mente emocional, em busca de uma salvação espiritual. Apesar de muito conhecimento, não conseguia me livrar do sofrimento, porque não conseguia acessar minhas emoções e sensações. Embora soubesse tudo o que aconteceu na minha infância, não penetrava nos sentimentos mais escondidos da mente inconsciente. E estas emoções atraíam mais situações onde eu sofria, sofria, sofria… A cura do sofrimento parece que requer entendimento, vivência emocional e desapego. Desapego eu entendo como desidentificação com o “eu sofredor”. Necessita “pular o muro” que separa nossa vida ilusória do jardim do éden… O paraíso está dentro de nós. E somos filhos de Deus perfeitos. É necessário querer voltar à casa do Pai. E isso só acontecerá quando soubermos, mentalmente, que somos filhos Dele, sentirmos lá no profundo das nossas células que somos merecedores de uma vida paradisíaca e pudermos permanecer vigilantes, nesse estado. Aí, pasme: o paraíso não importará mais! Por não fugir mais do sofrimento, não necessitamos correr atrás das coisas boas.
Pode parecer incoerente, mas mesmo sentindo, em alguns momentos, neste estado tão equânime, o sofrimento pode bater à sua porta. Mas ele não “gruda” mais. Percebemos ele como mais um elemento, e não nos apegamos. Ele passa. Ficamos em paz até com o sofrer. Antes eu achava que somente os seres iluminados conseguiam viver esta experiência. Hoje sei que seres humanos “normais”, com vícios, defeitos e virtudes como qualquer um, podem acessar este estado. Talvez os iluminados não saiam mais deste estado, mas acessar, com uma busca sincera e dedicação, isso qualquer um alcançará. E só esta conexão fará uma total diferença na vida. Você viverá muito melhor.
Texto revisado
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Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |