Vigiar
Atualizado dia 26/04/2011 17:28:09 em Espiritualidadepor Ana Person
Passei a praticar a meditação, na tentativa de aprender a controlar minha mente, esvaziá-la e livrar-me de certas manifestações. Isso me levou à leitura inevitável de livros e artigos sobre iluminação. Um deles falava sobre a diferença entre os iluminados e os seres "ordinários", enfatizando que os primeiros estão conscientes e os demais dormem.
Passei dias matutando o que isso significava e fui um pouco mais fundo na tentativa de que lá na frente o que estava atrás passasse a fazer sentido, o que de certa forma aconteceu. Osho escreveu em Consciência que os que dormem têm um mundo particular, enquanto os despertos têm um mundo em comum. A vontade de fazer parte desse mundo em comum calou fundo em minha alma, embora eu não encontrasse qualquer janela pela qual passar e chegar a esse encontro.
O que ele quer dizer com mundos particulares? Ora, eu vivo no mundo, o mundo que conheço, o que me foi apresentado, e nesse mundo existe muito mais coisas que apenas eu, pessoas e circunstâncias que não estão sob meu controle ou sob minha vontade. Como posso estar vivendonum mundo apenas meu? E, ainda, como posso não ser consciente e porque os iluminados insistem em enfatizar a diferença entre a mente e a consciência?
Talvez esses conceitos façam melhor sentido a vocês que a mim, pois eu não conseguia encontrar caminho para essa compreensão. Passei, então, a refletir sobre outro aspecto: a mente só pode viver em dois lugares, no passado ou no futuro. Disso advém a famigerada tagarelice mental que procuramos incessantemente calar através da prática da meditação.
Ingenuamente eu acreditava que a busca que precisava empreender quando buscava o tal estado de não mente era o da inconsciência. Sim, por falta de instrução e pela deficiência em absorver coisas que para mim são tão novas e algumas vezes até extraordinárias, pensava tratar-se de um estado em que eu simplesmente pudesse não me dar conta de nada. Isso assusta e torna a prática da meditação um tanto vaga e perturbadora, pois no momento em que você começa a calar a sua mente, de alguma forma que eu não saberia explicar, advém uma sensação arrebatadora de que a existência, tal como conhecemos, pode desaparecer na próxima inspiração, o que leva a mente a reassumir o controle.
Espero que alguém além de mim entenda isso e possa compartilhar comigo uma experiência semelhante. O medo, contudo, não me paralisou e prossegui com a investigação, atentando-me especialmente à distinção entre os mundos particulares e o mundo compartilhadoe creio que uma luz se manifestou em mim. Quando utilizamos a mente para nos mover pela vida, assumimos uma tarefa imprópria, a de criar situações e desfechos que favorecem apenas a nós mesmos.
Ao rever uma situação do passado, como o fim de um relacionamento ou uma discussão, quem nunca caiu na armadilha de rearranjar os diálogos de forma a extrair disso uma sensação de prazer e vitória? Ou diante de um problema aparentemente sem solução, quem nunca se pegou imaginando um desfecho miraculoso onde o resultado fosse um triunfo incontestável de si? Pois bem, a divindade não opera a partir de um ponto de vista ou de uma necessidade única, ele opera no plano da consciência geral, onde todos e cada um são considerados. Já quando nos sentimos impelidos a utilizar os recursos da mente, estamos fragmentando a totalidade, criando situações favoráveis em detrimento de todos os demais, que são parte do plano divino tanto quanto nós.
Vigiar nossos pensamentos, nesse sentido, não é apenas uma forma de calar a tagarelice mental a fim de alcançar objetivos, mas um meio de ajudar o plano espiritual a conduzir os acontecimentos de forma que todos, absolutamente todos, saiam ganhando. Olhamos para o mundo e vemos a desgraça e a miséria que o assola e alguns chegam a pensar: onde está Deus que vê tudo isso e não age? Pois eu pergunto a você: onde está o Deus que há em você? Sua mente está nesse momento criando situações para a sua própria satisfação ou sua consciência está presente, vigilante, esperando pelo momento de agir em favor do bem comum?
O caminho é árduo, mas estou tentando. Quando percebo que estou navegando pelo tempo, volto a mim sem culpa e sem ressentimentos, vigio e continuo tentando. Convido vocês a fazer o mesmo e quem sabe, assim, em breve estaremos compartilhando o mundo com que sonham nossas almas? Texto revisado
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