Vidência
Atualizado dia 07/01/2016 13:31:32 em Oráculospor Antony Valentim
Aliás, é importante destacar que Deus sempre quer o nosso melhor. Se agimos consoante à essa realidade e nos tornamos um exemplo vivo de suas recomendações, todos os acontecimentos vindouros serão para nosso benefício, ainda que não enxerguemos isso. Essa é uma dinâmica interessante do Pai. Pensamos que o que temos hoje será o melhor que teremos na vida, quando em inúmeros casos, somos convidados a abrir mão de algo hoje para que algo melhor surja. É, sobretudo, a recompensa pelo desapego. Mas sim, Deus pode modificar qualquer coisa em nossas vidas e nos conceder o desejo de nosso coração se mantivermos com Ele uma relação de absoluta sintonia.
Ocorre, porém, que nos dias de hoje, é raro encontrarmos esse tipo de conexão com o Eterno, logo, a esmagadora maioria de nós tem diante de si um futuro que em alguns aspectos é determinado (como por exemplo o fato de ter nascido com algum tipo de deficiência, com extremada beleza, com magnânimas fortunas etc.), e em outros é passível de total modificação em função de nossas escolhas. Logo, a vidência é o método capaz de nos dar uma fotografia de uma tendência do futuro (às vezes com uma precisão inacreditável) que se figura como alerta ou estímulo ao novo. Não se trata de uma declaração de fracasso imutável, nem de uma vitória sem necessidade de esforço.
A vidência existe e isso é um fato inegável. Não só no espiritualismo, ocultismo, misticismo, terapias holísticas ou no próprio Espiritismo que leva à fama de emitir previsões, mas da mesma forma é um fato inegável na igreja evangélica quando alguém tem uma “revelação”, na igreja católica quando um padre tem uma “visão divina”, no próprio ateísmo com premonições, para alguns em sonhos, para outros como “uma voz invisível” e assim por diante. A vidência é uma realidade mediúnica que não depende de religiões e pode se caracterizar como uma minúscula faísca do que Deus já sabe que vai – ou que pode acontecer.
Cada escolha leva a um caminho que tem seus próprios desdobramentos e sub-caminhos, e mil futuros estão à nossa frente. O que os “videntes” captam é qual tendência de futuro está mais próxima de nós, de acordo com o que nós –ou os outros– pensamos, sentimos e queremos.
E como a vidência vem sendo associada ao Espiritismo na maioria das vezes – mesmo que não seja exclusividade do Espiritismo – se recorrermos à origem do espiritismo, em o Livro dos Médiuns, Kardec faz vários comentários a respeito do conhecimento do futuro dizendo que ele acontece através de uma intuição muito vaga daquilo que pode acontecer, e isso se dá através dos médiuns de pressentimento. Mas, conforme Kardec, no Livro dos Médiuns, o homem não deve saber de tudo o que está por vir, pois se Deus assim permitisse, o homem não trabalharia em prol de sua evolução e progresso, pois, a saber o que estaria por acontecer iria negligenciar o seu presente. Sendo o futuro algo de bom, permaneceria inerte esperando sua realização, sendo algo desagradável cairia num estado de tristeza e melancolia. Já Joana de Angelis que “A paranormalidade é inevitavelmente o novo passo a conquistar, e que futuramente estes fenômenos serão algo de normal em nossas vidas (...) O espírito possui valiosos recursos que se expressam através de seu psiquismo, podendo irradiar o pensamento, produzindo fenômenos consciente ou inconscientemente, de pré e retrocognição. (Previsão do Futuro e Regressão de memória, respectivamente).
Vamos imaginar que alguém esteja passando por uma situação complexa, uma dificuldade sem aparente solução, um momento aterrador ou uma circunstância que a aprisiona à melancolia, depressão, ou até mesmo à conduz para ideias de suicídio. O que fazer? Jesus, esse Ser Único, para variar, também incluiu em seu manual de conduta chamado “Evangelho” o melhor remédio para lidar com as más circunstâncias: “Não andeis pois, ansiosos pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã a si mesmo trará seu cuidado”. Notemos que não se trata de uma recomendação para deixarmos os problemas para lá, mas sim, para nos curarmos de nossa ansiedade.
Mas como nem sempre conseguimos conter a ansiedade por nós mesmos, e existem momentos em que as preocupações extrapolam a razoabilidade, a vidência é permitida, seja em centros espíritas, em igrejas católicas, em templos evangélicos, em consultórios de terapias holísticas, enfim, como recurso para auxiliar quem não consegue dar conta da incógnita sobre o futuro. E o objetivo é – ou deveria ser – o de ajudar pessoas a encontrarem paz.
Mas neste ponto, infelizmente a “vidência” encontra uma bifurcação.
Mal utilizada, torna-se corrompida pelo desejo. Mero instrumento de satisfação da curiosidade ou vazão do orgulho ferido, torna-se pior quando vem carreada pela vontade doentia de mudar o futuro previsto principalmente quando esse futuro envolve outra pessoa. É o que acontece quando um amor não correspondido se transforma na obsessão em “fazer um trabalho para mudar a vontade do outro”; ou quando na eminência da perda de um emprego um vidente sugere uma “magia para mudar a cabeça do chefe”; ou quando numa questão de saúde alguém diz que “se fizer essa ou aquela oferenda para este ou aquele espírito a pessoa fica curada”. Nesses casos, videntes se aproveitam do desespero das pessoas e dão caminhos para tentar mudar o futuro ou a vontade das pessoas, e o pior: cobram fortunas para isso. Às vezes, as fórmulas até ajudam de forma imediata, mas invariavelmente cobram um preço de devastação sem precedentes no futuro. Mudar a vontade dos outros forçosamente é uma violência à maior de todas as dádivas que o próprio Deus concedeu ao ser humano: o livre arbítrio. Você pode tentar mudar a vontade do outro através de um diálogo, de uma boa conversa, de uma atitude saudável, e principalmente através da mudança de si mesmo, e nenhum mal há nisso. Mas se um vidente lhe orienta a uma magia ou trabalho para “forçar” alguém a alguma coisa, você está pedindo empréstimo para a morte. Não a morte física, o fim do corpo, mas sim a morte em vida. Se a vítima não for protegida por uma vida moral correta, a primeira coisa que você causará nela ao agir dessa forma é uma profunda melancolia, a sensação de estar atendendo aos seus desejos com obrigação, sem vontade espontânea, como um zumbi guiado por algo efêmero. Eis aí uma atitude morta. Mas o pior vem depois: todo o sofrimento, toda a dor, toda a opressão que essa pessoa sentir em função de algo encomendado por você para mudar a vontade dela, voltará pra você. Não há erros nessa lei, e a única variável é o tempo.
Bem utilizada – como é a proposta da vidência em igrejas e congregações de diversas religiões, bem como no trabalho sério de tarólogos ou até mesmo na vidência vinculada ao Espiritismo e espiritualismo – a vidência (independente do método) orienta, ajuda a tomar decisões, auxilia a compreender quais questões foram encerradas, que estradas serão mais férteis, orientando ao máximo a realizarmos atos de proteção, de limpeza, de retirada das pedras do caminho, de evitar más escolhas, de nos prepararmos para o porvir com segurança e equilíbrio; mas jamais de mudança do destino de alguém. Só nós podemos mudar o nosso destino e o método mais eficaz é a conduta irrepreensível associada a um profundo relacionamento com Deus. A vidência bem aplicada pode sim salvar, libertar, acolher, proteger, harmonizar ou mudar toda uma situação negativa. E insisto: a vidência é algo divino. Deus não condena a previsão do futuro quando a utilizamos para fins produtivos e edificantes. Na própria Bíblia, José do Egito interpretou o sonho do Faraó como sendo uma previsão de que viriam sobre o Egito sete anos de abundância, seguidos por mais sete de seca e fome. O Faraó, satisfeito com a interpretação dada ao seu sonho, dá a José um anel de seu dedo, o faz vestir vestes de linho fino, põe um colar de ouro no seu pescoço e o constitui sobre toda a terra do Egito. José, então, ordena que se construam celeiros para guardar a produção do Egito durante os anos de fartura. Este é apenas um dos muitos casos bíblicos onde a vidência se fez presente, e útil! Podemos dizer que José era um vidente e usou sua vidência de forma tão primorosa, que de escravo e prisioneiro, tornou-se o homem mais importante do Egito, abaixo apenas do faraó. A vidência salutar é muito diferente daquela aliada à feitiçarias, macumbarias ou magias – meras provas de que a individualidade confia mais em rituais do que na própria força do Pai, soberano em todas as coisas. A vidência salutar passa longe das mesquinharias humanas e é capaz de evitar os desastrosos caminhos que nossa alma pode escolher nos momentos das mais difíceis ansiedades.
Se for recorrer a uma vidência, procure profissionais sérios, ou instituições moralmente comprometidas com o bem, a paz e o bem-estar do ser humano. Observe contudo, que independente do futuro, se colocarmos Deus em nosso presente não apenas em atos e palavras exteriores, mas em atitudes e comportamentos consoantes à Sua Justiça, tudo o mais nos será acrescentado.
Texto revisado
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Antony Valentim é um ser comum, sem privilégios ou destaques que o diferenciem das demais pessoas. Devorador de livros, admirador de culturas religiosas sem preconceitos, e eterno aprendiz do Cristo. Mestre de nada, sábio de coisa alguma. Alguém como você, que chora, sorri, busca, luta, exercita a fé e cultiva no peito a doce flor da esperança. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Oráculos clicando aqui. |