30 homens. Uma verdade.
Atualizado dia 26/05/2016 20:02:30 em Psicologiapor Andrea Pavlo
De vez em quando aparece uma notícia por aí que só dá vontade de sentar no chão, em posição fetal, e chorar. Esse foi o caso do chocante caso da garota de 17 anos que passou por um estupro coletivo, com 30 homens, tendo tudo fotografado e postado na internet, como se não fosse nada. E piorou depois dos comentários estúpidos, para dizer o mínimo, de meia dúzia de machistas inveterados que acham “legal” esse tipo de coisa.
O que dizer? O que dizer para esse pai e essa mãe? O que dizer para cada amigo de cada garota que é estuprada todos os dias no Brasil e no mundo? Eu assisto o seriado “Game of Trones”, sobre as guerras no período medieval. É interessante, porque acontecem massacres horríveis. Muito sangue, muitas lutas e muitos estupros. A palavra é usada meia dúzia de vezes em cada episódio e todos as mulheres são usadas como espólios de guerra. Estuprar é algo “que se faz”.
E piora, quando ouvimos que a culpa é dela. Que ela usou roupas provocantes. Que ela que se jogou para um menino. Ela quis, ela provocou aquilo. É no mínimo chocante. De novo, me faltam palavras para definir essas coisas. Como colocar uma filha no mundo para, um dia, ver uma coisa destas acontecer com ela? Com a sua garotinha? Sua bebê? O problema é que isso acontece. E muito. Dentro das casas, dentro dos condomínios cheios de “coxinhas”. Não falamos só da periferia das grandes cidades. Nas guerras, na pobreza, nos lixos espalhados pelo mundo. Ou aí, na esquina da sua casa chique. É tão comum que banalizou a ponto de ser usado, como um prêmio, nas redes sociais. A ponto de alguém postar um comentário tão, tão machista, que vai ser processado também.
A mulher ainda não é dona da própria sexualidade. Sim, nós estamos lutando para isso. Mas tente fazer e atender todas as suas vontades na cama, com um homem que você não conhece muito bem, para ver os apelidos lindos que ele te dá. E pode até ser um cara legal, estudado e tudo. Os rótulos permeiam a nossa existência desde pequenas, crianças. Meninas não podem uma série de coisas. Não podem provocar os meninos. Como se ter um falo fizesse mesmo deles os donos da verdade.
As mulheres se escondem. Escondem sua sexualidade e a disfarçam de “sensualidade”. Usam roupas decotadas, saias curtas, mas não tem ideia do que fazer com aquilo tudo. Usam as armas que foram ensinadas a usar, mas não exercem a sua sexualidade de forma plena. Cansei de atender mulheres que tem tanta vergonha do próprio corpo que simplesmente desistem de amar. Mulheres que nunca tiveram um orgasmo ou que casam virgens, por pressão social, depois do ano 2000. Mulheres que nunca pediram a um homem alguma coisa que as faça feliz na cama, com medo de serem tachadas de vagabundas. Mulheres que não fazem barulho, por mais que quisessem gemer e gritar, por vergonha do que estão sentindo. Os problemas sexuais e consequentemente ginecológicos abundam nos consultórios. Tente um horário com um bom ginecologista, mesmo pagando. São meses de espera. A saúde da mulher está sempre em segundo plano, por mais que o câncer de colo do útero e de mama mate tantas mulheres.
Ainda somos o segundo sexo, aquelas que vieram ajudar e fazer jus à tirania masculina. Ainda brigamos, todos os dias, a cada minuto, por menos cantadas em todos os lugares que paramos. A cada vez que um homem julga que pode falar publicamente, no meio da rua, de partes de nosso corpo e da nossa sexualidade. A cada vez que eles sentem um poder enorme porque uma mulher os deseja. A cada conversa de bar que cansamos de ouvir. A cada vez que um homem se sente, literalmente, ofendido porque você não quis dormir com ele.
Tudo isso, toda essa cultura deturpada e antiga, leva a atos como esse. Pequenos atos diários que passam a fazer um homem acreditar que ele tem algum poder sobre o nosso corpo. Que queremos aquilo, que fantasiamos aquilo e que nossas saias curtas são justamente para isso. Que fazer o que se deseja é errado, que precisamos nos “segurar” para demonstrar que somos uma boa moça, para namorar e casar. E quando não atendemos esse conto de fadas inventado pelo próprio demônio, somos renegadas.
Somos as bruxas, as feias, as encalhadas. Somos as esquisitas, as nerds, as estranhas. As que ninguém tirou no baile para dançar. As que são zoadas por serem gordas, feias, de óculos, vesgas, tortas ou fanhas. As que não fazem parte do imaginário sensacionalista e doentio de alguns homens. As que nunca estaria numa capa de Playboy.
Eu suspiro, enojada, envergonhada. Cada mulher sentiu esse estupro na própria alma. Cada mulher viu 30 homens abusarem de seu corpo drogado e desfalecido com esse caso. Lendo as palavras, lendo os ataques gratuitos de homens ignorantes e ferozes. Infelizes, despreparados para a vida, desrespeitosos. É triste, e hoje deveria sim ser decretado um luto nacional. O luto da nossa dignidade, do nosso amor próprio e da nossa verdade. Que cada mulher no mundo pense em tudo isso. Que cada homem reveja suas expectativas e pense duas vezes antes de falar qualquer coisa sobre uma mulher.
Nós somos muitas. Nós movemos a porcaria desse mundo. Sem o nosso útero não existe vida, não existe nada. Respeito agora!! Respeito já!!
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Psicoterapeuta, taróloga e numeróloga, comecei minhas explorações sobre espiritualidade e autoconhecimento aos 11 anos. Estudei psicologia, publicidade, artes, coaching e várias outras áreas que passam pelo desenvolvimento humano, usando várias técnicas para ajudar as mulheres a se amarem e alcançarem uma vida de deusa. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |